Brasil: um território multifacetado

Rios, Luares, Taperas e Ser tão Brazuca

"Antes de tudo, o Nordestino é um forte". - Euclides da Cunha.

Respeitadas as emoções dispostas aos momentos e épocas, quando não conhecia-os, comprava e pagava caro por qualquer lamento sobre os costumes, valores e hábitos dos sertanejos, dos urbanos e catingueiros do NE e N; depois que os conheci in-loco, sou atormentado por pulgas atrás das orelhas e piolhos na cabeça. Nos cafundós dos semi-áridos, ainda impera o verdadeiro escambo do cabresto, que trocado em miúdos, é o toma-lá, dá-cá. Tudo é troca, tudo é barganha, tudo é corrupção. Lamentavelmente!

"O BraZil não conhece o Brasil". Mas qual Brasil não é conhecido pelo Brasil? O Brasil originado pelo Pau Brasil, ora; e uma coisa é o quadro que pintam e falam por aqui, e outra coisa, totalmente diferente, é a desértica paisagem que cobre as verdades, os cerrados, as construções, a caatinga, os planaltos, planícies e pampas nesse imenso território sem porteiras. Cada região com seus trajes, com seus hábitos e costumes, com seus valores e uma linguagem peculiar.

Contudo isso e mais um pouco, o país oferece muitas maneiras, miríade de maneiras de ser bom brasileiro, mas sordidamente, o brasileiro não faz uso de nenhuma delas. Prefere ser o que aprendeu lá atrás, ou seja: um alienado provinciano explorado; afinal, viemos da exploração e na exploração nos mantemos.

Mas, enfim, ainda que a nacionalidade brazuca não conheça amiúde o gigantismo cultural / patrimonial / regional do país, o Brasil com suas riquezas, seus recursos, diversidades e belezas, não se apequena; e isso basta para quem o conhece, ama e valoriza.

Em razão do exposto, não sou um Brasileiro conformado com as safadezas e de olhos fechados para os esquemas madrugais, mas de peito aberto, mochila nas costas, olhar no horizonte e mente serena, digo que sou Rios, Luares, Taperas e Sertões; e orgulho-me, imensamente, de ser nativo das terras do ouro roubado das ricas e benévolas terras de Minas Gerais.

Roubaram o ouro e no lugar, venderam e vendem os estrangeirismos, - raro encontrar uma camiseta escrita em português; muito menos, escrita em linguagem indígena - todavia não roubaram e jamais roubarão, o meu uai, sô; oxente, barbaridade tchê, ôô meu rei!! - a última expressão tem que ser lida devagar, bem devagar, quase parando, tal qual falado pelo sonolento soteropolitano, etc e tal.

Praia, samba, futebol, boteco, igreja e carnaval. Para o bem ou para o mal, Mata Atlântica desmatada, tudo resume em brasilidade incondicional.

Contudo, retorno pelo caminho, no qual cheguei à escrita deste tenebroso discurso: um país se constrói com viagens, olhos, conhecimento e homens zelosos; assim posto, vale finalizar com Guimarães Rosa, ao afirmar "que a vida..., o que a vida - o Brasil, também - quer d'agente é coragem".

Nobre mineiro, Guimarães, parabéns, fostes perfeição, tal como são as pétalas formando o botão de Rosa; por isso, fostes sensível e verdadeiro.

Rosa multicolorida de Joaquins, de Joanas, de Raimundos, de Josés, de Marias, de Guimarães, todos vocês são eternas relíquias brasileiras...; eternas relíquias do extinto cerrado brasileiro; com efeito, faltou - pelo visto continuará faltando - coragem ao brasileiro para manter o cultivo das boas espécies nativas, tanto no cerrado, como em qualquer outro bioma.

E o jardineiro que não desenvolve sensibilidade o suficiente para acariciar pétalas de flores, termina se lançando em um abismo de espinhos. Esse é o galardão por não saber a textura e suavidade do objeto que tem em mãos.

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 19/03/2024
Reeditado em 19/03/2024
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