A CONQUISTA DA ALMA
SINOPSE: A história que pretendo escrever aqui tem uma temática filosófica e é totalmente ficcional. Ela se passa na Europa do início do século 21. Como protagonista ela apresenta o prof. Peter Weissenberg, um alemão da extinta Alemanha Oriental, criado desde a tenra infância na Inglaterra, apenas por sua mãe, Johnna Weissenberg, pois seu pai, Wilhelm Weissenberg, morrera de uma causa não revelada, supostamente suicídio, logo depois de ter chegado com sua família ao Reino Unido. A trama se desenvolve a partir da vida de Peter Weissenberg como professor de uma universidade de Londres, donde é demitido por causa de suas aulas e comentários nada tradicionais sobre alguns filósofos. Diante disso Weissenberg decide-se por viajar por certos países para colher subsídios para um livro de Filosofia que pretende publicar. Sob a tutela de um editor, Sir Edward Castlestone, simpatizante de suas ideias e teoria, Weissenberg publica uma obra polêmica, de cunho filosoficorreligioso, que apresenta fortes argumentos contra boa parte do que as Religiões pregam, causando a ira de líderes religiosos e fieis radicais e fanáticos.
*Peço que leiam com toda a atenção possível este primeiro capítulo, considerando-o como “Piloto” de todos os capítulos vindouros, façam seus comentários e críticas (sugestões também poderão ser aceitas) e os enviem para o meu e-mail (terapiadaeducacao@hotmail.com). Caso esta história caia no agrado da maioria de vocês, ficarei muitíssimo grato e darei continuidade nesta plataforma, blog ou site, de forma a futuramente publicá-la na íntegra em formato impresso e digital. Com minha gratidão!
Capítulo I (Piloto)
O NOVO DIVISOR DE ÁGUAS
As palavras são poderosas fontes de transformação do pensamento humano e de transmissão do conhecimento que a humanidade adquire sobre si e o mundo no qual está inserida. Quando pronunciadas, podem liberar uma força devastadora ou criativa naqueles que as ouvem, mas na maioria das vezes se perdem no ar em segundos ou são esquecidas ao longo do tempo; no entanto, quando escritas, seu potencial pode se multiplicar numa proporção incalculável, perpetuando-se e alcançando gerações e gerações de homens no futuro. Sem dúvida alguma, foi por esta razão que a publicação do livro do professor, filósofo e místico Peter Weissenberg teve o efeito de uma bomba sobre homens da ciência, pensadores, líderes religiosos, estadistas e de outros milhões de leitores das mais variadas tendências e áreas do conhecimento, além da gente comum. O título do livro do prof. Weissenberg, por si, só era provocativo e intrigante, O Coroamento Transcendental – A Conquista da Alma Individual através do Pensamento e da Ação. É sobre o prof. Weissenberg, sua obra e os impactos dela sobre a humanidade que tratarei a partir daqui.
Nascido na antiga Alemanha Oriental, em 1964, porém criado e educado na Inglaterra, o pequeno Peter desde cedo demonstrou um espírito perscrutador e contestador. Antes mesmo de ir para a escola, passava horas caminhando no jardim de sua casa, como se observasse cada detalhe das plantas, das flores, das borboletas e de tudo que tivesse um sopro de vida. Sua mãe, Johanna Weissenberg, sempre muito próxima, observava-o constantemente e não poucas vezes aproveitava a hora do almoço ou jantar para lhe perguntar o que ele tanto admirava no jardim, em que ele pensava enquanto passeava por lá. Nem ele mesmo sabia e, como é comum quando se é criança, respondia “Nada!”. Seu pai, Wilhelm Weissenberg, morrera dois anos depois de chegarem à Inglaterra de causa desconhecida, suspeita-se de suicídio.
Depois, já na escola, embora excelente aluno em todas as matérias, não deixava passar qualquer oportunidade para questionar ou aprofundar certo assunto das aulas, deixando muitas vezes seus professores em maus lençóis. Foi assim que cresceu e chegou à universidade, onde se formou em Filosofia, além de enveredar por outras áreas do conhecimento, como Biologia, Genética e Psicologia. Com esse arcabouço de conhecimento, logo passou a lecionar e foi então que aquele já citado espírito contestador se evidenciou a ponto de incomodar outros professores e alguns alunos mais ortodoxos. Ensinava principalmente a filosofia de Platão, Kant, Schopenhauer, Nietzsche e outros poucos filósofos, mas fazia pontuações próprias que não eram encontradas nem nos comentadores desses filósofos e nem corroboradas pelos seus pares na universidade. Por essa razão, foi muitas vezes chamado ao gabinete do reitor para dar explicações sobre suas aulas nada tradicionais e se adequar ao modelo educacional da instituição. Coisa que não fez e tornou sua permanência na instituição insustentável.
Diante disso e sem conseguir recursos de outras instituições para o seu projeto filosófico, resolveu bancar do próprio bolso uma viagem por vários países onde pretendia colher subsídios para sua grande teoria filosófica. Sua primeira parada foi em Roma, na Itália, tendo ali travado conversações com membros do Vaticano, inclusive, evidentemente, o papa. Os temas religiosos eram de grande interesse para ele, por isso resolvera começar por ali. Deixou para o final, Japão, Tibete e Índia, tendo passado vários meses no Himalaia. Ficara extremamente impressionado com o estilo exótico de vida dos sadhus e dos milhões de devotos de várias deidades hindus e tibetanas. Aprofundou-se no estudo do hinduísmo, islamismo, budismo e do taoísmo, além de fazer várias anotações sobre dezenas de seitas surgidas dessas religiões. Depois de pouco mais de cinco anos, considerando que já tinha material suficiente para a realização do seu trabalho, voltou à Inglaterra para escrever seu livro bombástico.
Não foi nada fácil conseguir um editor para sua obra. Muitos o tomaram como louco, outros apenas temeram se expor diante de um mundo que parecia já ter alicerçadas suas bases científicas, filosóficas e religiosas, suas convicções e suas verdades. Por fim, encontrou seu editor num homem de visão mística, mente aberta e de pensamento inovador como ele, Sir Edward Castlestone. Após muitos encontros e longas conversas sobre temas filosóficos, religiosos e místicos, a amizade e admiração mútua cresceu consideravelmente e Sir Castlestone, um rosacruz e admirador da Sociedade Teosófica, fundada por Helena Blavatsky e outros, não teve dúvidas que estava diante de um homem incomum e de extraordinária visão misticofilosófica. Foi assim que O Coroamento Transcendental – A Conquista da Alma Individual através do Pensamento e da Ação foi publicado e chegou às livrarias do mundo inteiro e, consequentemente nas mãos de homens importantes no cenário mundial, assim como dos mais simples da humanidade.
Sir Castlestone investiu não só na publicação da obra do prof. Weissenberg, mas também, como bom capitalista e prevendo um retorno altamente lucrativo, em uma maciça publicidade sobre o livro. De tal forma que seis semanas antes do lançamento do livro, o prof. Weissenberg fora convidado por uma Universidade holandesa para dar uma palestra sobre sua obra e, em seguida, várias outras, na Alemanha, Bélgica, Escócia e na própria Inglaterra. O professor sabia da importância daquelas palestras, mas também sabia que, devido à polêmica que a temática de sua obra causaria, deveria ser cauteloso, portanto, discorreu em todas elas apenas sobre as bases filosóficas do seu livro, as quais se assentavam sobre o mundo das ideias de Platão, a coisa-em-si da filosofia kantiana, a vontade cega defendida por Schopenhauer e a vontade de potência apresentada nas obras de Nietzsche. A partir de então, a imprensa europeia dedicou páginas e páginas de seus jornais e revistas, tanto em papel quanto em formato digital. Pesar de todo o cuidado tomado pelo prof. Weissenberg, os editores e jornalistas escreveram matérias como se quisessem acautelar os leitores sobre o que eles leriam no trabalho do professor. Os leitores sentiram no ar que encontrariam algo muito interessante naquelas páginas e o evento de lançamento do livro do prof. Weissenberg produziu uma corrida frenética de gente curiosa sobre o assunto que encontrariam nele. Assim, no dia em que os exemplares chegaram às bancas, primeiramente da Inglaterra e todo o Reino Unido, e posteriormente de muitos outros países da Europa e da Ásia, as pessoas se acotovelaram para conseguir pelo menos um exemplar, pois muitos também queriam comprar para dar a amigos e parentes. De tal modo que em poucas horas não havia mais nenhum nas prateleiras. Um sucesso de vendas estrondoso, um best-seller instantâneo, logo de cara, porém com efeitos devastadores sobre o mundo inteiro, em poucos dias.
Embora tivesse mais de 700 páginas, O Coroamento Transcendental, foi lido a toque de caixa e em menos de uma semana fez com que líderes mundiais, da política e da religião, se pronunciassem contra a obra do prof. Weissenberg. O papa foi cauteloso ao comentar sobre o livro, mas, como líder da Igreja católica, procurou orientar os fieis a não se deixarem levar por elucubrações filosóficas que tivessem por alvo afrontar ou distorcer “a palavra de Deus”, assim como lucrar com a ingenuidade dos leitores. No entanto, padres católicos e pastores evangélicos foram mais contundentes em suas críticas, incitando mesmo seus seguidores a não lerem “aquela coletânea de blasfêmias”. Houve até quem ameaçasse o prof. Weissenberg de morte – reação muito comum entre radicais e fanáticos religiosos. Nessas ameaças, exigiam que o professor se retratasse diante da comunidade internacional em geral e de todos os cidadãos do mundo (homens de bem, tementes a Deus), ou ele sentiria na pele “a ira do Senhor”.
Tal fato forçou o prof. Weissenberg a sair da Inglaterra e se refugiar em local desconhecido, a fim de proteger sua integridade física e intelectual dos mais radicais. Sir Edward Castlestone também recebeu veementes críticas e agressões por meio de jornais e outros veículos de comunicação, mas, como um homem de prestígio e fama (conquistados com um capital financeiro invejável), em toda a Grã-Bretanha e boa parte da Europa, soube com certa desenvoltura conter os ânimos dos mais exaltados, exortando-os a considerarem o livro como uma obra filosófica de mesma abrangência e intencionalidade das de outros pensadores de séculos atrás, como Kant, Kierkegaard, Schopenhauer, Nietzsche ou Russel . Foi também ele quem providenciou a fuga e o esconderijo do prof. Weissenberg, sem que ninguém o soubesse, é claro. Não obstante, a repercussão do livro no mundo inteiro gerou ondas de protestos veementes e impôs às autoridades, chefes de Estado e religiosos, uma tomada de decisão sobre o que fazer com aquela obra que já circulava no mundo inteiro, nas mãos de homens de todas as espécies e de todos os tipos de caráter. Não havia como exigir a destruição em fogueiras de todos os exemplares vendidos, como seria de se testemunhar na Idade Média, e o que dizer de proibir a produção e venda de novos? Havia muita gente que ainda queria adquiri-lo, lê-lo, enquanto milhares de livrarias ansiavam pelo lucro que as vendas do livro garantiriam a elas.
O tempo não anda para trás, e os fatos produzidos nele não podem ser simplesmente apagados como palavras escritas sobre o papel. Diante disso, o que restou foi um mundo obrigado a repensar alguns valores e princípios que tinha como fundamentais e inalteráveis, levando em consideração, a partir de então, uma teoria filosófica que, apesar de embaraçadora e desconcertante para aqueles acostumados a sua zona de conforto, que pensam somente dentro da própria caixa e adoram o chamado “lugar comum”, aqueles que temem o novo porque tudo o que novo lhes tira a paz e a segurança, enfim, esse mundo estava agora diante de uma suposta verdade que não poderia ser simplesmente desconsiderada. O prof. Peter Weissenberg acabara de impor a toda a humanidade um novo divisor de águas.