Meritocracia: a grande falácia

Meritocracia é a palavra da moda. É sempre dita por políticos de direita, por empresários, por capitalistas e até por pobres. Pois pobres e oprimidos dentro do mundo criado pela burguesia, pensam iguais aos seus opressores. Já dizia Marx: "A burguesia criou um mundo a sua imagem e semelhança".

O termo Meritocracia foi cunhado por Michael Young, no livro “Rise of the Meritocracy” (“Levantar da Meritocracia”, em português), publicado em 1958.

No entanto, neste livro de Young, o mérito é entendido como um termo pejorativo, pois estava relacionado com a narração de uma sociedade que seria segregada tendo como base dois principais aspectos: a inteligência (QI elevado) e um grande nível de esforço.

Outra crítica desferida sobre a meritocracia neste contexto, seria o método eficaz de avaliação destes “méritos”.

Mas atualmente a palavra Meritocracia é empregada, especialmente por empresários, políticos e parte substancial da sociedade como algo bom, maravilhoso. Que seria a medida do talento e esforço individual de cada indivíduo, capaz de fazê-lo conquistar coisas e alcançar patamares superiores.

Muitas empresas trabalham com essa ideia na premiação de funcionários, por exemplo: Com bonificações salariais, aumento real de salários ou ascensão na carreira, o chamado subir de cargo.

As corporações e empresas usam a "Meritocracia" como forma de motivação de seus colaboradores (funcionários), que se dedicam em suas funções em busca de alcançar melhores oportunidades como consequências dos esforços apresentados.

Mas afinal o que é Meritocracia?

Segundo o dicionário de significados on-line:

"Meritocracia é um sistema ou modelo de hierarquização e premiação baseado nos méritos pessoais de cada indivíduo.

A origem etimológica da palavra meritocracia vem do latim meritum, que significa “mérito”, unida ao sufixo grego cracia, que quer dizer 'poder'. Assim, o significado literal de meritocracia seria 'poder do mérito'".

Aparentemente a tal meritocracia é algo evidente nas sociedades. Sobretudo, nas nações ocidentais capitalistas.

Mas, lembrando que Young o criador do termo já o fez criticando-o. Assim como fazem inúmeros filósofos e sociólogos.

Os defensores da Meritocracia dizem por exemplo que passar num concurso público ou adentrar numa universidade pública é uma conquista baseada no mérito (esforço, estudo e dedicação) de cada um. Por isso, são contra as políticas de cotas sociais e raciais. Pois essas políticas são anti meritocráticas, dizem eles. Aparentemente é um discurso perfeito e irretocável.

Todavia, eu faço a seguinte ponderação: para se ter mérito em algo indivíduos devem partir do mesmo patamar. Como numa corrida: todos devem partir de um mesmo ponto com finalidade de alcançar a linha de chegada. Se numa corrida de cem metros, um corredor sair cinquenta metros à frente dos demais corredores e ganhar a corrida, aonde está o mérito? Pois bem, é assim que ocorre na vida real: ricos e pobres não partem do mesmo lugar. Pois a educação pública destinada aos pobres é muitíssimo diferente da educação recebida pelos filhos das elites em suas escolas privadas, com mensalidades exorbitantes. Quem estudou em escolas privadas de ponta saiu bem à frente na corrida por uma universidade pública, para um curso melhor e para um emprego com altíssimo salário. Portanto, não há meritocracia se ricos e pobres partem de lugares distintos um dos outros. Pois na vida real, a facilidade é privilégio de ricos e dificuldades é a marca da vida dos menos favorecidos e grupos marginalizados.

Lembro-me da minha cidade, o município de Cabo Frio RJ. No ano de 2015 não houve aulas nas escolas públicas municipais. Tivemos um ano de greve. Aí, eu faço o questionamento aos defensores da ilusão meritocrática: "Os alunos dessas escolas que já estão bem aquém das escolas privadas de ensino, têm alguma chance de passarem num curso de Medicina, se além de ensino ruim ficaram um ano sem estudar?

A chamada meritocracia nunca foi um meio justo de ascensão, pois a ascensão profissional ou social não depende exclusivamente do esforço individual, mas também das oportunidades que cada indivíduo tem ao longo da vida. E nunca as oportunidades são iguais a todas as pessoas.

Um dos maiores sociólogos do mundo, o francês Pierre Bourdieu, criou o conceito de Capital Social.

Capital social, segundo Bourdieu é a influência que certas famílias possuem em determinados locais. Filhos de famílias tradicionais tem maior facilidade de ascensão social na localidade onde estão inseridos do que os demais membros da sociedade. As famílias tradicionais têm facilidade no acesso à bens e serviços, em relação aos demais. Portanto, essa facilidade joga por terra essa ideia de vencer mediante o mérito ou esforço, pois a relação aqui é a de influência social de certos indivíduos e grupos por conta do seu nascimento/Família.

A ideia de meritocracia nega o fato que indivíduos que nascem em famílias tradicionais, com melhores condições financeiras, com acesso às melhores instituições de ensino e contatos profissionais exclusivos, têm maiores chances de conquistar uma posição privilegiada em relação àquelas que não tiveram esses mesmos “privilégios”.

A Meritocracia é uma falácia. Pois não é o mérito e esforço o único fator que explica a ascensão social. Outros fatores que foram expostos acima, são infinitamente preponderante.

Acioli Junior
Enviado por Acioli Junior em 18/04/2020
Reeditado em 18/04/2020
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