ANÁLISE CRÍTICA SOBRE A INDÚSTRIA CULTURAL, TRAÇANDO UM PARALELO COM O FILME - O SHOW DE TRUMAN
(QUALQUER SEMELHANÇA COM A PORCARIA DO BBB NÃO SERÁ MERA COINCIDÊNCIA...)
Foi a partir das ideias do livro indústria cultural e cultura de massa (ADORNO e HORKHEIMER -1985- substituíram a expressão cultura de massa por indústria cultural no final dos anos 30) que se tentou definir uma indústria muito especial, a qual produz não uma mercadoria qualquer, mas sim uma mercadoria que possui um enorme valor simbólico, embora ela se organize da mesma forma que uma fábrica de automóveis.
Devido sua produção ser em alta escala, como acontece com as tiragens de jornais e as audiências da televisão e rádio, ela tem, consequentemente, um baixo custo, porque se beneficia da economia de escala. E tem ainda um padrão característico, pois é a repetição do mesmo. Portanto, foi através da soma dessas três características que ADORNO e HORKHEIMER tentaram mostrar como essa indústria realizava uma verdadeira manipulação das consciências.
Com a massificação das artes pela indústria cultural, fica claro que as expressões artísticas e intelectuais estão sendo cada vez mais vulgarizadas. Em vez de difundir e divulgar a cultura de uma forma mais democrática, como enxergava WALTER BENJAMIN dentro de uma possibilidade, pelo contrário, a popularização da arte consegue desde então banalizá-la a ponto de não mais haver qualquer sensibilidade ou reflexão na área artística.
As artes, uma vez autônomas, foram submetidas às regras do mercado capitalista e à ideologia massificadora da indústria cultural. A falta de um controle mais consciente nesse sentido acabou, no entanto, por não despertar mais nas pessoas o mesmo interesse natural pelas artes, justamente por não haver mais a mesma ponderação sobre tal.
Deste modo, sendo as manifestações artísticas construídas ou produzidas em alta escala, as obras de arte tornam-se, na atualidade, uma mercadoria em potencial, ou seja, possuem um valor de troca e um valor de uso. O mercado, por seu lado, implica a obra de arte como mercadoria e o artista como produtor especial de mercadorias. Segundo EAGLETON (2003:96), quanto mais se comercializa a cultura, mais o mercado força os produtores à adoção de valores conservadores de prudência, anti-inovação e ansiedade.
Contudo, PATRICE FLICHY (1991:37-38) distribui as indústrias culturais por dois tipos, a mercadoria cultural, com produtos vendidos nos mercados, caso do cinema, e a cultura de fluxo, com produtos caracterizados pela continuidade e amplitude da sua difusão, como os jornais. Visto por esse ângulo, o entendimento agora leva à defesa da identidade própria dos produtos culturais.
Inserido nesse contexto, o longa ao qual assistimos – O SHOW DE TRUMAN - O SHOW DA VIDA – trata-se da história original de Truman Burbank, um homem cuja vida é um show contínuo de televisão, para deleite de milhões de telespectadores em todo o mundo (Daí a inspiração, talvez, para o reality show “Big Brother”, exibido em vários países com versão própria, inclusive aqui no Brasil).
Mas o protagonista do filme em questão, nem imagina que sua pacata cidadezinha e o mundo à sua volta não passam de um gigantesco estúdio Hollywoodiano, nem que as pessoas que convivem e trabalham ao seu lado são apenas atores contratados. Uma farsa que perdura por trinta anos, em meio a mentiras e conspirações que sempre evitam sua saída daquele lugar.
Em um determinado momento, essa manipulação passa a ter significado e apelo psicológico, comovendo tanto os telespectadores da ficção como também os da vida real, aqueles que assistem ao filme. No entanto, a preocupação do diretor desse show é exclusivamente obter resultados e cifras, com índices de audiência monstruosos, transformando o programa em um verdadeiro manipulador de mentes.
O papel da indústria cultural aqui se retrata de forma explícita, seja no controle absoluto de um canal de televisão, explorando ideologicamente a grande massa, bem como na forma de apresentar o seu produto final, um valor que já se perdeu desde o seu princípio fundamental.
Paulo Seixas, fevereiro/2013