A herança da escravidão no país que mais recebeu cativos no mundo
Segundo a Universidade de Emory dos EUA, saíram da África 12,5 milhões de escravizados. Desse total, cerca de 2,5 milhões morreram nos navios negreiros na travessia do Atlântico. Entre a captura e a chegada a tais embarcações morriam cerca de 40 a 45% dos cativos, ou seja, entre 400 e 450 de cada mil capturados.
Com isso, o Brasil foi o país que mais recebeu escravizados nas Américas, cerca de 5,8 milhões. Como segundo colocado, os EUA não receberam 10% do número de escravos, se comparado ao Brasil.
Como prova dessa realidade, o Porto do Valongo, no Rio de Janeiro, foi o que mais recebeu cativos no mundo, de acordo com os historiadores, onde afirmam que cerca de 1 milhão de cativos desembarcaram nele, entre 1811 e 1831.
De olho na atualidade, convém uma análise: mesmo com campanhas massivas para candidatos negros em partidos políticos, o número deles é de 17,8% no Congresso Nacional.
Se observarmos, não tem nenhum chefe das Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica) negro. Assim como, nenhuma mulher também.
Nenhum dos onze Ministros do STF é negro, atualmente. Joaquim Barbosa foi o único na história da Corte, desde sua criação pelo Decreto nº 848, de 11 de outubro de 1890. Da mesma forma, nenhum dos nove ministros do STJ é negro e de qualquer outro tribunal superior brasileiro, como TSE, TST, etc.
Indo mais a fundo, entre os 1626 deputados distritais, estaduais e federais e senadores eleitos em 2018, apenas 65 – menos de 4% do total – são negros. Se incluirmos os pardos o número sobe para 27%, ainda assim, proporcionalmente menos da metade da população brasileira total se encaixa nessas duas classificações (56%). Sem falar que, no Senado Federal, só três senadores se declaram negros, dentre 81.
Maior população carcerária brasileira, cerca de 83,8% são negros e pardos. Outra realidade é que um negro é assassinado, a cada 23 minutos, no Brasil.
Além disso, negros representam 75% dos mortos pela polícia no Brasil, conforme aponta relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
Outra verdade, um homem negro tem oito vezes mais chances de ser vítima de homicídio, no Brasil, do que um homem branco. São também maioria absoluta dos moradores de bairro sem infraestrutura básica, como luz, saneamento, segurança, saúde e educação.
Uma triste estatística, dos cerca de 200 mil doutores do Brasil os negros são 0,03%.
Na área da Educação, o analfabetismo é presente entre os maiores de 25 anos para 11,81% dos negros, contra 5,09% dos brancos. Quanto ao ensino superior, a população negra que o finaliza equivale a 8,43%; enquanto a branca, 21,28%.
No tocante ao mercado de trabalho, a taxa de desemprego, entre os negros, é de 13,9%; já, entre os brancos, é de 9,5%. Os negros, no Brasil, ganham em média R$1.570,00 por mês, enquanto a renda média entre os brancos é de R$ 2.814,00. Nas quinhentas maiores empresas que operam no Brasil, apenas 4,7% dos postos de direção e 6,3% dos cargos de gerência são ocupados por negros.
Em todos os índices de renda, moradia, educação, emprego, dentre outros, os negros são, extremamente, desfavorecidos em relação aos brancos, descendente de europeus.
Com esse panorama, creio que deu para entender que o assassinato do João Roberto por seguranças do Carrefour, o espancamento e morte de Moïse Kabagambe e o assassinato covarde por "engano" de Durval Teófilo são normais e corriqueiros, no Brasil, pois são parte da nossa herança escravista.