NOSSA FRÁGIL CULTURA DIANTE DO HOJE
NOSSA FRÁGIL CULTURA DIANTE DO HOJE
NOSSA FRÁGIL CULTURA DIANTE DO HOJE
Há certos momentos de nossas vidas em que não tomamos decisões, e muito menos as portas se abrem, no repicar das dobras dos dedos de nossas inquietas mãos, mesmo que as necessidades nos incomodem.
São lembranças de martírios que repicam nos couros dos nossos atabaques cerebrais, tão sofridos pelos toques dos aguidavis ou mil mãos, que seriam sinfonias se não viessem em cascatas, muito além das serenatas, como os dominós enfileirados a cair numa sequência.
E a vida tem surpresas que chacoalham até um navio, como se uma jangada assustasse um porta-aviões, lhe arrancando os canhões e afundando os seus mísseis, ou como se um oceano sucumbisse a um regato, que brotou no meio do mato mas virou um Solimões.
Muitas vezes planejamos nossa vida na areia, sem lembrar que as sereias jogam as ondas sobre as praias, e as águas logo escorrem na inclinação das margens, que rebordam toda ilha ou adornam os continentes, desfazendo as palavras ou castelos de areia, não deixando lá gravadas nossas inquietudes e anseios, que se abrigam nos neurônios que já não mais funcionam, pois as cabeçadas da vida já sangraram seus condutos, sequelando o tirocínio com que enfrentamos as batalhas.
Então, olho para as brumas que permeiam o que já houve, na história revivida de meus ancestrais que se foram, pois a carne não aguenta os chicotes que o tempo nos impregna, com os estigmas dos vincos ou calombos que não curam, nos fazendo sangrar pelas fissuras das feridas que teimam em reabrir, mesmo que usemos mil emplastros pra sarar nossos tormentos, pois os frágeis rebentos, que vieram prematuros e sofridos, só se prostram em soluços ante os tribunais da vida, que só sentenciam o que querem os algozes de um mendigo, vez que o pobre plebeu já não aguenta mais sofrer os infortúnios que um imundo cadafalso lhe provoca antes da forca.
E escrevendo tudo agora, ao contrário de todo antes, que se foi com as sereias lá pro abismo de Poseidon, vejo que mesmo as folhas não resistem a todas traças, que corroem até vinis, onde o disco só nos diz o que as melodias querem, reunindo todos toques que os instrumentos harmonizam num argumento singelo ou funesto.
Bem assim é que revejo tudo que já foi como desdita, pois a vida é cruel com quem padece de delírios, onde os sonhos e utopias satirizam todos os passos e escolhas que se tenta perpetrar, conflitando as bestas e feras de Hades por todo o Tártaro, que se multiplicam a toda hora, vez que as cabeças arrancadas pelos gládios logo rebrotam já aos pares.
Mas toda frágil cultura - que se comunga oralmente - se seculariza no hoje pela sujeição à sequência do repasse dos sussurros, carregando tudo ao longo da jornada das palavras, que entoadas em vários tons vão se impregnando no cotidiano vivido, o qual marcamos na memória social do nosso povo, onde o novo é tão velho que nem sabemos os porquês, cheios de todos clichês com que repaginamos nossos livros, durante os dias que Deus permite vivenciarmos e sermos escritores de nossas oralidades pretendidas, pois nem sempre nos darão o privilégio de expressar o que pensamos ou desejamos, já que fomos escravos no Egito ou na Europa, mesmo até na Babilônia ou em Ur, de uma Caldeia que pleiteia ser um berço - o qual não nina e sim sequela - sob a pele de quem vive com melaninas que contrastam o poder de quem domina e nos tortura, em todas as vidas que hereditariamente temos, como marca e simbolismo para forjar o aço de nossas almas e sonhos, onde um dia seremos livres e senhores desse solo que é de todos, quando nos entendermos nascituros em corpos que vicejarão sem roupas, adereços ou gostos predefinidos, diante de tudo com que a natureza sagrada nos brinda.
Publicado no Facebook em 08/09/2019