CARA A CARA COM A VIOLÊNCIA

 

Até que ponto a Cultura, com a "estética 
da violência", contribui para o caos social?

 

   Crianças bombardeadas desde o berço por imagens, sons e compartamentos violentos. Cinema totalmente apoiado na escatologia - sangue jorrando, explosões pirotécnicas, tensão constante. Música exaltando a marginalidade ou os comportamentos sociais reprováveis, como a bebedeira e o preconceito, seja no funk, rap, samba, sertanejo, rock pesado, ou qualquer outro gênero.
   As citações podem ser infinitas sobre a presença da violência na produção cultural em todo o mundo. A situação é tão complexa que já se pode afirmar que a cultura é fruto do caos social, ou se contribui para o seu agravamento.
O dilema do "censurar ou não censurar", quase sempre, é jogado novamente nas mesas dos executivos da TV e das rádios... e não se faz nada. Mas, na verdade, é justo fazer alguma coisa a esse respeito?
   Não poucas vezes presenciei chamadas de filmes extremamente violentos, sensuais ou de terror em meio à programação infantil da TV. E olha que isto não é privilégio desta ou daquela emissora - todas simplesmente ignoram que é na infância que se forma a personalidade e se molda o caráter do ser humano. Até mesmo a própria programação infantil está recheada de violência gratuita, o que, aliás, não é coisa só dos dias de hoje (quem não assistiu aos super-violentos Tom&Jerry e Pica-pau, ou clássicos do humor como O Gordo e o Magro e Os Três Patetas, que fizeram a alegria da garotada por décadas?).
   Manter a vigilância sobre a programação, evitando que nossos filhos não tomem contato excessivo com a violência, é uma faca de dois gumes - pode mantê-los em uma redoma, fora da realidade, ou simplesmente dar tempo ao tempo, esperando que as já complicadas cabecinhas das crianças se formem, sem traumas e sustos.
   A censura, com certeza, não é o melhor caminho. Afinal, hoje se censura um programa violento, mas amanhã pode não haver mais critério, e a liberdade de expressão ir por água abaixo. No entanto, o que não pode faltar é o bom senso.
   É ele que deveria estabelecer o limite entre a selvageria e a civilização, se é que este limite existe ou já existiu em nossa História.

 

(Pode parecer atual, mas o artigo foi publicado, originalmente, no jornal O ITABORAHYENSE, caderno CULT, página 7, em 31/03/1995. Parece que certas coisas nunca mudam. E olha que meus filhos já estão todos adultos hoje - o caçula ainda nem tinha nascido nessa época. Tirei a palavra "cultura" do título, já que ela está explicada no subtítulo e em todo o texto)