O lado desconhecido entre Brasil e Argentina

Aos hermanos, principalmente aqueles que sem conhecer amiúde a relação amistosa e cultural entre Brasil e Argentina, destila veneno ao dizer que odeia argentinos, recomendo-os fazerem uma pesquisa e assim, conhecer os muitos intercâmbios feitos entres os dois países em tempos idos.

Iniciando com a literatura, que além de adentrar os país confins dos paises, relatava as raízes, os costumes e os hábitos dos fronteiriços. O que havia naqueles rincões e planícies era enredo perfeito para quem buscava inspiração para dobrar a cabeça sobre a escrivaninha e deslizar a pena sobre a folha de papel em branco por horas e horas a fio.

Do lado de lá, destacava-se José Luís Borges e do lado de cá, difícil citar um, afinal foram tantos, mas fiquemos com a família Veríssimo; especialmente o pai da literatura familiar Riograndense, Érico Veríssimo e em apenas uma frase, nota-se o quanto o patriarca era voltado e conhecedor de suas raízes e fronteiras regionais: "Nossa América Latina é um território de prodígios, de maravilhas e misérias, de sustos e êxtases.”

Virando a página, deparamos com a arte musicada, na qual sem necessitar maiores pesquisas, conclui-se que é o capítulo máximo escrito entre brasileiros e argentinos. O nosso samba, o nosso puro samba, bailava bem por entre as pernas entrelaçadas do tango.

Por sua vez, a música popular e o Rock escreviam letras bem semelhantes, afinal, reação e protesto contra o sistemas políticos da época, pipocavam em toda América Latina; e uma vez que os dois países eram considerados mais desenvolvidos na questão cultural / política, a música os uniam contra a censura imposta pelos regimes políticos.

No rock, houve um "casamento perfeito" entre as bandas vindas do outro lado do Rio Prata, com as do Sudeste brasileiro. O movimento foi tão forte, que Crucis, Aquelarre e Pescado Rabioso participaram de festivais de rock, nos quais os integrantes das bandas "O Terço, Bacamarte, Terreno Baldio e muitas outras, recebiam-as sob aplausos e assovios.

Contudo, o caldeirão borbulhava, entrava em erupção, quando a música popular de Los hermanos encontrava-se frente a frente, nota a nota com a MPB reacionária brasileira. No vale tudo cultural, Caetano, Gil, Milton Nascimento e Chico Buarque, Elis Regina flertavam com os sons e ritmos do carrilhão puxado, principalmente, por Carlos Gardel e Mercedes Sosa, com seu vozeirão e sotaque espano/indígena, ao rugir alto e em bom tom:

"Gracias a la vida

Que me ha dado tanto

Me dio dos luceros

Que cuando los abro

Perfecto distingo..."

Ainda que fosse movimento ideológico, de um lado propunham revolução cultural / intelectual politizada, do outro, o futebol não era tratado como esporte, e sim como competição e rivalidade. Era ganhar ou ganhar: eis a expressão de ordem.

É inegável que os brasileiros eram superiores com a pelota nos pés, mas fracos e debilitados nas divididas, motivo dos hermanos levarem a melhor em quase todas. Valia tudo para que o placar mostrasse número favorável a Eles; pois, contra a seleção ou qualquer clube brasileiro, não entravam em campo para empatar...; e por pensarem e jogarem um futebol solidário, suado, aguerrido, na bola e na medalhinha, os times argentinos mandavam e desmandavam no futebol Sul-americano.

Contudo ao longo das muitas décadas, tanto brasileiros como argentinos tomaram ciência que o esporte poderia - como é - lavagem, enxurrada, inundação de dinheiro e o que era talento, arte com a bola nos pés, camisas molhadas, insatisfação, desenho geométrico sobre os gramados e voadoras ofuscando o brilho da jogada, deu lugar ao poderio econômico e o futebol estratégico e agudo, cuja finalidade era o arremate final à meta adversária, entrou decadência e pouco se vê nos gramados sul-americanos. Tem jogos que mais parecem peladas jogadas em campos cobertos por estrume de vaca e cupinzeiros; e se em gramados tidos como tapetes verdes, os endinheirados "pernas de madeira" jogam uma mísera bolinha, pior nas canchas ou pastos citados.

"Ganhar é sempre bom; ganhar da Argentina é melhor, ainda". - inflamando a massa bruta brasileira, essa era a máxima que Galvão Bueno berrava nas partidas em que a seleção Europeia Brasileira derrotava os gringos argentinos.

E após quase meio século passado dos anos de revolução cultural política e rivalidades no futebol, o que sobrou José? Aceito ou não pelos brasileiros, na questão desenvolvimento humano, a Argentina está 40 posições acima do Brasil; ou seja, segundo pesquisa da ONU, Los hermanos ocupam o 47 lugar e o Brasil 87. E na política, quem é o artista que governa, não para o negro, para o pobre, para o índio, não para essa ou àquela classe, mas para o país de modo geral, José?

Huuuum, fedeu! E uma vez que mais parecem entidades fantásticas, os dois estadistas: Milei do lado de lá e do lado de cá, o nosso ex-detento, Lula travam batalha insana para saber quem trabalha menos e fala mais tolices.

Destarte, quem sabe um saco de trigo para o argentino e um quilo de açúcar e algumas gramas de fermento e sal para o brasileiro, resolva o embate. Aí, o pão nosso de cada dia seja a luz para iluminar o pateta de lá e silenciar o peteta de cá; calar a"alma mais honesta do mundo", que em certa ocasião disse alto para o mundo ouvir, que tirou 40 milhões de brasileiros da linha pobreza. E na atual gestão, não tem compromisso, não tem que provar nada para o rico, mas sim para o pobre brasileiro.

Finalizo este, lembrando que o trigo já foi motivo de desavença e intriga entre os dois países; e ambos os países perderam, pois o trigo escasseou, o pão nosso de toda mesa está caríssimo e a fome, tanto lá, quanto cá, permanece corroendo as vísceras de argentinos e brasileiros.

Parafraseando o escritor brasileiro Ledo Ivo, "todo estadista é bom de falácia s, mas nem todo falacioso é bom estadista", aliás a maioria nem razoável é. Todavia, a culpa não é dEles, pois todos os estadistas escondem-se sob a sombra do voto democrático obrigatório.

Charango

Assim com o perfume das flores atraem os polinizadores para extrair os seus nectares, certos instrumentos são os aromas, as cores e a paisagem do lugar, do qual foi originado.

Eis que o charango e a flauta pan representam os Andes, com o animal símbolo, que é a lhama, desfilando sua docilidade e resistência nas escarpas e despenhadeiros montanhosos. Mais que isso, o charango e a flauta pan representam o andino raíz, filhos e irmãos de Pachamama.

P.S. Tocando a magia de seu povo no charango, no álbum Charangofilia, Lautaro Toscano expõe no YouTube sua obra, na qual reverência, musicalmente suas raízes através das poucas cordas do instrumento.

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 05/07/2024
Reeditado em 12/07/2024
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