A essência de o próprio ser é algo muito difícil de explicar, talvez mais difícil de explicar que entender. Por essa razão é que sempre temos que lançar mão de analogias. Como em diversos textos anteriores, a analogia da água sempre é a forma mais prática e clara de definir nosso ser, o ego, a essência espiritual e toda a ilusão de existência na forma do Ego.
Aquilo que chamamos personalidade é algo puramente ilusório. "Persona" é uma palavra derivada do etrusco "Pershu", cujo significado é máscara. Também se assemelha à designação grega "prósopon", cuja significação também vem a ser máscara. Essas duas línguas, pertencentes ao tronco linguístico hindo-
europeu, como podemos ver, possuem significados semelhantes, sendo que personalidade vem ser aquilo que os caracteres psíquicos, emocionais e imposições da sociedade e das circunstâncias, impõem ao ser, criando aquilo que é característica intrínseca de uma pessoa, ou "persona" em suas derivações significativas.
Aquilo que pensamos ser e que também pensamos as pessoas serem são, portanto, máscaras, forjadas durante uma vida, e também, e certamente, várias vidas, ao longo da trajetória da alma desde a sua formação, na qualidade humana, até os dias atuais.
Mas vejamos: o que vem ser e como foi a formação da alma humana na qualidade essencial humana?
Primeiramente vamos nos utilizar do velho axioma científico do evolucionismo: "a natureza não dá saltos".
Definir, na história evolutiva natural, o exato momento em que surgiu o homem em sua qualidade humana se faz impossível, pois cada mínimo sinal do processo evolutivo possui a duração de milênios, ou até mesmo, milhões de anos. Desde os primatas até os primeiros hominídeos há um espaço de tempo incalculável, do qual jamais existiu uma concordância plena entre os mais ilustres cientistas de todas as épocas. Podemos concluir então que, desde as formas mais simples de vida, dos organismos unicelulares até os primatas, simplesmente o espaço de tempo é no mínimo, mil vezes maior que o espaço de tempo que separa os primatas dos hominídeos. E, hominídeos não são ainda seres humanos; vão desde os australopitecos, passando pelos homo-erectus, em suas infindáveis variantes, até chegar ao homo sapiens atual, que surgiu há cerca de 300 mil anos no leste da África.
Porém, nosso assunto não é a Teoria da Evolução, mas a espiritualidade humana e todas as suas variantes que não fogem, em hipótese alguma, da verdadeira ciência.
Cada ser, ou melhor, cada coisa, desde as micropartículas subatômicas são formadas de energia, e toda energia se estrutura na essência primordial, a energia divina, proveniente do "Mulaprakriti", que significa "raiz da matéria". Esta raiz é proveniente do "Fohat", a energia pura, que fecunda "Koylon", o espaço puro, e, tanto Fohat quanto Koylon provêm de Brahman, ou Deus manifestado, presente em todas as coisas, subjacente a tudo aquilo que é visível e invisível. É o Espírito do Universo, do qual derivam toda a essência de todas as formas no equacionamento existencial.
Mas por que estou falando tudo isso?
Para termos a consciência que tudo tem alma.
Infeliz aquele que pensa serem os humanos os únicos dotados de alma! Pois não compreendem que os humanos são a aglutinação de todos os mais ínfimos pequenos seres, a convergência de infindáveis formas de energias em todas as gradações de sutilezas e densidades.
Toda matéria é a densificação de energias. E são essas energias a alma das coisas, a alma do mundo, a alma de todos os seres.
Tudo aquilo que existe no plano físico está alicerçado em energias. Troquemos a palavra energia por "alma" e veremos que a existência aparente é apenas a ilusória "máscara" da realidade intrínseca, invisível e primordial.
O universo se move através de transformações.
E todas as transformações se moldam através dos ciclos, e todos os ciclos objetivam aperfeiçoamentos. As energias se condensaram para depois retornar à sua sutileza primordial. É a respiração divina. Na Cabala podemos ver isto através da Árvore da Vida, que desce desde Kether à Malkuth, o mundo material, atravessando todas as esferas, para depois retornar à sua origem, a origem divina de todas as coisas.
Quando dizemos que "Deus é Tudo", não recitamos uma força de expressão, mas estabelecemos a verdade essencial de toda a existência, de todo ser e de todos os caminhos que convergem à sua fonte original.
Mas onde está a alma humana nesse contexto, e onde está a diferença de Espírito e alma?
Espírito é uma palavra, alma também é uma palavra, e muitas vezes palavras só existem para expressar um sentido diferente entre duas essências. Espírito é Alma podem até ser sinônimos em alguns aspectos, porém serve aqui para diferenciar o mutável do imutável, o transitório do permanente, o mortal do imortal.
O apóstolo Paulo diz na Primeira Epístola aos Tessalonicenses, capítulo 5, versículo 23: "E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo".
Neste versículo a vinda de Jesus Cristo possui um significado metafísico que foge, no momento ao assunto do texto, porém aqui se diferencia três coisas diferentes. Convencionou-se no esoterismo chamar alma ao caráter transitório e mortal do ser humano, e o espírito, imortal. Como frisei, trata-se de convencionalismo, pois poderemos usar de vários nomes, ou até mesmo invertê-los contanto que se possa diferenciar uma coisa da outra.
Voltando ao que dizia logo no início do texto, a alma humana é uma aglutinação de pequenos seres, ou seja, da alma dos pequenos seres. Assim como todos os seres multicelulares proveio dos organismos unicelulares, a essência que estrutura os grandes organismos é a aglutinação da essência que estruturavam os micro organismos. Assim como uma gota d'água é formada por uma infindável aglomeração de moléculas de hidrogênio e oxigênio, um veio d'água é formado por bilhões de gotas, um córrego é formado pela junção de muitos veios, e um rio pela junção de muitos córregos. Os rios se avolumam em bacias hidrográficas, formando grandes rios que deságuam nos mares e oceanos. Imaginemos o homem atual como pequenos rios no caminho das bacias, que se tornarão oceanos.
—Deixaremos de existir quando nos tornarmos oceano? — Perguntou um discípulo ao seu Mestre.
—Você deixou de existir quando se transformou em rio? — Respondeu o Mestre.
(Este pequeno diálogo é um ponto essencial para longas meditações.)
A aglutinação das energias forjaram o ser humano, e, através desta aglutinação, formou a consciência, primitiva no início, mas se evoluindo ao longo dos milênios.
O que impulsiona a evolução?
É justamente a energia primordial que corre, como os veios d'água em direção ao mar. Este é o espírito imutável que se dirige à sua origem, também imutável, no caminho da perfeição.
Vamos agora olhar com maior aprofundamento a essência da alma humana e do espírito que transcende a individualidade.
Quem já teve a oportunidade de ler O Tao da Física, de Fritjof Capra, certamente observou que a filosofia oriental está em plena consonância com a física quântica, ou seja, a filosofia corroborando a ciência. Sobre o ego o autor diz: "Essa doutrina da impermanência inclui, igualmente, a noção de que não existe o ego, o Si-mesmo, que é o sujeito persistente de nossas experiências. O Budismo sustenta que a ideia de um eu individual isolado é uma ilusão, outra forma de "maya", um conceito intelectual desprovido de realidade. Apegar-se a esse conceito leva-nos à mesma frustração que o apego a qualquer outra categoria fixa de pensamento".
A individualidade é por si só uma ilusão, pois somos um Todo, viemos de um Todo e retornaremos a este Todo. Este Todo é o Espírito, a realidade em meio à ilusão do isolamento individual. O Todo é a voz do Amor que conclama à unidade, o simbolismo do abraço é a atração da centelha divina unindo o separado, dentro da perspectiva aglutinante de um rio que deságua em outro, tornando uma só coisa.
O grande filósofo brasileiro Humberto Rohden, diz, em seu livro A Grande Libertação: "Com o advento do
primeiro (adi) ego (aham) o 'Adi-aham', ou Adam, sobre a face do planeta, apareceu algo inédito e inteiramente novo na Terra: um ser atingiu as alturas da 'consciência personal', tornou-se um ego; a intensidade vibratória de sua consciência chegou ao ponto de criar alto grau de unidade, e, com isto, elevado grau de coesão e estabilidade".
Humberto Rohden aqui se refere à formação da consciência, onde segundo a Teosofia inicia a grande batalha da mente e do espírito. A mente representa a alma humana mortal, ilusória, o espírito a essência de luz divina, que impele o homem à imortalidade.
Nesta mesma obra Rohden assevera que o corpo astral não é, de forma alguma, imortal, e que o objetivo da evolução é criar o "corpo espiritual" , indestrutível que lhe assegure a eternidade. Ele mostra que sobrevivência é muito diferente de eternidade.
Os seres humanos que não alcançarem a frequência vibratória com a nova tônica do planeta, no novo ciclo cósmico que se aproxima, não conseguirão mais reencarnar nesta orbe e terão toda sua evolução reiniciada em orbes de frequência mais baixa, para prosseguirem seu caminho evolutivo.
Segundo o esoterismo, temos sete corpos, a saber, o corpo físico, o corpo etéreo, o corpo astral, o corpo mental inferior ou concreto, o corpo mental superior ou abstrato, o corpo búddhico e o corpo átmico ou nirvânico.
Além do corpo físico (físico propriamente dito e etéreo) há o corpo astral e o mental inferior, e estes dois são denominados a "alma do homem"; os três corpos superiores, mental superior, búddhico e átmico, perfazem o corpo causal, ou o espírito do homem. Sendo o átmico o núcleo supremo do corpo espiritual.
Em cada nova encarnação recebemos um novo corpo físico, assim como também novos duplos etéricos, astral e mental inferior. O armazenamento das memórias é atribuição do corpo mental inferior, por esta razão a cada reencarnação perdemos a memória das vidas anteriores.
Porém, como no Ocultismo "sempre devemos deixar de dizer nunca, e nunca deveremos dizer sempre", muitas vezes existe esta lembrança de vidas anteriores,
especialmente em crianças e pessoas que possuem o corpo espiritual má s desenvolvimento e conseguem acioná-lo. O Espírito está diretamente ligado ao Todo, e deste aos registros akáshicos, onde não existem apenas as memórias das vidas passadas de cada indivíduo particular em si, mas de toda a existência do planeta e do cosmo; por isso é chamado pelos ocultistas modernos de "computador cósmico".
O corpo causal, citado acima, não se desfaz com a morte, e vem ser a alma reencarnante, nele se insere o karma, servindo de repositório de todas as experiências colhidas em todas as encarnações do indivíduo.
Existe uma ligação entre o corpo mental inferior ou concreto com o corpo mental superior ou abstrato, e esta ligação é a chamada Ponte de Antakarana, é a ligação que se dá entre a alma e espírito do indivíduo.
Em certos indivíduos há apenas o rudimento do corpo causal, e sobre isto há algo misterioso de ser explicado neste texto. Como citei anteriormente, após a formação do homo sapiens, a mente estava formada, e iniciou-se a batalha entre a mente e o espírito. Através desta batalha o homem alcança a maturidade espiritual e segue seu caminho evolutivo. Alguns, porém, estacionam e tendem, conforme citei no início do texto, a se evoluir em outros orbes. Há, contudo, aqueles que perdem a batalha, decaindo em condições tais que se rompem as ligações
espirituais de seus corpos superiores, e se fragmentam nas energias que uma vez aglutinaram para a formação de seu ser. Seria a analogia do rio que se secou antes de desembocar em águas mais profundas. Este é o caso de seres demoníacos que repudiam seu espírito e mergulham na devassidão da matéria obedecendo a seu único deus chamado ego, e pelo qual cometem as mais monstruosas atrocidades. É o "pecado contra o Espírito", as gotas d'água que se evaporam de um rio em formação. O pecado imperdoável do qual se refere a Bíblia. Tais seres como mônadas se desfazem, e suas energias servirão para a formação de outros seres que as aglutinarão seguindo os caminhos evolutivos. A morte eterna é justamente esta fragmentação daqueles que mergulham exclusivamente no ego.
Se a todos os humanos fossem asseguradas as bem aventuranças do Espírito não haveria razão de tantos mártires, mestres e avatares terem vindo a terra sacrificando suas vidas pela redenção humana.
Os grandes mestres são unânimes em seus ensinamentos quando se referem à aniquilação.
A aniquilação, pois, está no aprisionamento do ego e não na aglutinação do Espírito. Está nos rios que secam e não nos rios que misturam suas águas de tornando águas profundas que caminham rumo ao oceano da existência plena.
Aquele que morre no indivíduo renasce no Espírito. Como disse certa vez o grande mestre: "Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á".
Somos o Todo. Se prender na ilusão de um ser individual inexistente é amar a inexistência. No Todo seremos Um. Jamais deixaremos de ser, de existir e viver na essência primordial, na eterna comunhão da divindade.