PERSONALIDADES DO CONCELHO DE TRANCOSO....MANUEL BOTELHO... O Ferrador e o Museu de VILA FRANCA DAS NAVES
PERSONALIDADES DO CONCELHO DE TRANCOSO (Portugal)....
MANUEL BOTELHO... O Ferrador e o Museu
de
VILA FRANCA DAS NAVES
Manuel Botelho, aliás “Manuel Ferrador” é diplomado na arte de ferrar e fazer ferraduras, arte que passados 41 anos de ter sido diplomado como Ferrador, em Moçambique, continua a manter num mundo muito próprio em Vila Franca das Naves , onde reside.
É agente da Policia de Segurança Pública (PSP) aposentado e, no espaço exíguo de uma garagem, construiu um mundo de memórias que se misturam com a arte de ferrador a que, por ironia chama, de “museu”.
A arte aprendeu-a em Moçambique, com o pai e, por exame efectuado na Faculdade de Veterinária de Lourenço Marques em 31 de Dezembro de 1969, obteve o diploma de Siderotécnico, sendo conhecedor dos animais, sobretudo dos equídeos.
Manuel Botelho recorda que esta “é uma arte que se tornou paixão e até certo amor pelos animais mas com certa carga, também, de misticismo, pois que a ferradura, é talismã contra a má sorte e outros males”.
Tem um “poder protector” ao colocar-se nos automóveis, afixada ou por baixo dos assentos para evitar acidentes ou atrás das portas das casas, sejam residências ou estabelecimentos.
Um pormenor é importante: dos oito orifícios para os cravos que fixam a ferradura, um deles tem de ser tapado para ter o efeito protetor desejado.
A história deste homem parece confundir-se mais como “o homem dos sete instrumentos” na veterinária, porque além de ferrar burros, cavalos e vacas, também é perito em partos de animais e, afirma: "na região, onde sou muito conhecido, quando há qualquer problema com animais, é a mim que recorrem”.
Da pequena forja e da bigorna, à entrada do quintal, surgem múltiplas ferraduras que Manuel Botelho usa para “calçar” os animais mas também para oferecer aos visitantes do seu mundo de antiguidades - recordações que numa amálgama curiosa reúne no espaço inferior da residência - com o fim de que o objecto os venha a proteger nos seus lares.
Mas voltemos ao “Museu” de Manuel Botelho, um pequeno mundo de coisas do passado e do presente que guarda com afecto e cujo historial sabe de cor a sua utilidade...
Na “confusão e profusão” de objectos, há uma história de percurso de vida: fardamentos e uniformes policiais ou militares, motas, side-cars, fotos, alfaias agrícolas, arreios de animais, bonés militares e outros incluso de bombeiros, capas de pastor tradicionais, rádios, candeeiros a petróleo e candeias, tigelas, pratos desportivos, bonecas típicas, instrumentos musicais, tamancos e outro calçado, relógios, armadilhas para animais, máscaras, chaves... um sei lá de objectos.
“Sei de tudo o que aqui está, de onde veio, para que serviu ou serve”, diz com entusiasmo para sublinhar que “muitas destas coisas, se fossem alguns, já as teriam deitado no lixo ou destruído , mas aqui têm um significado e certa memória”.
Sobre a arte de ferrador, Manuel Botelho lamenta que se esteja a perder “por os mais novos não a quererem, mesmo os médicos veterinários, mas deveria ser ensinada nas escolas profissionais e outras porque, afinal, faz parte da nossa cultura e do nosso saber e também das nossas necessidades ainda no mundo rural apesar da conquista do espaço dos animais pelas maquinas”.
Assume mesmo que o ferrador é uma profissão que têm funcionado ao longo de tempos “muitíssimo recuados, com conhecimentos que se aprendem no dia a dia e chegam mesmo a curar as maleitas dos animais”.
Neste mundo de Manuel Botelho, o Ferrador, de Vila Franca das Naves, há nostalgia e espírito de dever cumprido, quer no serviço militar e policial quer hoje como um dos últimos ferradores.
JOSE DOMINGOS