ANÁLISE DO CORDEL, O PLANETA ÁGUA ESTÁ PEDINDO SOCORRO, DE MANOEL MONTEIRO
Em uma análise mais atenta do folheto de cordel, O planeta água está pedindo socorro, de autoria do poeta cordelista Manoel Monteiro da Silva, podemos perceber a enorme preocupação do autor quanto à questão da preservação do meio ambiente. Em especial, no que diz respeito ao problema da água no planeta, a qual vem sendo utilizada de forma bastante irresponsável. Um dos mais criativos escritores de cordéis da atualidade, Manoel Monteiro sempre direcionou alguns de seus trabalhos no sentido de conscientizar as pessoas sobre algum mal que atinja a sociedade.
A capa do folheto é bastante sugestiva e antecipa a leitura do folheto: retrata um cenário de seca, com cabeças de animais mortos e plantas típicas da caatinga. Nesse cenário aparece uma mulher carregando um balde de água na cabeça, e ao seu lado, o filho muito desnutrido Percebe-se que o autor, com essas imagens, procura causar impacto no leitor para que ele leia o folheto com mais atenção.
O poeta começa a expressar sua preocupação, logo no título: O planeta água está pedindo socorro. Uma leitura atenta permite verificar que o enfoque do poeta é a preocupação com a falta d’água no mundo, não em um futuro próximo e sim, no presente, por isso usa o verbo estar no presente “está”.
Através dos versos deste Cordel, Manoel Monteiro busca alertar a população do perigo iminente da escassez de água em todo o mundo, dando dicas simples, porém importantes, de como diminuir o consumo excessivo, economizando ao máximo a água potável. Para isso, faz um apelo à educação e ao bom senso das pessoas, no sentido de que elas se conscientizem do problema, procurando poupar agora toda a água que poderá fazer falta no futuro, a exemplo das estrofes abaixo, entre outras.
“Vão aqui algumas dicas
Pra fazer economia:
Banho quente é repousante
Mas não passe nele um dia,
Senão a conta na frente
Fará desse banho quente
Você entrar numa fria.
Tem gente que demora
Meia hora no banheiro,
Dois banhos são uma hora,
Somam trinta o mês inteiro.
Essa demora é nefasta
A água que um desse gasta
Dá pra encher um barreiro.
O sanitário consome
De água uma boa carga,
Pois de 10 a 15 litros
Se vão na descarga,
Estou dizendo a vocês
Que é isso no fim do mês
Que deixa a ‘continha’ amarga”.
De acordo com os seus versos e rimas, fazer uso da água com racionalidade significa, em médio prazo, pensar no futuro da humanidade como um todo, uma vez que a água doce não é um recurso renovável. Mesmo que o homem, em toda sua ambição desmedida, não consiga fazer com que a água desapareça por inteiro, ainda assim, pode torná-la imprestável para o consumo, condenando a um fim muito próximo a vida animal e vegetal do planeta. Sem água não há condições de haver vida, ainda mais quando sabemos que apenas 0,02% do total de água da superfície terrestre é potável.
Diante dessa realidade, o ser humano não deve se limitar apenas a questões técnicas ou científicas, uma vez que os maiores problemas do planeta clamam por um ser mais reflexivo e igualmente consciente, solidário ao próximo e à natureza. Toda pessoa de bom senso sabe que economizar água passa a ser agora uma questão de conscientização coletiva. O mestre Manoel Monteiro, de forma simples e clara, reflete sobre isso nas seguintes estrofes:
“É possível que alguém
Vendo a imensidão do mar
Ache que tem tanta água
Que pode desperdiçar,
Mas isso não é verdade
Preste atenção, por bondade,
No numero que vou lhe dar.
Água pura de beber
É bastante limitada
Água salgada tem muita
Mas de toda água somada
Pelo que já apurou-se
Dois por cento é água doce
O resto é água salgada.”
Além das ações e medidas que correspondem ao perfeito funcionamento de instalações hidráulicas, bem como dos direitos e deveres do consumidor dentro da lei, o poeta aponta ainda para medidas simples e educacionais que podem fazer parte do dia a dia de todos, sem prejuízo do conforto de quem utiliza a água em suas tarefas diárias.
Composto poeticamente em septilhas, em 46 estrofes de pura sabedoria popular, podemos observar nos versos deste folheto de cordel a estreita relação do narrador com o seu público, onde o poeta, com sua enorme capacidade de síntese, consegue transpor para o papel uma importante mensagem relativa à preservação do meio ambiente. O consumo moderado da água e as suas mil e uma maneiras de aproveitamento são os pontos altos desta obra.
“Reutilizar a água
Que desce pelo chuveiro
Aproveitar o saponáceo,
A soda cáustica e o cheiro,
A conta d’água não cresce
E o sanitário agradece
Essa água do banheiro.”
Na primeira estrofe o poeta faz uma pergunta:
“Você sabia que é
Preciso economizar
Água doce de beber
Porque senão vai faltar?
E que é muito provável
Que a água doce e potável
Em breve possa acabar?”
E, logo na segunda estrofe, responde-a:
“Se sabia, muito bem,
Senão vai ficar sabendo
Que por falta de cuidados
Tem manancial morrendo,
Uns, sujam a água que bebem
E nem de longe percebem
O mal que estão cometendo.”
O poeta afirma que a água é um recurso natural indispensável à sobrevivência do homem, das plantas e dos animais, além de ser um elemento básico para o desenvolvimento da humanidade. Percebe-se isso nas estrofes seguintes:
“Nosso PLANETA/ÁGUA/TERRA
Só tem a água que tem,
Sem água, todos sabemos,
Não sobrevive ninguém,
Quem sabe disso propala
Que devemos preservá-la
Para o nosso próprio bem.”
Percebe-se nessa estrofe, quando o poeta afirma: “Quem sabe disso propala”, o caráter jornalístico da informação, corroborando com Galvão (2001, p. 88), ao afirmar “Vários estudiosos identificaram a literatura de cordel como um sistema paralelo e particular de jornalismo”. Porém, os cordéis, diferentemente dos jornais, não têm a preocupação típica do jornalismo que é a impessoalidade, a imparcialidade, ao contrário, o cordelista coloca toda a sua emoção nos poemas, como se percebe nos trechos abaixo:
“E o homem ‘bicho insensível’
Com isto não se comove,
Teima em não compreender
Que falta a prova dos 9
O mundo não tem saída
Pois sem água não tem vida
E sem mata não chove”.
Observa-se que o autor se utiliza de várias técnicas de persuasão e convencimento para que o leitor acate a ideia proposta.
Nos versos abaixo, percebemos fatos que provocam no leitor um sentimento de que o poeta é alguém que conhece profundamente o assunto e vive essa realidade e luta por ela, dialogando com o leitor como se este estivesse presente no momento da leitura, Observa-se que o poeta se utiliza de várias técnicas de persuasão e convencimento para que o leitor acate a ideia proposta.
“Você não desperdiçando
O ganho vai ser geral,
Além do mais fará jus
À convite especial,
Pra desfilar na avenida
Encenando o show da vida
E no papel principal.”
Percebe-se nesta estrofe que o poeta Manoel Monteiro quer passar a ideia de que o mundo requer novas atitudes. Para ele, é imperativo a contribuição moral do ser humano. Em todo o cordel, ele busca no leitor uma pessoa ativa, consciente de seu papel na sociedade.
Para Manoel Monteiro, cada um de nós tem uma parcela de responsabilidade nesse conjunto de coisas, mas, como não podemos resolver tudo de uma só vez, que tal começarmos a dar a nossa contribuição no dia-a-dia? Como não dá para viver sem água, é essencial fazer um uso racional deste recurso precioso. A água deve ser usada com responsabilidade e parcimônia. Para nós, consumidores, também significa mais dinheiro no bolso. A conta de água no final do mês será menor. O mais importante, no entanto, é termos a consciência de que estamos contribuindo, efetivamente, para reduzir os riscos de matarmos a nossa fonte de vida: a água. Conferimos isso nos trechos abaixo:
“Vão aqui algumas dicas
Pra fazer economia:
Banho quente é repousante
Mas não passe nele um dia.
Senão a conta na frente
Fará desse banho quente
Você entrar numa fria.
Não é demais repetir
Toda hora e todo dia,
Que água é um bem finito
Só tem a mesma quantia.
De que lhe vale um tesouro
Se você tem muito ouro
Mas não dispõe de água fria?”
Atualmente, muito se fala sobre reciclagem, desperdício de água e luz. Apesar de toda essa divulgação, muitas pessoas acham que o cuidado com a natureza é obrigação só do governo e não fazem nada para ajudar. O poeta alerta para esse fato:
“Este cordel traz nos versos
Lições que valem lembrar,
Exemplo: o valor dos erres
Onde um é RECICLAR
(Para melhorar o mundo)
REUTILIZAR, o segundo;
Terceiro, REAPROVEITAR.”
Preservação ambiental é a prática de preservar o meio ambiente. Essa preservação é feita para beneficiar o homem, a natureza ou ambos. A pressão por recursos naturais muitas vezes faz com que a sociedade degrade o ambiente a sua volta, por isso é essencial as medidas de preservação do meio ambiente.
A preservação ambiental é uma preocupação crescente por parte das pessoas, organizações e governo. Desde os anos 60, a atividade de organizações de proteção do meio ambiente vem atuando em favor da preservação ambiental, para tentar garantir que tenhamos um planeta ambientalmente mais sustentável. A preservação ambiental é um dever de todas as pessoas.
Paulo Seixas, setembro, 2013