Arte moderna: criatividade e maluquice no mesmo embrulho

Existe uma valorização excessiva, exagerada, da criatividade livre.

A falta de parâmetros e limites pode lançar, em vala comum, criadores tão distanciados quanto o gênio e o aventureiro louco, e todos os que estão dentro deste espectro.

A pintura moderna é um exemplo adequadíssimo: nela cabem a criação inteligente e também a experimentação aberrante, cuja lógica só o criador enxerga ou intui.

As exposições misturam os públicos, desde o esteta possuidor de base intelectual até o pseudo-intelectual em busca de respeito, destaque e projeção.

Minha memória salta de exemplo para exemplo, de caso para caso.

Como o do personagem de Nick Nolte no filme Contos de Nova York, que lançava jatos de tinta numa grande tela, que depois era supervalorizada em exposições sofisticadas.

Na mesma época do filme assisti a uma exposição coletiva de arte moderna no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, mais com o intuito de prestigiar a minha falecida chefe, dona Célia, por causa da participação do filho dela, Marcelo Afonso Brandão (o Marcelo AB).

O trabalho dele foi uma grata surpresa, pois reconheci atributos como criatividade, habilidade, coerência, técnica e esforço.

Mas muitos de seus companheiros de painéis e paredes me deram a sensação de serem loucos ou apenas estarem se divertindo à custa da platéia.

A memória segue seus trilhos e relembra um texto que foi usado em uma aula de inglês, que assisti há mais de uma década.

O professor (acho que foi uma professora) entregou um texto, para estudo e tradução, que contava a seguinte história (lembrança livre): O personagem vai ao supermercado e compra algumas frutas. Na volta para casa dá uma passada numa galeria de arte que está em fase de premiação de trabalhos. Ao chegar em casa, nota que esqueceu as frutas na galeria e volta para buscá-las. Lá encontra o arranjo de frutas junto com um cartão, informando que elas ganharam o primeiro prêmio.

Na mesma linha, encontrei no site da UOL (Humor) uma charge de Adão Iturrusgarai, e transcrevo o texto, fruto do diálogo entre uma criança de 10 anos e um pseudo-intelectualóide, que interpretam o que a imaginação enxerga numa folha de papel.

Uma menina pergunta para Pedrinho, de 10 anos, como ele representaria uma folha em branco. A imaginosa resposta é: “Um fantasma batendo creme de chantili no Polo Norte”.

E o pseudo-intelectualóide (denominado Pedro Aguiar Pedrosa, de 37 anos) analisa a mesma folha com um risco preto, provavelmente numa exposição: “Minimalismo de natureza ambígua revelando a angústia da pós pós-modernidade com traços de espiritualidade equacionando aleatoriedade numa forma icônica”.