RELENDO O “GATEKEEPER”: NOTAS SOBRE CONDICIONANTES DO JORNALISMO

Análise de texto - Campina Grande/PB - 2011

O artigo da professora Sônia Serra, Relendo o “Gatekeeper”: notas sobre condicionantes do jornalismo, faz uma releitura minuciosa e completa desta antiga teoria comunicacional. É baseado essencialmente nos estudos empíricos sobre os emissores, de David White, em 1950, que por sua vez partiu de uma analogia proposta pelo psicólogo social Kurt Lewin, o qual representou os jornalistas como “porteiros” ou “vigias” da notícia. O artigo visa compreender as múltiplas facetas que levam a teoria do Gatekeeper a influenciar e até interferir na prática jornalística, passando por repórteres até editores e donos de empresas de comunicação.

Dividido em duas partes, este artigo ainda propõe um reexame dos grandes conceitos e abordagens clássicas para a investigação das atuais configurações do jornalismo nas redações off-line e on-line, uma vez que, segundo os acadêmicos David White e Warrem Breed, as possibilidades oferecidas pelas abordagens tradicionais para o estudo das novas configurações do jornalismo nas redações podem não estar totalmente esgotadas.

Desta forma, através de um seminário que será amplamente discutido, iremos analisar diversos aspectos da teoria do Gatekeeper pautados no artigo em questão. Veremos que, no Brasil, como em muitos outros países, os jornalistas ainda tendem a desenvolver seus trabalhos de uma forma natural e não problemática de retratar a realidade, embora estudiosos da comunicação, há muito tempo, enfatizam que as notícias não são meramente encontradas ou descobertas, e sim, produzidas (Tuchman, 2002:80)

Em sua pesquisa empírica, uma das primeiras sobre a influência no conteúdo jornalístico, e seguindo a analogia proposta por Lewin de que, analisando o funcionamento do Gate se descobriria quais os verdadeiros “Gatekeepers”, David White realizou um estudo de caso que não se utilizou de uma abordagem etnográfica. Valeu-se tão somente da assistência do editor telegráfico de um jornal metropolitano, que trabalhava com ele na universidade, e que também foi entrevistado.

Após uma semana de trabalho, white classificou suas anotações em duas grandes categorias, segundo o motivo da rejeição, as quais abrangiam ainda sete categorias principais de assunto. Diante desses dados e com base na entrevista, White (1993:145) concluiu que a “comunicação de ‘notícias’ é extremamente subjetiva e depende de juízos de valor, baseados na experiência, atitudes e expectativas do Gatekeeper.”

Entretanto, o professor da universidade da Califórnia, Michael Schudson, afirma que o modelo pioneiro de White, que relaciona o processo de seleção das notícias a critérios subjetivos do jornalista, em uma última análise é “tão confuso quanto sugestivo”. E reconhece também que nenhuma das abordagens, de maneira isolada, consegue jamais explicar tudo que queremos saber sobre os processos midiáticos e que uma nova sociologia da produção de notícias tem que procurar integrar todas elas. Ainda segundo o acadêmico britânico James Curram, não existe um modelo universalmente válido, e a produção de notícias depende das pressões e contrapressões a que estão sujeitos os diversos meios.

Como se sabe, o jornalismo contemporâneo vem passando por grandes e reais transformações, as quais se encontram relacionadas com as mudanças históricas e com o desenvolvimento de novas tecnologias da comunicação. Portanto, o artigo procura rever abordagens tradicionais aplicadas à sociologia da produção de notícias e os estudos pioneiros que formaram conceitos clássicos do jornalismo. Apesar das críticas recebidas e dos limites da pesquisa de White, a noção de “Gatekeeper” permanece uma metáfora influente.

Aqueles que defendem a economia política crítica, entendem que as variações em uma cobertura jornalística estão intrinsecamente relacionadas com diferentes padrões de propriedade e controle dos meios e relações entre o estado e as organizações midiáticas. Ou seja, existem restrições que são bastante claras. Trata-se, portanto, do bloco de influências que funciona de cima para baixo, incluindo os valores-notícias que não valorizam os mais fracos e desorganizados, privilegiando as elites.

Warren Breed (1993 [1955] ) foi contemporâneo de White e autor do estudo sobre o controle social nas redações,um outro clássico do jornalismo. O estudo de Breed tem sido apontado como um dos precursores dos estudos organizacionais por analisar o contexto da redação. Mas ele também aponta o poder de um “Gatekeeper” central: o propietário do jornal, que impunha sua linha editorial. Shoemaker e Reese também admitem que o poder final dentro de uma organização jornalística vem do dono.

Por outro lado, Curran identifica pressões no sentido oposto. Um poder cultural compensatório que possibilita grupos subordinados a mudar eventualmente de atitudes, opiniões e valores, sobretudo através de ações coletivas na sociedade ou por influência política conquistada em processos eleitorais, devido à sua força numérica.

Paulo A. Vieira/ trabalho acadêmico do meu Curso de Jornalismo/ UEPB

BIBLIOGRAFIA

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SCHUDSON, M. The sociology of news production. Media, Culture, and

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SHOEMAKER, P. e REESE, S. D. Theories of Influence on Mass Media

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SERRA, S. Multinationals of Solidarity: international civil society and the Killing of street children in Brazil. In: BRAMAN, S. e SREBERNY-

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WHITE, D. M. O gatekeeper: uma análise de caso na seleção de notícias. In: TRAQUINA, N. (ORG.) jornalismo: questões, tórias e estórias. Lisboa: Veja, 1993. p.142-151.