Análise da Marselhesa e da obra A Liberdade guiando o povo
A obra “A Liberdade guiando o povo” de Eugène Delacroix apresenta em primeiro plano uma figura feminina personificando a liberdade e empunhando a bandeira da França, o que representa simbolicamente que os rumos da nação estão nas mãos da liberdade. Uma mulher foi representada, pois é considerada símbolo de uma jovem República, primeiramente instaurada na segunda fase da revolução (Convenção Nacional). Na parte inferior do quadro, observa-se cadáveres de pessoas aliadas ao rei e adeptas ao Antigo Regime, demonstrando sua queda diante da onda de revolucionários ao fundo, como forma de contraste. A violência é retratada por alguns personagens portando armas, como o homem vestindo uma cartola e aparentando ser um burguês, cujo interesse estava fortemente relacionado ao liberalismo econômico e à busca por poder, sendo uma figura importante pelo fato de a revolução francesa ser essencialmente uma revolução burguesa. Outra personagem é o menino, que conota a esperança e o futuro do país. Por meio das vestimentas dos revolucionários que se encontram mais ao fundo da obra, observa-se que são membros das camadas mais baixas, como pequenos artesãos e trabalhadores que insatisfeitos, contestavam os altos impostos e os privilégios da monarquia, e ansiavam por significativas mudanças no plano social.
A Marselhesa é considerada um hino revolucionário, por conter um tom de convite aos cidadãos que lutam pela liberdade (que se ergue como um dos pilares da revolução, juntamente com igualdade e fraternidade) do povo francês diante da ameaça de tiranos. A presença de verbos com a indicação de ordem em alguns trechos como “Formai vossos batalhões”; “marchemos” e “chegue logo” reforçam a importância da união na afirmação dos ideais. O apelo à liberdade de forma direta em trechos como “Liberdade querida, combate com os teus defensores”, juntamente com o espírito de mudança, demonstram que a letra foi escrita pelo grupo revolucionário do terceiro estado, formado pela burguesia, trabalhadores, artesãos e camponeses. “Ague o nosso arado” é uma nítida alusão aos trabalhadores do campo, por exemplo. A referência à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, instituída durante a primeira fase da revolução (Assembleia Nacional Constituinte), pode ser vista nos trechos em que o povo se intitula como cidadão “Às armas, cidadãos”. A menção às armas expressa também o caráter violento da revolução, em diversas outras passagens, o aspecto da ferocidade do processo revolucionário pode ser notado, como em “estandarte ensanguentado” e “degolar nossos filhos, nossas mulheres”, indicando uma prática comum: a decapitação por meio da guilhotina, que representa o símbolo máximo do período conhecido como “Terror”, marcado pela ascensão dos jacobinos no poder. Percebe-se que o hino não busca fazer distinções de classe. Diferentemente daquelas presentes na sociedade estamental do Antigo Regime, todos os cidadãos são tratados como “filhos da pátria”, o que remete ao ideal de igualdade presente no lema da revolução.