BELCHIOR E RAUL - CEARÁ E BAHIA: ANGÚSTIA E METAMORFOSE
BELCHIOR E RAUL - CEARÁ E BAHIA: ANGÚSTIA E METAMORFOSE
"Estava mais angustiado que um goleiro na hora do gol", porquê eu apenas queria ser essa "metamorfose ambulante", já que ter uma opinião imutável contrasta com a evolução social do ser humano. Lembrar de Belchior e Raul nessas falas misturadas, me reporta às velas do Mucuripe, como se elas singrassem as águas de dez mil anos atrás, donde venho revivendo a história como se minha sina fosse. Cheia de conflitos e conexões de vida e morte, ressuscitando na sorte, que nem sei se é azar.
Para um convicto taurino, recheado pelo ascendente pisciano, mudanças entram em choque constante com as curvas, aclives e declives de um caminhar, que em touro se mostra retilíneo, iluminado e sólido, mas que se alimenta da poeira estelar que divaga nos sonhos e messianismos do sinuoso caminho do peixe, que retorce seu corpo, para ajudar as barbatanas a projetar o nado, que pode ser raso ou profundo, como se necessário fosse discutirmos cada movimento a ser praticado, para repaginar o livro da história, com uma versão baseada em futuro, sem esquecer o que foi impresso nas memórias do tempo, nos papiros sangrentos, dos cânhamos de outrora.
"Daí um analista amigo meu, disse que desse jeito não vou ser feliz direito..." porquê não posso manter "aquela velha opinião formada sobre tudo", principalmente no que envolve ódio e amor, já que pra saborear um acarajé ou abará, temos o vatapá, colocamos até uma salada, mas não há como fugir do ardor das pimentas, que nos dão vitaminas e calor, para lembrarmos que a rapadura é doce, mas não é mole.
É muito interessante, sabermos reconhecer a profundidade das obras inquietantes e repletas de reflexões existenciais que Belchior e Raúl Seixas nos deixaram, pois o ser humano carece de dormir olhando as estrelas, como nossos primordiais antepassados, e de sonhar sonhos soprados pelas estepes, caatingas, sertões.
É aqui que as energias solar e eólica são mais vigorosas, pelos dias mais ensolarados, com terrenos e morros sulcados pelos ventos que fustigam o nordeste, levando a chuva pra longe, mas forjando semblantes calosos, bronzeados e envergados pela lida sufocante, mas que calejam as mãos que lapidam o barro dos artífices das almas e jeitos, de sotaques e sinceros abraços, nas sombras fortuitas dos juás e umbuzeiros, e até nos segredos do mandacaru, que não dá sombra e nem encosto, mas anuncia a chegada das águas das chuvas raras e singelas, que guardamos nas cisternas, como gotas de ouro, pra saciar a sede, batizar um rebento, ou manter vivos os galos que nos acordarão nas madrugadas, anunciando cada novo alvorecer em nossas vidas.
É nessas plagas e rincões, que abrimos os pulmões para exaltar Alencar, Castro Alves, Maria Quitéria, Joana Angélica, Jorge Amado, Gonzagão, Lampião e Zumbi dos Palmares. Quantos mais nem citamos aqui, senão até do sapoti e cajarana teríamos que decantar. Sabiá laranjeira e até a Gameleira são testemunhos da beleza de aqui estar, se esquecer, marejar. Pois os olhos, castigados pelo ardor das lágrimas sertanejas, se projetam para o horizonte para agradecer a Deus pelo pouco, mas conquistado com força da Fé e esforço, pra formar novos moços e moças, que vão trazer esperança de pão, macaxeira, carne de sol e de sertão, onde a galinha poderá vir à cabidela, mas até a pequena cadela poderá se deliciar com seus ossos.
E o analista continuará amigo meu, nas minhas loucuras e breves devaneios de olhar para um cruzeiro, do Sul ao Nordeste, como se fosse um teste para o caminho acertar. Pois se eu nasci a dez ou mil anos atrás, usarei os exemplos que tenho pra tentar continuar esse desafio de vida severina ou moderna, para os dez mil anos almejar, podendo se servir do leite das cabras, da garapa da cana das matas e provando do mel das cabaças do cacau de Amado, por Gabriela pintado, colhido e secado, pro chocolate gerar, numa metamorfose perfeita das bagas do ouro, em frutos, a nos alimentar.
Publicado no Facebook em 21/04/2018