Exílio, de Lya Luft - impressões pessoais
Lya Luft é capaz de atravessar os meandros mais sutis da existência humana com suas emoções e angústias, fundindo-as em um cenário onírico de retorno do ser às suas raízes mais viscerais e remotas lembranças. É um livro que brinca com os simbolismos da vida para criar uma narrativa sensível que nos desperta a imaginação e a identificação com uma personagem muito bem aprofundada psicologicamente. A obra "exílio" remete ao encontro da realidade com o sonho, sonho este que igualmente se desdobra na feição dolorosa de um pesadelo, na tentativa de poeticamente desenhar os altos e baixos da vida.
De suas tocantes palavras, destaco:
"Contemplo a mata, que me fascina; rastejo dentro de mim num chão igual ao dela; ramos caídos, madeiras podres, silenciosos vermes, cogumelos; tudo tão longe das copas do sonho. Ou desço como quem se atira numa funda piscina e vai, em câmera lenta, nesse túnel, até onde permitem náusea e vertigem."
Ímpares descrições que nos convidam a pensamentos raros e a sensações despercebidas, na tênue linha que separa a razão e a fantasia. É intimista o seu estilo literário, que em certa medida nos lembra as obras clariceanas. Mas há um toque próprio que domina o território de insólitas palavras, tecidas em uma prosa poética sem igual.