Paranoias, amores mal amados e sexo grátis
MEU TEATRO - por Raul Franco
Sempre gostei dessa ideia de trilogia. De coisas fazerem parte de alguma linha de raciocínio. Como se cada parte fosse a busca de uma discussão muito mais ampla. Uma coisa meio kieslowskiana. Ou mesmo coisas que o Humberto Gessinger adorava fazer no Engenheiros do Hawaii.
E assim comecei a pensar alguns dos meus textos para o teatro. Logo depois que escrevi o Casal Consumo fiquei pensando no que seria legal falar em uma nova peça. Daí comecei a escrever alguns esquetes sobre o modo como pessoas completamente diferentes poderiam encarar o amor - essa fonte de muitas discussões e opiniões.
Comecei a montar esquetes a partir dessa ideia. E a cada dia pensava em como poderia pirar ainda mais na temática escolhida. Então, criei um texto que falava do amor em outro século, onde a pureza parecia reinar. Viajei na ideia do que poderia ter acontecido depois dos finais felizes na história de contos de fada. Pensei num cara que abdicaria do sexo porque começou a ver o quanto somos escravos dessa coisa carnal, dentre outros esquetes. E eu queria buscar um título que traduzisse essa minha euforia. Até que um dia, andando pelo Baixo Gávea, veio-me o insight. Brilhou na minha testa o título TODO MUNDO AMPLIA A PARANOIA QUE CRIA. Um título que amo. E era bem o espírito daquilo que era discutido na peça. Isso foi em 2001. E a primeira versão da peça foi dirigida por Maria Cristina Gatti. No ano de 2002 assumi a direção. E a peça seguiu em cartaz.
Em 2003 comecei a escrever uma nova peça. Que também falaria de relacionamentos. A segunda parte da trilogia que eu pensava. E desta vez quis apresentar cenas onde o amor não era muito bem tratado. E, por conta disso, acabava gerando situações complicadas e loucas. Nasceu Crônicas do amor mal amado. E o texto permaneceu 10 anos numa gaveta. Até ser redescoberto pela atriz Camila Hage, que queria muito montar. E chamou a grande Bia Oliveira para dirigir. A peça estreou em 2013.
Em 2004 comecei a escrever outra. Dessa vez queria escrever uma peça com uma história só. E parti da ideia de um escritor que seria muito fã do Morrissey - do Smiths - e extremamente sentimental. Ele tinha escrito um livro com uma visão debochada do amor e que se tornou um sucesso de vendas. Mas no meio disso ele termina uma relação com o grande amor da sua vida e se vê cobrado pela editora a escrever um novo livro de amor. E, lógico, tem aquele momento de tensão, de falta de inspiração. Como falar de amor com humor quando se está sofrendo por ele? Daí nasceu Paixões inexploradas no coração hi-tech. Que também foi abandonado numa gaveta. Eu só fui resgatar a peça, quando uma produtora me pediu um texto novo. Vi que era bem o que ela queria. Mexi bastante no texto e ele virou Sexo grátis, amor a combinar. Que estreou em 2014, também sob a batuta de Bia Oliveira.
Sexo grátis e o Crônicas ainda fizeram temporada esse ano. O Todo mundo amplia a paranoia que cria eu abandonei. Mas usei o personagem Alfredão, que aparece neste texto, no Sexo Grátis. Ainda quero aproveitar apenas o título e criar algo diferente. Vamos ver o que acontece.
Penso em fazer uma leitura das peças na sequência, quem sabe! E semana que vem começo a escrever a nova que falará de perturbações sexuais. Aguardem!