Antes de terminar o texto, preciso admitir que sou um desses produtos.
Eu não desativo minhas notificações do celular aos finais de semana.
Eu levo o aparelho para caminhar.
E para a cama.
Eu acordo na madrugada para conferir mensagens.
Eu interajo com outros usuários nas horas que eu deveria descansar.
Eu tenho o aplicativo de todas as redes que um ser humano (não) poderia ter.
Eu ando mais ansioso diante da possibilidade de ser acionado a qualquer hora.
Eu me deprimo com as notícias e mensagens que me chegam a qualquer hora e lugar.
Eu sinto princípios de pânico toda vez que saio sem o aparelho.
Eu deslizo pela tela como um jogador em busca de recompensa.
Eu me alegro quando alguma postagem é elogiada.
E fico derrubado quando alguém aproveita a distância entre nós para atacar meus pontos mais frágeis --que, por alguma razão, deixei expostas nas minhas páginas.
Minha desculpa é que preciso disso para trabalhar. Como jornalista, preciso saber o que acontece. E preciso de canais para divulgar como interpreto o que acontece.
Foi minha explicação para, na sexta-feira passada, sair com meu filho para uma volta de bicicleta no quarteirão equilibrando o guidão apenas com uma mão.
A outra segurava o aparelho.
Esperava uma resposta por email, mas passei o tempo todo registrando e postando nossa volta nos stories com filtros e músicas para a ocasião.
Eu acho que preciso de ajuda. Acho que todos nós precisamos.