Autovisão do Autor: Jovem Arisco e que Falha

AUTO-VISÃO DO AUTOR: JOVEM ARISCO E QUE FALHA

Julgo-me um lixeiro espacial, especial e matreiro :

Organizo e reúno pedaços estraçalhados caoticamente,

Socando os sacos cheios para que neles mais lixo caiba.

E aguardo a roda girar, pois vindo por último, vou primeiro !

Fui criança mimada, instruída normal e solitariamente.

Reservam-me em casa um trono sem que onde esteja saiba.

Ali alegre canto, sento, abro a água, fecho-a: é o banheiro.

Nado como peixe comum, isto é, dentro da água azul da piscina.

Caminho com pés grandes e largos: calço somente quarenta e dois.

Ignoro o medo por saber que o medo existe em quem disque depois

Seus números equívocos para telefonar antes ao dono da esquina.

Canto letras, adágios, poesias, copio-os em quaisquer papéis pois

Onde cabem dois, segura e matematicamente, caberão quatro !

Vate satânico sei que sou: amasso, remoo versos e não os maltrato.

Engenheiro mecânico também sou: isto está escrito em diploma

de título

Rezo todas as noites com esposa e filhos, tecendo nisto sério capítulo.

Navego em canoas cujos remos, quebrados ou não, levam-me longe.

Atrapalho a vida de todos, sendo palhaço nato ou enclausurado monge

Luzo por fora e choro por dentro quando choram por mim,

oh! pernósticos.

Ia esquecendo-me: ajudei a redigir áureo jornal pequeno, porém

um pórtico.

Acha-se meu nome escrito, em letras litrais, se dito for que isto

é acróstico:

Olhando de baixo para cima está lançado meu afetivo cognome.

Também quero dizer que ferroviário sou desde minúscula idade;

Imaginando então que, brasileiro embora, adoro minha dourada cidade, Tenho certeza, por lapsos italianos, de português, que falta um g

no sobrenome.

Por mais isso ou por menos aquilo, falo agora do sobrenome que falta

Unicamente em meu comum nome, aquele um rubro e puro tomate,

Tendo este sido universal, enquanto espero, apenas na minha

cabeça peralta;

Talvez nalguma noite de um dia, esquisito ou natural, como a noite

após o dia,

Outro dos nós que já dei nas linhas divisórias seja solto na hora

da Ave-Maria,

Magnífico Cântico!, e anuncie as três melancias que devo usar,

presas com alicate:

As primeiras duas sob as axilas e a terceira, a terceira onde será

que a ponho?

Tranquilo, abrirei as pernas da mesa fechada, montá-la-ei, em sonho

Tórrido, e na sombra, sob a mesa, a terceira porei ! Em sinopse

Inquieta, enfim, será seu holocausto, de onde verterá suco

ao corte da faca de inox ...