A literariedade no soneto alexandrino
"Notivaga ferida", de Sílvia Mota
"Notivaga ferida", de Sílvia Mota
PROPOSTA DO PROFESSOR REINALDO KELMER
Podemos continuar a busca por uma resposta a partir das propostas de um grupo de linguistas: os formalistas russos. No começo do século XX, esse grupo propôs-se a construir uma Ciência da Literatura, tendo como preocupação fundamental determinar o que denominavam Literariedade. Os formalistas russos relacionaram a Literariedade ao tipo de linguagem empregado nos textos. O texto portador de Literariedade e, consequentemente, literário; é aquele cuja linguagem difere radicalmente da fala utilizada em nosso cotidiano: possui linguagem literária, também denominada linguagem poética.
Literariedade: é a qualidade inerente ao texto literário.
Com base na nossa aula 1 sobre “O que é Literatura?”, escolham um poema e apontem como a literariedade se faz presente nele, de acordo com o que é assinalado no texto acima. Produzam um texto, com no máximo 5 linhas.
Obs.: Lembrem-se de que o objetivo não é trazer pesquisas feitas em sites que tratem de Literatura, mas sim que vocês pratiquem o que viram nas aulas.
RESPOSTA DE SÍLVIA M. L. MOTA
Caro Professor,
Segue o poema escolhido, da minha autoria.
Notívaga ferida
Noturna caçadora - em plenilúnio intenso,
cavalgo na quimera, a crina ambígua ao vento.
Telúrica visão de punho em arco tenso,
transpasso em flecha a dor que aninha o sofrimento.
Noturna caçadora - ardor de fogo imenso,
sou peito entrecortado, um beijo sem talento.
A lama da tristeza afoga sem consenso
e fere descuidada o riso solto ao vento.
Sou pélago profundo e a maldição que empluma,
o lábio sem perfume e a cor do vento em lume -
vivência pastoril, sem paz ou flor nenhuma.
Saudade é farpa atroz e avanço em pranto e bruma,
ao louco som da morte em seu cruel queixume –
sou trôpego final da fé que não se apruma!
A partir da estrutura e da linguagem utilizada no poema, busco provocar no leitor um “estranhamento”, sob o intuito de que isso o levará à percepção automática do meu pensamento. A literariedade acompanha o texto, por inteiro. Foi, como se sabe, Roman Jakobson quem, em ensaio de 1919, utilizou-se dessa última expressão para designar os objetivos dos estudos literários: "O objeto da ciência da literatura, não é a literatura mas a literariedade (literaturnost), isto é, o que faz de uma obra dada uma obra literária." JAKOBSON, Roman. A nova poesia russa. Citado na Tradução francesa de Tzvetan Todorov em Poétique, 7 (1971), p. 290.
Trata-se de um soneto alexandrino, portanto, com 14 versos. Os quartetos apresentam-se com duas rimas alternadas (ou cruzadas): ABAB-ABAB. Os tercetos apresentam-se com duas rimas: cdc-cdc. Privilegiei as rimas ricas (quando as palavras rimadas são de categorias gramaticais diferentes). Exemplos no poema: bruma (substantivo) - apruma (verbo); nenhuma (pronome indefinido) - empluma (verbo). O texto é ritmado: presença da tônica na 2ª, 4ª, 6ª, 8ª, 10ª e 12ª (acentuação Yâmbica) e atendendo a exigência do alexandrino, no que diz respeito à acentuação tônica nas 6ª e 12ª sílabas. Os segundos hemistíquios de todos os versos terminam com palavras paroxítonas (chamadas de palavras graves, por Olavo Bilac e Guimaraens Passos, em seu "Tratado de versificação"). Ao término do primeiro hemistíquio, com palavra paroxítona terminada em vogal, a próxima palavra começa com uma vogal átona ou consoante muda, para haver a elisão.
Alguns exemplos de figuras literárias utilizadas no poema.
Metáforas e Hipérboles:
"Noturna caçadora - ardor de fogo imenso, (hipérbole)
"sou peito entrecortado, um beijo sem talento" (hipérbole, hipérbole)
"Sou pélago profundo e a maldição que empluma" (metáfora, hipérbole)
"Saudade é farpa atroz e avanço em pranto e bruma, (hipérbole, hipérbole)
"ao louco som da morte em seu cruel queixume" (hipérbole)
Contradição:
"vivência pastoril, sem paz ou flor nenhuma"
Assonância:
"cavalgo na quimera, a crina ambígua ao vento. (assonância em "a")
Aliteração:
"Sou pélago profundo e a maldição que empluma (aliteração em "p")
Segue o poema escolhido, da minha autoria.
Notívaga ferida
Noturna caçadora - em plenilúnio intenso,
cavalgo na quimera, a crina ambígua ao vento.
Telúrica visão de punho em arco tenso,
transpasso em flecha a dor que aninha o sofrimento.
Noturna caçadora - ardor de fogo imenso,
sou peito entrecortado, um beijo sem talento.
A lama da tristeza afoga sem consenso
e fere descuidada o riso solto ao vento.
Sou pélago profundo e a maldição que empluma,
o lábio sem perfume e a cor do vento em lume -
vivência pastoril, sem paz ou flor nenhuma.
Saudade é farpa atroz e avanço em pranto e bruma,
ao louco som da morte em seu cruel queixume –
sou trôpego final da fé que não se apruma!
A partir da estrutura e da linguagem utilizada no poema, busco provocar no leitor um “estranhamento”, sob o intuito de que isso o levará à percepção automática do meu pensamento. A literariedade acompanha o texto, por inteiro. Foi, como se sabe, Roman Jakobson quem, em ensaio de 1919, utilizou-se dessa última expressão para designar os objetivos dos estudos literários: "O objeto da ciência da literatura, não é a literatura mas a literariedade (literaturnost), isto é, o que faz de uma obra dada uma obra literária." JAKOBSON, Roman. A nova poesia russa. Citado na Tradução francesa de Tzvetan Todorov em Poétique, 7 (1971), p. 290.
Trata-se de um soneto alexandrino, portanto, com 14 versos. Os quartetos apresentam-se com duas rimas alternadas (ou cruzadas): ABAB-ABAB. Os tercetos apresentam-se com duas rimas: cdc-cdc. Privilegiei as rimas ricas (quando as palavras rimadas são de categorias gramaticais diferentes). Exemplos no poema: bruma (substantivo) - apruma (verbo); nenhuma (pronome indefinido) - empluma (verbo). O texto é ritmado: presença da tônica na 2ª, 4ª, 6ª, 8ª, 10ª e 12ª (acentuação Yâmbica) e atendendo a exigência do alexandrino, no que diz respeito à acentuação tônica nas 6ª e 12ª sílabas. Os segundos hemistíquios de todos os versos terminam com palavras paroxítonas (chamadas de palavras graves, por Olavo Bilac e Guimaraens Passos, em seu "Tratado de versificação"). Ao término do primeiro hemistíquio, com palavra paroxítona terminada em vogal, a próxima palavra começa com uma vogal átona ou consoante muda, para haver a elisão.
Alguns exemplos de figuras literárias utilizadas no poema.
Metáforas e Hipérboles:
"Noturna caçadora - ardor de fogo imenso, (hipérbole)
"sou peito entrecortado, um beijo sem talento" (hipérbole, hipérbole)
"Sou pélago profundo e a maldição que empluma" (metáfora, hipérbole)
"Saudade é farpa atroz e avanço em pranto e bruma, (hipérbole, hipérbole)
"ao louco som da morte em seu cruel queixume" (hipérbole)
Contradição:
"vivência pastoril, sem paz ou flor nenhuma"
Assonância:
"cavalgo na quimera, a crina ambígua ao vento. (assonância em "a")
Aliteração:
"Sou pélago profundo e a maldição que empluma (aliteração em "p")
MOTA, Sílvia M. L. Notívaga ferida. Recanto das Letras. Disponível em: https://www.recantodasletras.com.br/sonetos/5724346
MOTA, Sílvia M. L. Encanto dos sonetos na vida do poeta. Recanto das Letras. Disponível em: https://www.recantodasletras.com.br/teoria-literaria-sobre-soneto/3224320
MOTA, Sílvia M. L. Encanto dos sonetos na vida do poeta. Recanto das Letras. Disponível em: https://www.recantodasletras.com.br/teoria-literaria-sobre-soneto/3224320
AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE, PELO PROFESSOR
Cinco estrelas
Sílvia,
Análise técnica precisa. Valeu pela contribuição.
RK
Sílvia,
Análise técnica precisa. Valeu pela contribuição.
RK