Baixio das Bestas II
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Se lá nas "Europas" existem vitrines onde são expostas mulheres que exibem seus corpos àqueles que anda à procura do amor terceirizado, aqui, no filme Baixio das Bestas, a vitrine é um posto de gasolina, os clientes são os caminhoneiros que por ali passam a noite e o grande cafetão é o miserável avô da adolescente à mostra. Não há como não se indignar com tal cena. Ressalto aqui, que a indignação não é com o diretor ou roteirista ou mesmo os atores ali na cena. Eles estão apenas fazendo uma denúncia. A indignação é que a esta cena do filme está acontecendo ali... Na minha e na tua esquina. Naquele posto onde tem pregado um cartaz no MPF que diz que prostituição infantil é crime, ali mesmo, a prostituição acontece.
É um filme seco que mostra a vida seca, não a da televisão. A televisão que a menina está assistindo e chega inclusive a rir. Um riso puro. Um riso. A menina da vitrine rir. Por um instante esquece aquilo que seu avô faz com ela. E, novamente falo, ela rir. Inocente. E do que estava rindo? Não sei! Talvez de algum programa desses de domingo a tarde que tem alguns jovens mulheres, um pouco mais velhas do que ela, que dançando e exibindo o seu corpo, " parecem que não tem nem dinheiro para compara um tecido"... "E rebolando e jogando o bundão de um lado para outro...Pense num rabo. Era uma lapa de rabo que só vendo..." Mas elas tinham um grande sorriso no rosto. Tinham pessoas aplaudindo e rindo, não delas, mas com elas. Uma grande festa. Diferente da noite no posto. Bem diferente.
Enquanto rir, o avô lhe fala algumas coisas, mas rir é melhor. Ela não está nela. Está na magia. Está na fuga. O avô não gosta disso. Se quiser rir que ria à noite no posto. Rindo talvez deem mais dinheiro. Porque quase ninguém gosta de ver uma menina nua com cara triste. Se rir é melhor. Então, que guarde o seu riso para à noite no posto. E, desliga a televisão.
Os sonhos se apagam pelo aperto do botão. A menina, sisuda, sai para fazer a arrumação da casa e já sabendo da sua próxima exibição à noite no posto, onde ninguém lhe aplaude e ela não rir.