Taxi Driver, um filme que quase matou um presidente dos Estados Unidos
Taxi Driver, um filme que quase matou um presidente dos Estados Unidos
por Márcio de Ávila Rodrigues
[28/05/2013]
Um dos filmes de mais impacto no meu passado cinéfilo foi o Taxi Driver, de 1976.
Tinha ótimo enredo, personagens densos, e o diretor Martin Scorsese acertou no andamento.
Cinco anos depois Taxi Driver alcançou as manchetes de jornal e também o horário nobre da tevê por um motivo inesperado: influenciou o piradão John Hinckley, Jr., que tentou matar o presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, só para chamar a atenção de Jodie Foster, atriz do filme (ela só tinha 13 anos durante as filmagens).
Depois de assistir ao filme umas 15 vezes, ele ficou obcecado e resolveu imitar o personagem principal (interpretado por Robert De Niro) que, na tela, tentou matar um fictício candidato a presidente.
Mas a cena do filme que ficou mais bem gravada na minha memória foi a do cinema pornô: a obsessão do taxista era outra mulher, a personagem Betsy, interpretada pela atriz Cybill Shepherd.
Com muita insistência, o fictício taxista Travis Bickle conseguiu se aproximar e a convidou para ir ao cinema...
...mas só no local ela percebeu que era o filme era pornográfico, e que seu admirador era tão inculto que não tinha a percepção do absurdo da situação.
A cena virou meu paradigma para exemplificar a dificuldade de relacionamento entre um homem e uma mulher cultural e psicologicamente incompatíveis, pertencentes a mundos diferentes.
Só agora revi Taxi Driver: o filme é bom mesmo, mas o final razoavelmente feliz não me convenceu, pois não existe happy end num contexto como aquele.
Provavelmente foi uma exigência dos financiadores/produtores.
Será que esta foi a causa da derrota para Rocky, um lutador – o mais fraco dos ganhadores da época – no Oscar de 1977?
Observei também que o filme pornográfico que o taxista levou a militante política para assistir tinha um formato comum na época: sexo explícito acompanhado de explicações científicas sobre reprodução. Um disfarce ridículo para abrandar a censura de governos e de grupos conservadores, muito usado também no Brasil.
Merece destaque ainda que, no enredo, a tentativa de assassinato do senador e pré-candidato a presidente não tinha finalidade política: era uma vingança, a materialização da frustração causada pela rejeição de Betsy, a paixão de Travis.
Pela mesma frustração passou o paranoico da vida real John Hinckley, Jr., que tentou (muito), mas não conseguiu conhecer a atriz Jodie pessoalmente. E materializou a derrota com uma solução esquizofrênica: imitar o personagem assassino para chamar a atenção da atriz.
O filme também ajudou a iniciar minha paixão juvenil pela belíssima Jodie Foster.
Mas seu eu tivesse algum grau de comportamento obsessivo ia perder meu tempo: ela gosta é de mulher.
Sobre o autor:
Márcio de Ávila Rodrigues nasceu em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, Brasil, em 1954. Sua primeira formação universitária foi a medicina-veterinária, tendo se especializado no tratamento e treinamento de cavalos de corrida. Também atuou na área administrativa do turfe, principalmente como diretor de corridas do Jockey Club de Minas Gerais, e posteriormente seu presidente (a partir de 2018).
Começou a atuar no jornalismo aos 17 anos, assinando uma coluna sobre turfe no extinto Jornal de Minas (Belo Horizonte), onde também foi editor de esportes (exceto futebol). Também trabalhou na sucursal mineira do jornal O Globo.
Possui uma segunda formação universitária, em comunicação social, habilitação para jornalismo, também pela Universidade Federal de Minas Gerais, e atuou no setor de assessoria de imprensa.