É crítico o papel da crítica!
Qual o papel do crítico? Criticar. E do artista? Criar, criar e criar.
Nunca pensei em fazer algum trabalho para agradar aos críticos. Até porque, antes, a nossa única mentalidade como artista (minha e dos meus amigos em geral na árdua ralação artística), é fazer um trabalho, dar continuidade ao mesmo, seguir trabalhando, viver do que produzimos. Apenas isso! Pensar em crítica são outros quinhentos.
Só que, em um determinado momento, acreditamos que é preciso um aval de um crítico para dar, tipo, um carimbo de qualidade ao trabalho. Como se, assim, fôssemos merecedores de credibilidade. O que, de fato, não condiz muito com a realidade. Já vi muitos trabalhos que foram detonados pela crítica e ovacionados pelo público. E, pensando bem, os críticos não pagam nossas contas. O público sim.
Fiz um espetáculo uma vez, que eu acreditava muito nele, era o que eu queria dizer naquele momento. Fiz como ator - fui convidado para o projeto. E aí, logo de cara, tivemos uma crítica do espetáculo. Corremos, entusiasmados, para ver. O crítico detonou a direção, que era de uma amiga minha. E elogiou o meu trabalho e o de outra amiga, atriz, dizendo que a nossa versatilidade ajudava a dar dinâmica ao espetáculo. E ainda ignorou um dos atores. Isso não mudou o que era o espetáculo. Seguiríamos com ele, independente de qualquer coisa. Lembro que a diretora ficou arrasada e nos pediu desculpa, dizendo que se houve erro, foi exclusivamente dela, etc e tal. Dissemos que era bobagem ela pensar assim e que isso não afetaria em nada o nosso trabalho, afinal, tínhamos bom senso e sabíamos o potencial dele. Logo depois, vieram ainda umas 12 ou mais críticas - foi um dos espetáculos que fiz que teve mais crítica. A maioria delas via a força do espetáculo, elogiava diversos aspectos, inclusive, relacionados a direção. Então, concluímos, que crítica é o ponto de vista de quem faz. Leva em conta o humor da pessoa no dia e, claro, as coisas que ela acredita como arte, as suas preferências.
A primeira crítica que recebi de um trabalho meu, foi quando dirigi uma peça sobre um reality show (eu também escrevi o texto em parceria). Lembro perfeitamente o que estava escrito. E era um crítico muito respeitado no meio. Ele disse que minha direção tinha dado ritmo a algo que funcionaria mais se fosse um esquete de 20 minutos. Como se eu tivesse me esforçado para tirar algum leite de pedra. Eu poderia ficar feliz de ver o meu lado elogiado, né? Mas teatro se faz em equipe. A gente tinha ralado muito pra fazer este trabalho. As atrizes ficaram arrasadas e eu tentando consolá-las. Depois veio mais uma crítica que foi mais elogiosa que a primeira. Aí todo mundo respirou novamente e sorriu: UFA! Mas, vale uma ressalva: a primeira crítica que saiu, que falou de outras, obviamente, ensinou-me muito mais. Porque também não busco apenas o elogio, e sim, um olhar crítico que possa me ajudar em alguma coisa, até repensar alguns pontos. Isso é válido falar também.
Enfim, em anos de carreira, já passei por tudo isso. Vi críticos detonarem a peça de amigos, dizendo coisas como “a atriz, completamente perdida em cena, não sabia o que estava fazendo” ou “direção completamente precária que ajudou a destruir ainda mais a proposta do espetáculo”... Claro que eu tô tirando da minha cabeça essas palavras, mas foi bem por aí mesmo. E uma crítica assim pode abalar completamente a pessoa se ela não tiver um foco e fazer uso do seu bom senso.
Tive um outro trabalho que recebeu uma boa crítica até. O crítico, inclusive, abraçou a nossa proposta, que era de realizar uma comédia inspirada nos entreatos. Mas teve um fato curioso: ele falou praticamente de todos os quadros do espetáculo mas ignorou um - não traçou uma linha sequer sobre ele. E este quadro, justo esse, tornou-se um dos maiores fenômenos da Internet, sendo considerado um dos primeiros virais dessa nova onda. E digo que foram os meus 3 minutos mais bem pagos da vida (viu, como é irônico?). Por conta deste quadro, passaram a olhar com carinho e entusiasmo para a nossa companhia.
Em suma, uma coisa importante vale dizer: o que nos chateia é que muitas vezes o crítico não leva em consideração - nem tem porque levar - toda a tua caminhada até chegar ao espetáculo em si. Porque a gente passa por diversos perrengues para realizar uma obra. Diversas provações, inclusive. E é tanta dor pelo caminho que a gente vem com essa sede de ser amado, de ser aceito. Aí quando pinta uma crítica destrutiva, é como se a gente caísse do alto de um prédio e se estabacasse no chão. Ou seja, subimos até o último andar de um prédio, a duras penas, degrau por degrau, para vir uma pessoa e dizer: “Espetáculo confuso que não diz pra que veio”. É de matar! Mas é pra rir também. Hoje rio mais das críticas ao invés de ficar com raiva.
Quando a crítica saia no jornal, você corria às bancas para comprar, de madrugada ainda. E afoitamente caçava onde ela estava. Às vezes, ela era um abraço. Em outras, um soco que te fazia ir para o primeiro bar e encher a cara. Mas, o certo também, é que esse jornal depois, iria servir para forrar o teu armário ou ser usado na área de serviço para o teu animalzinho de estimação fazer as suas necessidades. Ou seja, não interessa muito, no fundo. Porque interessa mesmo o que você faz, por que você faz e pra quem você faz. E temos que ter um bom senso guiando as nossas escolhas. Porque, é claro, tem trabalhos que são grandes equívocos. Você pode não dizer, ao terminar uma peça e abraçar o amigo. Mas aí, tem o crítico que está pouco se lixando pra isso. Vai lá e detona mesmo. Lógico que tem críticas construtivas e outras bem destrutivas. Mas o foco é o trabalho. Se você acredita no seu e as quedas te fizeram engrossar o casco, dane-se o que falem! O negócio é torcer para que falem muito mais ainda, porque você não quer parar! Você não vai parar!
Pra terminar, lógico, pego carona em uma última crítica feita sobre uma cena minha recentemente apresentada; o crítico diz que a comédia romântica que eu escrevi é igual a zilhões de outras e que coube a direção dar uma oxigenada naquilo. Mas, apesar de tudo - segundo as palavras dele -, o público gosta e se diverte. Oba, então está valendo, porque, com essa comédia, eu quero o feijão com arroz para alimentar um público que quer isso. Como eu falei: crítico não paga as minhas contas. Mas não paga mesmo! BeijosMeLiga!