PROPOSTA DO PROFESSOR REINALDO KELMER
Sabemos que a catarse seria provocada pelos sentimentos profundos de piedade e de terror sentidos pelo espectador, ao assistir à tragédia. Esses sentimentos provocariam um choque, uma descarga emocional, e, após isso e como sua consequência, um sentimento de alívio e de purificação. Conforme é apresentado na aula 7, “Estudos sobre as formas dramáticas”, tela 18, escolha uma música, poema, romance ou conto, e aponte como ela ocorre no texto que você selecionou e aponte em que trecho da obra.
Obs.: Lembrem-se de que o objetivo não é trazer pesquisas feitas em sites que tratem de Língua Portuguesa e Literatura, mas sim que vocês pratiquem o que viram nas aulas.
Sabemos que a catarse seria provocada pelos sentimentos profundos de piedade e de terror sentidos pelo espectador, ao assistir à tragédia. Esses sentimentos provocariam um choque, uma descarga emocional, e, após isso e como sua consequência, um sentimento de alívio e de purificação. Conforme é apresentado na aula 7, “Estudos sobre as formas dramáticas”, tela 18, escolha uma música, poema, romance ou conto, e aponte como ela ocorre no texto que você selecionou e aponte em que trecho da obra.
Obs.: Lembrem-se de que o objetivo não é trazer pesquisas feitas em sites que tratem de Língua Portuguesa e Literatura, mas sim que vocês pratiquem o que viram nas aulas.
MINHA RESPOSTA
TEXTO ESCOLHIDO
TEXTO ESCOLHIDO
O que é a vida? O que é a morte?
Autor: Sílvia M. L. Mota
Autor: Sílvia M. L. Mota
Quando eu e minha irmã chegamos ao hospital, nosso irmãozinho dormia tranquilamente, com alguns fios enfiados no nariz e na boca. Mamãe, trêmula, falou baixinho que o fim estava próximo. Algumas pessoas queridas adentraram o recinto, que se amortalhava. O diretor do colégio trajava óculos escuros, no afã de esconder a emoção; e aquela senhora praticante da mesma fé, juntou as mãos em oração silenciosa.
Mal chegáramos, seu corpo frágil iniciou respiração diferente. Mamãe acercou-se do leito; papai também. Protetores, sempre. Intervalo ritmado... cada vez mais espaçadamente... uma vez agora... outra... outra... outra... outra... outra... até parar de uma vez... Nesse momento, seus olhos esverdeados abriram-se, num último olhar às queridas irmãs. Fixou-se em nós e se foi. O que significaria aquele olhar? Adeus? Até breve? Até nunca mais? Ou seria simplesmente em agradecimento por estarmos ali, naquele momento em que a gaiola dourada de sol abria-se, para que voasse para a eternidade? Fiquei a esperar - meio sem querer entender tudo aquilo - para ver se respiraria mais uma vez... Nada... Foi tudo muito rápido e incontrolável. Pareceu-me uma lâmpada, que se desligava da tomada. Meu pai, com os olhos transparentes de lágrimas e dor, agarrou-se aos pés da cama, a exarar uma única frase: - Graças a Deus... Então, compelida a entender aquela realidade, comecei a chorar. Mamãe ralhou: - Não chore; ele não queria... pediu-me que ninguém chorasse! - Mas, desobedeci e chorei.
Aproximamo-nos do corpinho tão branco. Minha irmã cerrou-lhe os olhos...
Quando tudo parecia ter chegado ao fim, os olhos desesperadamente em paz da minha mãe acariciaram aquelas mãozinhas inertes e ainda quentes: - Minhas mãozinhas... - sussurrou. Despediu-se daquelas duas joias, que todas as manhãs lhe ofereceram violetas plantadas por ele mesmo num cantinho do quintal da nossa casa, numa forma inesquecível de homenagear a mãe idolatrada. Almas gêmeas, mãe e filho. Mãe enamorada, num soluço contido, afagou-lhe os braços e o rosto, docemente. Beijou-o por inteiro, para que se sentisse protegido pelo seu amor, mesmo depois de morto.
- O pior virá depois... na saudade... - murmurou num fio de voz.
Quanta verdade naquele desespero refreado pela fé! Nenhum poeta jamais conseguirá descrever o paradoxo daquela despedida: tristeza e beleza, inigualáveis! Tenho-a gravada na minha íris, para sempre...
Depois disso, se me pergunto o que é a Vida ou o que seja a Morte, relembro aquela tarde de domingo triste e respondo-me: - Uma lâmpada que se acende; outra que se apaga...
Assim foi a morte do meu irmão caçula, aos dez anos de idade, provocada por um câncer arrebatador. A única pessoa que assisti morrer, por toda a minha vida.
ANÁLISE DO FENÔMENO “CATARSE”, NO TEXTO
Estimado Professor,
A palavra é magia e, como tal, leva-nos a emoções que perambulam da alegria à tristeza, do conforto ao desconforto, do reconhecimento ao estranhamento. Pesquisas realizadas revelam que, etimologicamente, a palavra catarse vem do grego – kátharsis – e significa purificação dos sentimentos de terror e piedade, purgação, mênstruo, alívio da alma pela satisfação de uma necessidade moral. Mas, como identificá-la num texto literário? Quais os significados para purificação, terror e piedade, que se devem levar em consideração, de forma universal, se esses sentimentos são subjetivos? Sendo assim, o que um indivíduo considere catarse, talvez não o seja para outro. Entenderei os termos como emoção que se desperta no leitor: “[...] partícipe do texto literário na medida que interage com ele”, a partir da sua própria individualidade. (KELMER, Reinaldo. Fórum da disciplina Teoria da Literatura I. Comentário à aluna Tatiana Latini Coelho dos Santos realizado em: 21 out. 2016 às 16:35:40).
Ainda que nascimento e morte sejam fatos da vida - ritos de passagem - o texto em epígrafe conduz o leitor à clarificação racional das paixões, mediante a criação gradativa de ocorrência comovente: “Intervalo ritmado... cada vez mais espaçadamente... uma vez agora... outra... outra... outra... outra... outra... até parar de uma vez...” No momento em que a morte se instaura – ápice do deleite contemplativo - ocorre a catarse: “Fixou-se em nós e se foi.” O eufemismo abranda o sofrimento, tornando-o luxuoso: “[...] naquele momento em que a gaiola dourada de sol abria-se, para que voasse para a eternidade?” A expressão “- Graças a Deus...” proferida pelo pai, de forma doída, mas resignada, coloca fim ao sofrimento e traz alívio ao leitor, que sobrecarregado de tensão piedosa e medo da morte, compreende o fim e o aceita. A catarse, ao meu olhar, também ocorre por parte do eu-poético criador – que narra, desvenda, comove, sofre e silencia nas reticências que finalizam o texto: “- Uma lâmpada que se acende; outra que se apaga...”
Espero que minha compreensão a respeito do termo “catarse” esteja de acordo com as orientações recebidas.
Cordialmente,
Sílvia M. L. Mota