Análise da versão musical "À beira do Pantanal", de Raul Seixas
Todo fã de Raul Seixas sabe que "À beira do Pantanal" é um plágio de "Down in the Willow Garden", dos irmãos Osbourne. Aparentemente de 1947, embora a lenda da tal "Rose Connelly" seja bem mais antiga. Nessa canção, é descrito o assassinato dessa tal personagem, "Rose Connelly". É realmente fascinante como Raul traduziu a canção em uma letra sem uma personagem. Na verdade, Raul transforma uma canção que conta o golpe mortal mudando o eu-lírico, alternando entre o assassino e a vítima. Temos a voz feminina em duas estrofes da versão de Raul, o que não ocorre no original. Na verdade Raul se baseia na canção estrangeira e constrói uma nova narrativa, apoiada em uma igualdade entre homem e mulher, que possuem o mesmo espaço de fala. Embora a violência siga acontecendo, a mulher, mesmo depois de morta, segue tendo voz. É uma adaptação muito contemporânea que Raul propõe da canção, superando o original e terminando a narrativa com a voz da mulher, como que desenpoderando o homem que a violenta. É, sem dúvida, um dos maiores textos de Raul nos últimos dez anos de sua obra.
À BEIRA DO PANTANAL
Foi lá na beira do Pantanal
Seu corpo tão belo enterrei,
Foi lá que eu matei minha amada
Sua voz na lembrança eu guardei.
Por que, meu querido?
Por que, meu amor?
Cravaste em mim teu punhal?
Meu peito tão jovem sangrando assim,
Por que esse golpe mortal?
Assassinei quem amava
Num gesto sagrado de amor,
O sangue que dela jorrava
A sede da terra acalmou.
E lá onde jaz o seu corpo
Cresceu junto com o capim
Seus lindos cabelos negros que eu
Regava como um jardim.
A lei dos homens me condenou,
Perpétua será tua prisão.
Porque foi eu mesmo quem calou
Com aço aquele coração.
E eu preso aqui nessa cela
Deixando minha vida passar,
Ainda escuto a voz dela
No vento que vem perguntar:
Por que, meu querido?
Por que, meu amor?
Cravaste em mim teu punhal?
Meu peito tão jovem sangrando assim,
Por que esse golpe mortal?
Cravaste em mim teu punhal.
Por que esse golpe mortal?