Acróstico da Despedida
L á estou plenamente insensível
E scondo-me, pois, invisível
O nde já não se cultiva a paz,
N ada há de se querer demais
A gora me cabe a espera aflita
R esta-me o aguardo cruel da partida
D aquela hora em que não mais distante
O uço o estertor da vida agonizante.
E starei esperando-a, resoluto.
I nteiro coloco-me sob a mortalha, de luto.
R équiem de mim próprio,
A ntecipadamente, como num secreto solilóquio,
D urante o qual, nesta vida que pouco a pouco se desfaz,
O lvido da existência não vivida, que o tempo sempre, de volta, me traz.
S ilêncio nesta hora é a melhor expressão da voz.
I mponente, ele se posta na garganta e se constrói.
L ancinante é a dúvida entre a solidão e o desterro.
V ale mais escolher entre a cremação e o enterro.
A diante-me, Senhor, o descanso eterno,
G uia-me, sem delonga, para longe deste inferno.
O ndas que me maltratam: furiosa procela
N as rochas me arremessam: sangue, dor, sequela.
C aio, levanto, entre mágoas e medos
A ssisto, paralisado, a vida escorrer por entre meus dedos.
L esto é o sofrimento que na pele me encarde.
V iola-me muito mais do que a simples carne.
E xpropria-me a alma, o mundo, o meu norte,
S ó deixando-me, o infeliz, o último e frio beijo da morte.
© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves
19 de maio de 2018