A internet é o ninho do escritor não profissional
Por toda a década de 1980 (e mais um pouquinho antes e também depois) eu trabalhei na redação da sucursal mineira do jornal O Globo; não cheguei a ter carteira assinada, mas recebia um pro-labore fixo, mensal.
Um dia, uma repórter ainda mais jovem me perguntou se eu já tinha sonhado em ser escritor.
A resposta foi positiva, e ela somou mais um aos muitos SIM que ouviu entre os colegas, alvos da micro-enquete.
O jornalismo era, e ainda é, uma opção e um abrigo para os vocacionados na arte da comunicação escrita; a literatura sempre foi um caminho restrito e caro, em que o talento não basta.
No passado, quantos escreveram obras inteiras que só serviram para alimentar traças, e quantos abandonaram projetos semelhantes por conta da incerteza da publicação?
A internet está mudando este conceito: ainda nos últimos anos mil e novecentos, os sites de formato tradicional criaram espaços para os textos e o Google revolucionou os buscadores; virado o milênio, os blogs dispensaram os redatores-leigos do conhecimento da linguagem html.
O e-book player — aparelho que tem a pretensão de substituir o livro — é o mais recente candidato a revolucionador; uma de suas limitações é o desconforto do manuseio, nada que a tecnologia não consiga resolver a médio prazo.
Ademais, ainda enfrenta uma respeitável resistência cultural, pois são inegáveis o charme e a importância histórica do livro de papel, aquele volume que parece imortalizar o criador.
Mas a fila anda e o mundo gira, empurrando o tempo...
E as mentes criadoras que imergiram no mundo da informática estão ativas, produzindo no embalo e na euforia desta tecnologia absorvente e estimulante.
O maior provedor do país, o Universo On Line (UOL) criou um portal para escritores não profissionais, o Recanto das Letras, que engloba as funções de gráfica, distribuição e biblioteca (ou salão de leitura) de textos em formato eletrônico, acessíveis às telas de computador.
E imprimíveis, para quem prefere mesclar a tecnologia que se vai com a que chega.
Com um simples e banal cadastro, qualquer pessoa pode transferir do seu computador para aquele sítio da internet um texto de sua autoria, que fica disponível para a leitura de qualquer usuário da rede mundial, categoria que hoje compõe a maioria da população letrada.
São dois os formatos de visualização: caracteres simples e PDF, este último um sistema que permite fotos e artifícios gráficos.
É gratuito; o lucro da UOL vem da versão paga, disponível para escritores com algum grau de profissionalização ou um bom grau de ambição.
Na versão paga — que pode custar 10 ou 20 reais por mês, valores certamente não proibitivos —, o cliente tem o recurso de um editor para o texto e um espaço enorme nos computadores do provedor UOL.
Criei meu espaço por lá (http://www.recantodasletras.com.br/autores/marcioarodrigues) pela alternativa de uma organização diferente do blog, na procura de um formato mais adequado para textos que não envelhecem rápido, que podem ser lidos meses ou anos depois.
Outra vantagem: ele parece mais acessível aos sistemas buscadores do Google, que nos meus testes simplistas sempre localizou facilmente no Recanto o texto pedido (através das palavras-chaves).
O Google até grava os textos dos blogs, mas geralmente remete o pesquisador para a homepage (página principal); se ele já está antigo, se rolou para baixo e mudou de página, a localização pode ficar difícil.
A página do blog tem um tamanho definido pelo programador: os textos mais antigos são transferidos para outra página (no caso do UOL, o acesso passa a ser feito pelo link/botão de “mensagens anteriores”, que fica lá embaixo).
Mas já observei que alguns textos que só podem ser acessados através do link mensagens anteriores” de meu blog (http://marcio.avila.blog.uol.com.br) não são localizados pelas palavras-chave, isto é, não foram gravados pelo Google quando ainda estavam disponíveis na página principal.
O Google usa a a técnica de “varrer” periodicamente a internet para gravar conteúdos; não funciona como um Grande Irmão que lê tudo o que está disponível na internet no momento da busca, como decerto imagina o grande público.
Com a ajuda de meu pessoal consultor e quase homônimo Márcio D’Ávila, entendi que o Google não consegue vasculhar e “ler” o conteúdo completo dos blogs do UOL, impedido por alguma limitação do programa, seja por erro ou por opção (não sei dizer se o problema é idêntico em outros provedores).
Hoje, o que não é gravado no Google desaparece na lixeira do mundo virtual.
Quando falo dele obviamente incluo os outros buscadores, como o ex-líder Yahoo e o jovem Bing, mas a fatia que eles ainda possuem do mercado beira a irrelevância.
Mas, quanto ao Recanto das Letras, o UOL merece os parabéns pela iniciativa.
Decerto não o inventou, até porque no mundo globalizado pouco se inventa e muito se copia; o que até eleva o mérito de quem descobre, aperfeiçoa e consegue comercializar.