Crônicas de Moacyr Scliar - impressões pessoais
“Histórias que os jornais não contam” já é de início um título que desperta a curiosidade. Para além de um engenho inaugural do autor, o livro faz jus àquilo que a capa traz, visto que Scliar vale-se de notícias, manchetes e fatos cotidianos para compor suas narrativas tão bem escritas e elaboradas, que certamente vencem pelo arrebatamento de uma crônica e pelo nocaute de uma situação inusitada, extraídas da banalidade do dia a dia ou de grandes acontecimentos pelo mundo e pelo contexto em que se encontra. Scliar inspira-se humoradamente nas experiências vividas para tocar a ficção e para beirar o imaginário. Por vezes expressa em palavras aquilo que somente pensamos quando lemos um jornal e que deixamos armazenado no fundo do pensamento como uma ideia sem nexo. O autor assim nos convida a tornar o ato de pensar algo livre e espontâneo, porque ele explora todas as possibilidades, cria caminhos e até confere um destino inimaginável a uma situação que parece óbvia. Scliar realiza o absurdo com a fluidez de um bom cronista que sabe captar a atenção em palavras breves, eternizando-as na memória de quem lê ou de quem se conecta com fatos corriqueiros cuja criatividade extrapola a razão, o bom senso e ganha a fantasia em um tom mais pessoal. Textos jornalísticos frequentemente têm o propósito de informar e são escritos em terceira pessoa, mas Scliar inova ao transpor tais textos para uma linguagem literária, em que o contato autor-leitor dá-se, e somente pode assim o ser, em primeira pessoa, sem os óbices de uma formalidade jornaleira. Este é um dos contrastes com os quais o autor brinca em seus textos, fazendo da escrita uma fonte de prazer em descobrir o que não se busca, e de compreensão sobre as entrelinhas onde a verdade pode estar escondida.