SETE POEMAS PARA LOIS....

ATO 01

A diretora entra na sala com uma expressão de profundo descontentamento, enquanto passava no corredor já escutava o barulho da turma, mas tão logo aparecera à porta, as conversas cessaram.

Diretora – Parece que alguém já antecipou algumas informações para a turma, não é mesmo?! (ao falar, a diretora fixa os olhos emJudith, representante dos alunos, que se encolhe em sua cadeira e cora a tez de vergonha).

Vick – A gente já sabia, diretora, que viria outro professor de literatura, porque a professora Diana está de licença maternidade, a Jud só confirmou pra turma. (tentando desembaraçar a colega).

Diretora – Se vocês já sabiam, porque estavam fazendo aquele barulho todo que ouvi nos corredores? Eu precisei interromper a conversa com o novo professor para vir aqui! O que ele vai pensar de vocês agindo assim?

Thalia – Ninguém pergunta o que nós vamos pensar dele, parece que é só ele que precisa nos aceitar, nós temos que engolir qualquer coisa que nos mandam. (a turma ensaia um grito de apoio às palavras da colega, mas o grito estanca quando a diretora olha para a turma toda).

Diretora – Como assim qualquer coisa! O currículo do novo professor é super gabaritado, há mais de quinze anos que ele leciona literatura no ensino médio. (fez uma expressão interrogativa, mas a turma manteve-se em silêncio por quase um minuto).

Teves – O problema, diretora, é que todo mundo já sabe da fama do novo professor...todo mundo aqui está com medo...

Lois – Todo mundo uma vírgula, eu mesmo não tenho medo...por mim ele pode passar vinte livros para leitura por bimestre, eu só leio se quiser, se aquele velho me reprovar eu pago a disciplina ano que vem em outro turno. (novamente ensaiam um grito de apoio abafado pelo mesmo olhar).

Diretora – Vocês o conhecem de onde?

Mary Jane- Ninguém aqui nunca viu o Carcará, diretora, só sabe que ele é do mal. (seguiu-se um minuto de risadas que a diretora, a custo de muito pedido, interrompeu).

Maike – Pois por mim ele pode vir, se vier com lição de moral pro meu lado eu desço a mão. (nessa hora, a sala suspendeu a respiração, pois sendo dita por Maike, aquela frase jamais seria interpretada como brincadeira).

Diretora – Pois bem, vou terminar minha reunião com o professor e depois venho falar com vocês.

Izana – Manda ele vir de colete! (risos)

Kleiman – Gente, para com isso! O professor só vem fazer o trabalho dele. (alguns diminuíram a exaltação, mas mantiveram-se carrancudos).

Verlaine – Vocês estão assim porque não gostam de ler, eu não estou nem ai, se tiver que ler vinte livros eu lerei. (uma vaia baixinha seguiu ao fundo da sala e a aluna fixou os olhos no teto tentando mostrar indiferença).

Lois – Se eu sou obrigada a assistir aula de quem não quero, quando não estiver gostando eu vou falar mesmo, ele que aguente. (risos)

Kleiman – Que vantagem vocês veem nisso? Se reprovarem em literatura nem adianta fazer o vestibular, vão ter que adiar a ida pra faculdade mais um ano.

Vaninha – Eu quero passar, mas não vou ler vinte livros nunca, vou conseguir minha nota de outro jeito!

Glauber – Quem não cola não sai da escola! (risos por 20 segundo, até a diretora entrar novamente na sala).

Diretora – Uma boa notícia para vocês, o professor disse que por motivos pessoais só poderá assumir a turma no mês que vem! (gritos de alívio), mas deixou uma atividade que valerá a nota do bimestre. (gritos e risos estancaram)

Glauber – Eu sabia que o Carcará não ia deixar fácil assim.

Verlaine – Como é a atividade, diretora?

Diretora – Um de vocês fará o papel de professor que proporá uma atividade para a turma, a aula será gravada e o professor vai designar um de vocês para avaliar o desempenho de todos e escolher a nota de cada um.

Vários – Eu escolho! Eu, eu, eu, eu,.... (a diretora com muita dificuldade consegue o mínimo de silêncio para explicar)

Diretora – Para não haver injustiças, eu decidi que o aluno avaliador será o novato que matriculei hoje para pagar a matéria de literatura nesta sala.

Verlaine – É bom mesmo, pois não quero nenhum sem noção desta sala me avaliando. Diretora, posso fazer a primeira aula?

Teves – Só quer ser a Carcará. (risos e discussão)

Diretora – Pode, Verlaine, amanhã você me entrega o rascunho do que pretende passar para eu levar ao Carca....quer dizer, professor de literatura. (risos até o fim da aula).

ATO 02

Na segunda semana, a diretora volta à sala com Franklin, o novato, que surge à porta vestido em uma jaqueta vermelha e cinza, calça jeans rasgada, um grande topete no cabelo, um brinco de casca de coco e nove anéis nos dedos.

Diretora – Meninos e, principalmente, meninas, este aqui e Franklin, (Vaninha assobia baixinho no fundo da sala) o professor conversou com ele na semana passada para avaliar a aula de vocês neste período, por isso acho que ninguém vai querer tratá-lo mal, não é?

Vaninha – De jeito algum, diretora, ele vai ser tratado a pão-de-ló pela turma, manda ele sentar aqui atrás. (risos)

Lois – Diga por você, minha filha, eu não vou babar ninguém pra ter nota.

Diretora – Ele não vai sentar atrás não, Vaninha, você é muito saliente (risos) sente aqui na frente, Franklin, pra observar bem as aulas dos colegas, ao lado da Lois zangadinha.

Lois – Eu não sou zangada, sou apenas realista.

Diretora – Realistas, zangadas ou salientes, eu espero que vocês colaborem com o silêncio para cada colega fazer seu trabalho, se vocês não cooperarem o Franklin vai anotar o que ocorrer e vocês vão pagar aulas aos sábados com o Carcará. (risos)

Kleiman – Pode deixar que eu ajudo a controlar estes cavalos, diretora.

Glauber – Nunca vi uma égua amansar cavalos! (risos)

Diretora – Silêncio! Comece a apresentação, Verlaine, a próxima aula será a do Glauber pra ele deixar de graça. (vaia e riso)

Verlaine - Hoje falaremos do primeiro livro da trilogia “Jogos vorazes”.

Kleiman – Prefiro “A culpa é das estrelas”.

Verlaine – Pois explique-o quando for a sua vez. (vaia)

Tevez – Pega, distraída!

Verlaine – Eu vou resumir a história e depois iremos debater o que ela nos ensina. (enquanto a explicação segue, Lois observa Franklin com o canto do olho, em rápidos golpes de vista, achou-o muito sisudo, qualidade pouco comum para alunos do terceiro ano....mas considerou aquela aparente maturidade até charmosa, destoava do restante dos meninos. Pensou que ele deveria ter uns vinte e cinco anos, que com certeza não era nenhum Einstein, porque pagava matéria de literatura e deveria ter reprovado umas sete vezes para chegar a idade ainda no terceiro ano).

Verlaine – Então, a mensagem do livro para nós...quem vai comentar?

Franklin – Não entendi porque as pessoas eram obrigadas a lutarem. Isto tem a ver com nossa vida?

Vaninha – Todos nós somos obrigados a lutar por nossas vidas todos os dias, gato. (Lois observa que Franklin sorri com a resposta e sente-se incomodada).

Lois – Nem todos são obrigados a lutarem, alguns já nascem com a vida garantida. (Franklin a olha com igual satisfação e murmura “muito bom”).

Kleiman – Os bem nascidos são representados pela população da capital na história.

Glauber – A vida é uma competição igual a do livro, só os fortes e preparados vencem.

Franklin – E quem é fraco deve morrer, o livro ensina isso?

Izana – O livro não ensina assim, apenas diz que é assim, mas a heroína vai tentar mudar esta situação.

Maike – É bonito nos livros, tudo acaba bem, mas aqui na realidade não existem heróis pra mudar o mundo, tudo nessa m...vai ficar como sempre foi.

Thalia – Na história a Katniss era uma pessoa comum que teve que se superar pra ficar viva e salvar sua família.

Vick – Mas as pessoas não tem a coragem nem a responsabilidade para fazer o que ela fez, cada um só quer saber de si mesmo, não se importam mais com os outros.

Franklin – Eu não penso assim, acho que cada pessoa que decide ser honesta diante de tanta corrupção é um herói e se não consegue mudar o mundo, ao menos conseguem mudar o próprio mundo delas.

Lois – Uma mãe solteira que não abandona os filhos, um pai que trabalha todos os dias para sustentar sua casa, um filho que estuda para entrar na faculdade e ajudar seus pais, um policial que arrisca a vida para salvar um cidadão, todos são heróis, mas, às vezes, não são reconhecidos em nossa sociedade. (Franklin olha entusiasmado para Lois e segura sua mão com afeto).

Glauber – Conversa fiada, essas histórias não tem nada a ver com a vida real, o tiro que alguém leva aqui na realidade não é de mentirinha, mata de verdade. Tenta mudar o mundo pra ver se você não se lasca. (risos)

Franklin – Se você fosse escravizado, não tivesse direito a reclamar, passasse fome, sofresse violência sem cometer crime algum, você aceitaria viver assim todos os dias da tua vida?

Glauber – Claro que não, se é pra viver assim seria melhor morrer.

Franklin – É isso mesmo, muitas pessoas possuem a coragem de entregarem suas vidas por aquilo que eles acreditam ser muito importante, talvez o povo não se manifeste contra as tiranias no mundo, porque não tiraram dele o que dá significado a sua existência.

Verlaine – Tudo isso nos ensina que não podemos ser passivos diante dos tiranos, precisamos acreditar na mudança toda vez que o mundo nos oprimir, lutar por elas mesmo que nos custe a vida. (o som dos aplausos se mistura ao toque da sirene que marca o fim da aula).

ATO 03

No início da segunda apresentação.

Franklin – Gente, tenho um recado do Carcará, ele mandou que vocês fizessem uma relação da aula de ontem com a música “Será” do Legião Urbana, a letra está aqui comigo.

Mary Jane - Caraca, meu, a letra tem muita relação com o enredo do livro....

Maike – Eu tenho a música aqui no celular.

Tevez – Passa pra nós, Maike. (forma-se um pequeno tumulto ao redor de Maike que se sente envaidecido com a procura dos colegas e vai pareando os aparelhos para compartilhar a música).

Lois – Franklin, me ajuda a fazer meu texto? (fica mexendo no cabelo enquanto fala)

Franklin – Claro, Lois, mas vamos discutir a questão?

Lois – Vamos, pode ser durante o intervalo?

Franklin – Pode...onde?

Lois – Na biblioteca, lá é bem silencioso.

Franklin – Combinado, então! (Lois sustenta um terno sorriso para Franklin, até Kleiman iniciar a explicação de “A culpa é das estrelas” que dura vinte e cinco minutos).

Kleiman – Diferente da Verlaine, eu proponho que nós julguemos algumas personagens do livro.

Vick – Hazel e Walters?

Kleiman – Não apenas eles, mas qualquer um que vocês queiram julgar.

Thalia – Já sei: Peter Van Houten!

Izana – É mesmo, aquele cretino, como pôde fazer aquilo com a coitada da Hazel? Depois quis dar uma de santo.

Franklin – Mas ao fim ele não se redime com Hazel?

Vaninha – Eu não acho que uma atitude boa apague algo errado que se fez, para mim cada um deve pagar quando machucar alguém, principalmente alguém doente e que o admira tanto.

Teves – Mas ele já tinha os problemas dele, era alcoólatra, depressivo, ainda ia ter que resolver problema dos outros, eu também ia mandar a Hazel ir pastar.

Vick – Você é um idiota, Teves, se ponha no lugar da Hazel, ai eu quero ver se ia gostar de ser mal tratado.

Franklin – Se para as pessoas que erram não for dada uma chance de se redimirem, ninguém vai tentar se concertar, e todos irão cada dia ficarem pior.

Lois – É verdade, todo mundo merece uma segunda chance.

Glauber – A zangadinha agora concorda com tudo que o novato fala, a babona... falava que não ia ler livro nenhum, que era a tal, que ia enfrentar não sei quem... (risos)

Lois – Olha, moleque, você vai se....(Franklin pega em seu braço e olha-a nos olhos, desaprovando a atitude prevista).

Kleiman – Bom, gente, e os pais de Hazel agiram certo com ela?

Izana – Como assim, o que eles fizeram de errado?

Kleiman – Não fizeram nada intencionalmente errado, mas poderiam ter escolhido dar esperanças pra Hazel, procurarem uma igreja para ela se aproximar de Deus, buscar a medicina alternativa, mas eles agiam como se estivessem apenas esperando ela morrer...

Thalia – Às vezes, nós fazemos algo por quem amamos pensando mais em nós mesmos, para evitar o nosso próprio sofrimento, igual aos pais da Hazel que não alimentavam esperanças dela sobreviver para não sofrerem com a sua morte.

Maike – Os pais sempre são assim, só querem nos dar o que acham certo pra eles, nunca perguntam o que queremos, como se a gente não tivesse opinião, acham que seremos felizes se vivermos como eles vivem, mas nós não somos cópias deles, temos nossas próprias opiniões, nossas próprias ideias, e se não forem as mesmas ideias deles, então eles se afastam de nós, chamam a gente de perdidos, dizem que não prestamos pra nada, que só damos desgosto, que têm vergonha de serem nossos pais, eles deviam nos ouvir quando falamos pra saber o que sentimos, se temos medo, raiva, se estamos confusos, se gostamos de alguém, se sofremos injustiças, se ... (quando Maike engasga, percebe que está com os olhos cheios de lágrimas e que toda a turma está olhando espantada para ele, então cruza os braços sobre a carteira e abaixa o rosto envergonhado).

Franklin – Bom, gente, como o professor sabia que seria explicado este livro, ele pediu que se fizesse uma relação entre as atitudes dos pais da Hazel com a letra da música “Pais e filhos” também do Legião Urbana, disse que entregassem as duas atividades respondidas pra mim na próxima aula. Maike, você tem esta música também no celular? (Maike levanta um pouco a cabeça, o suficiente para deixar os olhos vermelhos a vista).

Maike – Tenho... (pega o celular do bolso).

Franklin – Pode passar para os colegas?

Maike – Posso... (a começar por Teves, um a um, os colegas se aproximam, silenciosamente em respeito a uma dor da qual nada sabem, mas que suspeitam profunda e cotidiana).

Lois – Então, biblioteca? (Franklin sorri)

Franklin – Biblioteca! (a sirene soa em confirmação ao combinado e enquanto saem, Lois segura o braço de Franklin encostando a cabeça em seu ombro).

ATO 04

Franklin e Lois escutam a música “Pais e filhos” em um fone de ouvido na biblioteca, estão sentados frente a frente, mirando-se até que a música se encerra.

Franklin – Linda! (Lois fica sem ar por um momento) vamos repeti-la? (Lois agora fica vermelha e põe a mão no rosto).

Lois – Meu Deus! Que vergonha! (Franklin percebe o lapso e puxa suas mãos, descobrindo-lhe o rosto).

Franklin – Não se envergonhe, menina, você também é linda...

Lois – Você diz isso pra diminuir o meu mico...

Franklin – Não mesmo, acho isto desde o primeiro dia em que a vi, não disse para não ser inconveniente e ser mal entendido.

Lois – O que seria para você um mal entendido? (já sem rastro da vergonha que passara instantes atrás)

Franklin – Você pensar que estou dando em cima de você.

Lois - Teria algum problema nisso?...(a pergunta inesperada silencia Franklin por um instante) ai meu Deus! Você é casado?!

Franklin – Não é isso não, Lois, é que não seria certo.

Lois – Como assim? Se você não for casado nem tiver uma noiva ou namorada, o que te impede de me cantar?

Franklin –É algo difícil de explicar...

Lois – Nem precisa explicar....Tu é gay, não é mesmo...logo vi, bonito assim sem mulher.... (risos)

Franklin – Não é isso... nossa!, você é muito direta....

Lois- Então?! (agora já impaciente)

Franklin – Já disse que seria difícil te explicar, mas posso adiantar que não é nada relativo a sua pessoa...é por causa do meu trabalho.

Lois – Só se você fosse padre, meu amigo, e isto eu duvido muito.

Franklin – Se eu não posso te dizer tudo, é melhor não te deixar curiosa...

Lois – Impossível agora!

Franklin – Prometo que te conto um dia...

Lois – precisava saber já...

Franklin – Bem, se eu não viesse estudar aqui você sobreviveria muito bem o resto da sua vida sem esta informação...

Lois – Mas você veio estudar nesta escola, na minha sala, sentou-se ao meu lado e esta fazendo um trabalho na biblioteca comigo, então eu preciso da informação para não sair daqui achando que, por falta de uma boa desculpa, fui despachada com a conversa mais idiota que alguém poderia ter inventado...

Franklin – Despachada de quê? Ninguém aqui fez pedido algum...

Lois – É verdade, uma ninguém perdeu a rara oportunidade de ficar calada e outro alguém perdeu a rara oportunidade de ser importante na vida dela...(Lois levantou-se, começou a juntar seus materiais da mesa).

Franklin – Não seja injusta....você não sabe porque não posso ficar contigo.

Lois – Exatamente! Eu não sei...e nem quero saber o motivo, porque desconfio que será uma grande mentira, mas se for um motivo justo, o que eu duvido muito, então eu vou ficar mais triste do que você conseguiu me deixar agora... (Lois sai da biblioteca transtornada e Franklin não esboça reação para detê-la, enquanto Vaninha se aproxima por trás e põe as mãos em seu ombro).

Vaninha – Oi, gato! Deu um fora na zangadinha?

Franklin – Dei fora em ninguém, Vaninha, só ocorreu um mal entendido aqui...

Vaninha – Eu sei...a zangadinha pensou que te paquerando ia conseguir uma boa nota em literatura. (risada sarcástica) ô coitada! Estuda não pra ver o que acontece. (Franklin retira as mãos de Vaninha de seu ombro e sai da biblioteca, já no pátio escuta Judith chamá-lo).

Franklin – Oi Judith, algum problema?

Judith – Comigo não, mas vi a Lois Lane sair chorando da biblioteca...

Franklin – Pois é, parece que eu pisei na bola sem querer...

Judith – Faz isso com ela não...você não sabe o que ela já sofreu...

Franklin – Não tive intenção, Judith, nem tive como evitar....o destino armou uma arapuca para nós.

Judith – Eu não sei o que é, mas promete que se você puder de alguma forma, não a faça sofrer mais do que já tem sofrido.

Franklin – Qual é o problema dela?

Judith – Ela é filha única e desde que perdeu a mãe, o pai vive bêbado pelas ruas...ela se sente só, tem uma tristeza profunda, por isso é tão zangada. Eu a conheci antes disso acontecer, ela era muito legal e alegre...

Franklin – Eu sinto muito por ela, mas te juro que não fiz nada proposital para magoá-la.

Judith – Eu sei disso, você é gente boa, se vê logo que é, mas se não pode ser nada para minha amiga, acho melhor você se afastar dela.

Franklin – Dependesse apenas de minha vontade, ela não teria solidão... mas existem verdades em nossa vida que são maiores que a nossa própria vida...

Judith – Não entendi nada do que você falou, mas faz o que te pedi, certo?

Franklin – Certo!

ATO 05

ATO 06

Inicia-se a aula e como ninguém se manifestasse para apresentar o trabalho, é feito um sorteio e Mike fica encarregado da apresentação.

Franklin - O Maike foi escolhido para apresentar um romance aqui na frente, então Maike, o que me diz?

Teves - Agora ai você está querendo tirar leite de pedra! (risos)

Franklin - Teves! (com um certo autoritarismo) Você não pode falar assim com o seu colega.

Glauber - Vixi, agora já tem professor na sala, é?

Teves - Se liga meu irmão, quem tem colega é qualira, o cara é malmente meu conhecido, falei!!!

Franklin - Não sou professor, mas minha nota será medida com base no andamento dessas aulas que me comprometi a organizar...

Glauber - se comprometeu porque quis, não pedimos nada a ti....(a discussão é interrompida quando a turma percebe Maike caminhamdo em direção a Glauber e Teves que ficam pálidos de pavor, porém Maike passa direto por eles)

Maike - Estou pronto, posso começar? (postando-se de frente pra turma)

Franklin - Claro, faça o favor! (com uma feição de espanto, denunciando que em parte não acreditava também que Maike apresentaria).

Maike - O romance que irei apresentar chama-se "O Perfume" de Patrick Süskind e conta a história de um órfão pobre que parece carregar uma espécie de maldição, porque todos que o exploram acabam morrendo... (a explicação prossegue, mas ao fim não se houve comentários da turma).

Franklin - Vamos lá pessoal, ninguém comenta. (em pé, olhando pra turma)

Vaninha - É que ninguém aqui tem uma história de vida semelhante a personagem do livro...

Maike - Eu tenho. (novo espanto da turma)

Franklin - Em quais aspectos, Maike?

Maike - Meus pais.... (abaixando a cabeça, surpreso com a constatação de que faz parte de tão cruel enredo)

Franklin - Seus pais morreram?

Maike - morreram, mas ainda estão vivos...(risos muito tímidos bruscamente interrompidos pela densidade da atmosfera)

Franklin - Acho que entendi...mas o que você tem a ver com isso?

Maike - Foi por minha causa...quando nasci minha mãe adoeceu pra não ter que me abortar e não pode mais trabalhar...a situação financeira ficou difícil...os remédios eram caros e meu pai, que é pedreiro, teve que trabalhar menos para ficar com ela...perderam tudo que tinham...dinheiro, sonhos...tudo...

Franklin - Mas você não tem culpa...

Maike - Meu pai disse que..

Franklin - Não importa quem disse o que...você não tem culpa, sua mãe escolheu a sua vida em troca da saúde dela sem perguntar se você queria isso...ela apostou em você, a única coisa que você pode fazer para recompensá-la é ser feliz o máximo que puder...

Maike - Meu pai me mandou sair de casa...(com olhos cheios de lágrimas)

Franklin - E tua mãe?

Maike - Ela depende dele...não pode fazer nada.

Franklin - Mas eu posso...passe aqui à tarde para começar a trabalhar na xerox da escola e ajudar a sua mãe.

Maike - Por que você faria isso? Você não me conhece...não sabe o que eu já fiz...o que posso fazer...

Franklin - A única coisa que sei é que estou diante de alguém que precisa de uma chance para arrumar a vida e isso é tudo que preciso saber para te ajudar. (pôs a mão no ombro de Maike que instintivamente o abraçou e começou a chorar. Aquela cena inusitada encorajou Lois a se entender com Franklin, atitude impensada para alguém tão rancorosa quanto ela, mas que afinal estava se dobrando ao carinho humano, alguém tão sensível a dor do próximo merecia certa confiança de seu coração desiludido pela vida, mesmo que ainda ele se abrisse aos sentimentos com certa reserva, como alguém que que protege uma ferida de esbarrões casuais).

Lois - Oi...desculpa por aquele dia...não quis dizer aquilo pra ti... (com muita vergonha, voz tremula e cabeça baixa).

Franklin - Não tenho pelo que desculpar....a não ser por você ter afastado tua cadeira da minha e ter ficado sem falar comigo tanto tempo.

Lois - Amigos então? (Lois estende a mão ainda temerosa)

Franklin - Só amigos? (Lois fica vermelha)... Já é um bom começo...(saem então com Lois encostando a cabeça no braço de Franklin)

ATO 07

o costume com o comando do novato sobre as atividades faz com que a turma fique um pouco mais displicente a cada apresentação, e com muito esforço Izana consegue o silêncio necessário para iniciar a apresentação.

Franklin - Enfim, creio que podemos iniciar....Izana.

Izana - O livro que escolhi é "A maldição do tigre" de Coullen Houch. (Izana começa a explicação, mas é interrompida por Judith)

Judith - Calma ai! O que significa "Bilauta"? E "Iadala"?

Izana - Bilauta significa "gatinho" em Hindí e Iadala significa "querida".

Judith - Tá, saquei! (Izana continua sua explicação sem mais interrupções)

Izana - Então? Comentários?

Thalia - Hoje vamos falar das personagens, da história em sí ou da mensagem que ela traz?

Verlaine - Talvez os três...não? (diz olhando para Franklin)

Franklin - Por mim tudo bem.

Maike - O Kishan é um imbecil...traidor...acabou com o seu reino, traiu sua família, seu próprio irmão! (disse interrompendo a conversa anterior)

Vick - Pode ser...só que ele se arrependeu, não!? Ele se pune por isso há séculos. Se isolou, vive se martirizando por seu erro.

Lois - A autopiedade dele é política.

Judith - Olha, ele errou, e logicamente tá pagando por isso, pelo seu erro. mas não significa que por isso ele não possa recomeçar e, talvez, ser feliz. (olha para Franklin em busca de aprovação)

Franklin - Todo mundo erra porque todos os dias precisamos fazer escolhas sobre coisas que nem sempre temos total conhecimento, faz parte do processo.

Judith - Bom...adorei o que o livro fala da Índia, é como se eu tivesse viajado para lá!

Verlaine - é exatamente por isso que as pessoas leem; pra viajar, conhecer algo novo, se aventurar....

Vaninha - Eu adorei, mas também só tem gatinho nesse livro. Que inveja da Kelsey!

Lois - Ah! Dá um tempo garota!

Vaninha - O que foi Bilauta?! (Vaninha sorri acompanhada pelo restante da turma, mas Lois surpreendentemente manteve serena, prevendo que se respondesse a provocação não terminaria bem, então voltou-se para os demais colegas)

Lois - O erro dele foi se apaixonar pela pessoa errada.

Franklin - Eu não considero que se apaixonar seja em si um erro.

Diretora - Porque bão foi este o erro! (a turma se espantou com fala da diretora que observava o debate da porta da sala, até aquele momento sem ser notada) o erro dele foi confiar na pessoa errada, no caso, o Lokesh que jogou uma maldição nele e no irmão...e quase o matou. Ele se apaixonou e agiu como a maioria de vocês jovens, pois era...era...como poderia dizer...

Franklin - Impulsivo?

Diretora - Também, só que a palavra que eu queria dizer era intenso. Vocês jovens vivem todos assim, muito intensamente. kishan se apaixonou e a ideia de ficar sem a sua amada estava deixando ele louco. Quando vocês estão apaixonados pensam que se não ficarem com a pessoa que amam vão morrer, que é o fim do mundo. Vocês esquecem que são jovens e tem muita vida pela frente, vão viver outros amores. O erro que ele cometeu é muito comum na idade de vocês, não é? (Sem esperar a resposta vira as costas e sai)

Franklin - Deem graças a Deus por te sido uma pergunta retórica! (risos)

Vaninha - O que é uma pergunta retórica?

Franklin - É uma pergunta que não precisa de resposta, pois obviamente já se sabe a resposta.

Vaninha - Ah!

Lois - Tá, já deu este assunto! Vamos voltar ao livro...o que vocês acham do vilão. Lokesh?

Izana - Deixa comigo! Ele é fingido, se faz de bonzinho pra conseguir o que quer, vingativo, sádico e o principal, tem uma imensa sede de poder. Por acaso tem relação com alguém que conhecemos?

Vick - Com os políticos brasileiros com certeza!

Izana - Tipo aquele político que não quer deixar o cargo....

Vick - O T....?

Izana - Esse mesmo. Ele venderia a mãe para ficar no poder, igual ao Lokesh que praticamente vendeu a filha.

Vick - Se quiser saber como a pessoa é de verdade é só dar poder a ela. (fala olhando para Judith)

Judith - Sim minha filha, você ta insinuando o que mesmo, eim? (com a mão na cintura e balançando a cabeça)

Vick - Brincadeira general Tuf! Tuf! (Vick solta uma gargalhada super estranha)

Judith - Tuf! Tuf! é a....(a sirene toca e interrompe a resposta)

Lois - Salvos pelo gongo. (Franklin ignora o comentário de Lois e deixa a sala).

ATO 8

Por causa de uma reunião pedagógica não houve aula de literatura, então os alunos fizeram sua própria reunião nos bancos do pátio. No momento Glauber chega com uma faca de mesa que pegou no refeitório.

Glauber - Acabou a brincadeira macacada, agora o papo é sério, quem for mole cai fora logo, se ficar, aguente as consequências...(a turma se afasta e deixa Glauber no meio da roda, então ele se agacha, põe a faca no chão e olha para as meninas.) Vai começar o jogo da verdade.

Kleiman - mas sem pergunta imoral.

Glauber - Tá arregando é? (levantando e encarando kleiman)

Vick - Ela tá certa, você estraga a brincadeira com suas perguntas cachorras.(o restante das meninas confirmam e para não perdê-las do jogo Glauber acena concordando)

Verlaine - Deixa a Vaninha fazer as perguntas...(a ideia foi ovacionada por todos, menos por Lois)

Maike - E se não responder? Qual é a prenda? (todos se olham em silêncio)

Vaninha - Se arregar vai ter que dar selinho em alguém do jogo. (novamente a ideia foi ovacionada por todos e Lois se manteve em silêncio, mas agora estampou um sorriso)

Judith - O Franklin está participando? (ate ouvir o próprio nome Franklin estava sentado lateralmente em um dos bancos lendo um livro e alheio a brincadeira)

Franklin - Participando de quê?

Vaninha - Do jogo da verdade, gato, você tem que participar ou duas pessoas do grupo vão ficar muito decepcionadas (risos).

Izana - Além do mais, se não participar ninguém mais vai apresentar livros, lembra que sua nota depende da nossa.

Thalia - Roda logo a faca, garoto, ele já ta dentro, não tem querer...(Glauber imediatamente obedece).

Teves - Vira pra lá, bandida. (abanando a faca com o boné toda vez que a ponta estava na sua direção)

Verlaine - Tá parando! Tá parando! Ta parando!

Todos - Izana! Izana! Izana!

Maike - Pergunta, Vaninha! (Vaninha põe-se ao meio da roda)

Vaninha - Muito bem Izana...responda....(suspense)...você já beijou um amigo de seu namorado por vingança? (risos e euforia pela resposta)

Izana - Bem...tecnicamente...quer dizer, se a gente tá brigado não é namorado...

Todos - beijou ou não?

Izana - Beijei, droga, seus chatos...ele também tinha beijado minha amiga...pegou o dele...(risos)

Todos - Roda a faca! roda a faca! (novamente a mesma angústia da primeira rodada)

Todos - Vick! Vick! Vick!

Vaninha - Agora vou pegar pesado...Vick....você já teve que bater ou empurrar um namorado porque ele tava de mão boba contigo. (muitos risos)

Vick - P... Vaninha, disseram que não ia ter imoralidade...ai é f...

Vaninha - Isso e imoral gente! Eu perguntei se você o empurrou, não o que ele fez...

Todos - É verdade, responde ou paga selinho.

Teves - Tua prenda tá aqui princesa! (o Teves vem com biquinho pro lado da Vick que o empurra) - Poxa, gata, o cara da mão boba era outro. (A galera "racha o bico")

Vaninha - Responde ou da selinho...larga de frescura (com os braços cruzados e balançando a cabeça lateralmente na frente da vítima)

Vick - Tá bom, mangote de trolados, empurrei.

Maike - Empurrou, mas puxou de volta na mesma hora...(mais risos)

Vick - Teu zóim. (fazendo um circulo com os dedos, enquanto isso Glauber gira a faca)

Todos - Lois! Lois! Lois! (Franklin deixa o livro e presta atenção na brincadeira)

Vaninha - Bois bem, zang....Lois Lane...(Vaninha percebe certo contentamento em Lois e a atenção de Franklin sobre ela)...você já levou um fora de um cara que você imaginou estar te cantando e pelo qual você continuou apaixonada? (Lois morde o canto da boca de raiva, e desvia seu olhar de Vaninha para não partir pra cima dela)

Lois - Eu não vou responder.

Todos - Selinho! selinho! selinho! (Lois olha para Franklin com um pedido de socorro, mas Franklin balança a cabeça negativamente fulminando suas esperanças de sair daquela situação constrangedora)

Todos - SELINHO! SELINHO! SELINHO! (após alguns segundos de cabeça baixa, Lois levanta o rosto, sua feição não demonstra nenhum traça do constrangimento de ainda há pouco, antes tem um aspecto decidido e resoluto, então olha para Franklin, todos, então, fazem um corredor entre eles, e ela caminha com passos firmes em sua direção)

Vaninha - Só um selinho, eim! (preocupada com a firmeza das passadas da rival, mas repentinamente Lois para, segura a cabeça de Thalia em suas mãos e dá um beijo nela olhando para Franklin com um olhar quase satânico)

Todos - Urra! Pega p...! (e gritam, rodam suas mochilas no ar, quase enlouquecidos)

Teves - A diretora vem ai seu bocas de burro! Pra que gritar tanto! (a turma se dispersa rapidamente, mas Franklin sai caminhando atrás de Lois mantendo certa distância, até que ela para em frente a cantina, encosta na parede, e vai deslizando lentamente em direção ao chão, abraçando seu próprio corpo e com o queixo encostado ao peito, mas não chega a sentar, porque Franklin a apara em seus braços)

Lois - Porque você não me salvou meu bem! (com a voz trêmula e soluçando, o rosto molhado e os olhos já inchando)

Franklin - Ah! Lois, menina tola, (Lois desmaia),

ATO 9

Os alunos foram chegando no outro dia ainda com a lembrança dos acontecimentos na cabeça e tão logo cada um chegava a sala se surpreendia vendo a diretora em pé perto da lousa. Silenciosamente eles vão entrando, sentando e abaixando a cabeça, já prevendo a bronca.

Diretora - Vamos começar, acho que os que vêm hoje já chegaram. Quero avisá-los que a brincadeira de vocês deixou uma colega hospitalizada ontem. E além disso, atrapalhou a reunião pedagógica. Quando nós liberamos vocês das aulas foi para vocês irem embora ou ficar fazendo trabalhos, não para bagunçarem a escola. Pois bem, eu tenho uma punição aqui pra vocês, mas vou dar uma oportunidade para que me expliquem o que aconteceu e, Talvez eu mude a sentença. Quem vai falar?....Judith?...(A líder da turma balança a cabeça negativamente) Verlaine? alguém? (todos de cabeça baixa) Certo, como ninguém fala nada a sentença é a seguinte: vocês vão passar este fim de semana na escola catalogando os livros da biblioteca e quem não ficar do começo ao fim pega 15 dias de suspensão.

Vários - Não diretora, é o fim de semana da trilha....

Diretora - tivesse pensado nisso antes, agora é tarde. Todos aqui amanhã cedo...menos Lois que está doente e Franklin que ajudou a socorrê-la.

Franklin - Eu venho sem problema diretora.

Diretora - E tem mais uma coisa, por causa do que aconteceu ontem, o professor de literatura que estava na reunião disse que não dará mais aulas pra vocês. (a turma fica se olhando espantada, enquanto a diretora sai)

Teves - É galera, agora a parada moiô. Culpa da Thalia.

Thalia - Eu o quê? Vai te catar moleque!

Kleiman - Mas que beijo foi aquele, amiga?

Thalia - Sei lá, eu pensei que ela ia beijar o F...(corta a fala e aponta para o Franklin que estava próximo), dai ela veio com aquela marmotagem...

Glauber - eu resolvo o problema dela rapidinho...(risos)

Vaninha - Te aquieta, moço, que tu não ta pegando nem zica ultimamente...(mais risos. Franklin se aproxima de Judith e Vaninha senta-se próxima a eles)

Franklin - Judith, gostaria que você me falasse um pouco mais sobre a Lois, lembra que começamos a falar perto da biblioteca?

Judith - Lembro sim, naquele dia tu falou algo estranho, um mistério sobre tua vida....

Franklin - Mistério! Não, nada de mistério....mas fale sobre Lois...

Judith - Eu pedi que se você não pudesse ter nada com ela, que se afastasse, você concordou, mas agora quer saber dela?....

Franklin - Bom, quem sabe as coisas não mudam entre nós....

Judith - Certo. Ela tem o problema que já te contei, e esta desanimada de estudar porque sabe que mesmo se passar no vestibular não poderá sair e deixar o pai como está...se não ele vai dormir na rua...ela tinha um namorado antes disso tudo acontecer, iam casar, mas ele não segurou a barra depois e a abandonou, por isso eu te peço pra não dar a ela falsas esperanças, nem vou contar que você perguntou por ela...

Franklin - Tudo bem, eu entendo. Obrigado por tudo! (A turma sai para o intervalo e Vaninha vai até a porta ver se Franklin desceu as escadas, depois retorna e abre sua mochila)

Vaninha - Vamos descobrir o segredinho desse gato! (ela revira os cadernos e livros e uma folha cai de dentro dele no chão, e quando foi pegar o papel, ouviu que alguém voltava pra sala e passou a guardar rapidamente os materiais, mas teve que enfiar o papel no bolso e ir rapidamente para sua cadeira)

Vick - Vaninha, você passou a aula vaga toda aqui?

Vaninha - Sim, estou com cólica.

Vick - Pois perdeu o babado, contaram pra diretora o que a Lois fez e ela entrou no castigo também.

Vaninha - Bem feito, aquela lesbi metida a valentona estragou nossa brincadeira.

Vick - Credo, Vaninha, deixa a pobre...eu acho que amanhã o Franklin pede ela em namoro.

Vaninha - Aposto que não, só se ele tiver doido...(Vaninha vai ao banheiro ler o papel que pegou da bolsa do Franklin em que tem escrito um poema seguido de um texto).

És um anjo, eu já sei, não me enganes

Olhando-te bem, quase posso ver-te as asas

Sei que a noite voas ao redor de minha casa

Outro dia o vento me sussurrou teu nome.

Mas o que veio um anjo fazer aqui na terra?

Por que fostes cruzar com o meu o teu caminho?

esta era tua missão ou era meu destino?

Quem por um anjo se apaixona acerta ou erra?

O teu poder, meu anjo, é privar-me dos sentidos

Tua presença torna meu pranto uma doce alegria

E quando partes, anjo meu, nem desconfias

Que me deixas corpo e alma retorcidos

Sou poeta, anjo lindo, transformo dor em poesia

Mas isso é pouco para tua imortal beleza

Pois não te mereço, tenho disso uma real certeza

Ter-te-ei somente em minhas fantasias

Nossa despedida inevitável será pra mim mortalha

Segurarei teu pé, contigo subirei nos ares

Mas sei que cairei do céu de teus altares

E ao cair direi teu nome, minha fada.

"Missão do fim de semana: Mandar tudo que me atrapalha, tudo que me impede de ser feliz para longe de mim e incluir a Lois Lane em minha vida para sempre."

Vaninha - Ah, mas não vai mesmo, gato, não se depender de mim...(Rasga o papel separando o bilhete do poema e então começa a raspar a folha com um estilete e reescreve o bilhete)

"Missão do fim de semana: Mandar tudo que me atrapalha, tudo que me impede de ser feliz para longe de mim e excluir a Lois Lane de minha vida para sempre.".

Vaninha - Cara, eu mereço um Oscar, ficou perfeito, até o dono do bilhete pensaria que foi ele mesmo que escreveu. kkkkkkkkkkkk! (Todos retornam para a aula de Biologia e a professora pergunta por Lois)

Vaninha - Tá dodoi tia Tais, mas amanhã ela vem ajudar na biblioteca.

Tais - Vai vir doente!?

Vaninha - A gente ajuda a coitada, não é Thalia? (Thalia e os outros olham para Vaninha desconfiados da repentina bondade por Lois, que publicamente é seu desafeto)

Thalia - Não me envolva nisso, Vaninha!

Vaninha - Se vocês são ressentidos, eu não guardo mágoa de ninguém, vou ajudá-la sozinha, pode deixar comigo.

Judith - Esta dai tá aprontando (falando baixinho para Izana)

Izana - Vamos ficar de olho! (enquanto falam, chega a diretora para dar avisos)

Diretora - Galera, como vocês vão mexer com muito papel antigo e empoeirado amanhã, tragam luvas e máscaras se tiverem alergia, e segunda-feira já teremos o novo professor de literatura)

Kleiman - Ai, melhor nem reclamar que já perdemos dois profes este ano!

Teves - Escapei de explicar livro, Graças a Deus!

Diretora - Talvez não, ele disse que poderia usar as anotações do Franklin como parte da nota, portanto quem não apresentou pode se preparar.

Teves - Ai lasqueira! Alegria de pobre dura pouco! (Vaninha vai sentar-se perto de Franklin)

Vaninha - Franklin, quer me ajudar a fazer uma surpresa amanhã para a Lois? Ela anda tão triste ultimamente...

Franklin - Que surpresa, Vaninha?

Vaninha - Nada demais... um bolinho e umas flores... só pra levantar a autoestima da minha miguxa, topa?

Franklin - Claro, Vaninha, muito bacana da tua parte... (Vaninha agradece e vai para perto de Vick)

Vaninha - Vick, porque você disse que o Franklin ia pedir a Lois em namoro?

Vick - Ta na cara que ele a ama e que ela o corresponde... ontem ela iria beijá-lo, mas acho que ele é tímido e acenou para ela não beijá-lo, foi ai que ela beijou a Thalia... mas depois ele correu atrás dela e a socorreu... não é lindo?

Vaninha - Muito lindo, deve ser por isso que ele estava dizendo que amanhã vai fazer uma surpresa pra alguém, uma homenagem ou pedido...alguma coisa assim.

Vick - Nossa, amanhã vai ter love! que lindo! Eu não perco isso por nada... posso catalogar todos os livros da biblioteca se quiserem para ver essa cena de amor! (Vick sai para a mesa de Verlaine e conta o caso, depois vai para outra mesa fazer o mesmo, sempre sob o olhar de Vaninha que sorri com o canto da boca)

ATO 10

(Sábado pela manhã quase todos os alunos estavam na biblioteca, Lois estava isolada em uma estante afastada, sentia vergonha dos acontecimentos do dia anterior. Assim que chegou, Vaninha foi a seu encontro fazendo ares de compaixão, mas Judith e Izana a observavam atentas)

Vaninha - Lois, amiga, posso te ajudar?

Lois - Eu posso te impedir de me ajudar?

Vaninha - Nossa, se soubesse o que tenho pra te dizer, você me trataria melhor...

Lois - Se você quer falar algo, desembucha logo ou me deixa em paz...

Vaninha - Tudo bem... o Franklin vai chegar daqui a pouco e vai chamar alguém que ele gosta até o almoxarifado para pedi-la em namora...com flores e tudo. Todos estão achando que é você.

Lois - Pode ser outra... mas como você sabe isso? (Lois tenta disfarçar seu entusiasmo diante da notícia, mas fica evidente que sua expressão de rosto ganhou nova vida)

Vaninha - Ele mesmo me disse...

Lois - É mesmo?... vocês são amigos agora?

Vaninha - Bem íntimos por sinal (Vaninha se afasta de Lois)

Vick - Olha, gente! O Franklin chegou com um buquê de flores e entrou no almoxarifado. (Vaninha olha pra Lois e pisca o olho, enquanto o coração da menina dispara, envermelhando todo seu rosto)

Vick - Ele tá vindo pra cá, disfarça meu povo (cada um volta a sua rotina e Frranklin chega a porta da biblioteca e faz sinal pra Vaninha ir até ele, mas ela finge que não percebe para que ele a chame pelo nome)

Franklin - Vaninha, você pode vir comigo ao almoxarifado? (todos olham atônitos para Lois que empalidece repentinamente)

Vaninha - É importante, gato?

Franklin - Urgente! (Vaninha sai mascando o chiclete de forma bem estravagante, ajeitando a saia e o cabelo, e ates de cruzar a porta para, olha pra Lois e beija o ombro. Lois fica possessa, e joga os livros no chão enquanto Judith e Izana vão consolá-la)

Judith - Que cara idiota!...

Izana - Logo com aquela cobra, meu Deus! (Lois porém não aceita o consolo das amigas e vai embora chorando, enquanto no almoxarifado rola a seguinte conversa)

Vaninha - Vamos, meu amigo, você tem que caprichar, a menina esta especialmente brava hoje.

Franklin - Veja como vou falar (Franklin se ajoelha com o buquê na mão)

"Hoje estou aqui para me redimir de toda a minha falta de entendimento, fui um idiota e deixei que questões pequenas atrapalhassem o amor que sinto por ti desde o dia em que te vi pela primeira vez...espero que minha ignorância em tentar negar que você é o grande amor da minha vida não atrapalhe que você aceite meu pedido: Que ser minha namorada?"

Vaninha - Bravo! Ficou ótimo... A gata vai xonar...

Franklin - Estou nervoso... e se ela não aceitar?

Vaninha - Homem, coragem! vamos logo que caso assim quanto mais enrola mais pode dar errado (Vaninha tinha pressa, porque viu Lois sair da escola)

Franklin - Pois vamos! (chegam a porta da biblioteca)

Vaninha - Gente, o Franklin tem um anúncio a fazer e gostaria que todos o ouvissem...mas cadê a Lois?

Vick - Depois do que ocorreu queria que ela ficasse aqui?

Franklin - Lois saiu?!

Vaninha - Eu sei onde ela está, vamos atrás dela (sai então arrastando Franklin para que ele não descubra o que ocorreu, mas Judith desconfia)

Judith - Tem algo podre nessa história e não é somente o bafo dessa lacraia. (Vaninha leva Franklin por locais onde com certeza Lois não estaria, mas demonstra preocupação fingida)

Vaninha - Meu Deus, onde foi parar minha miguxa?

Franklin - Deixa por hoje, Vaninha, você ajudou bastante, amanhã ela aparece e nós conversamos. (quando se vê só Vaninha pensa)

"Hoje deu melhor que a encomenda, mas como evitar deles se encontrarem e se entenderem?... Já sei" (Vaninha liga para diretora)

Vaninha - Pois é diretora, não acho justo a principal bagunceira foi embora com meia hora dizendo que ninguém obrigava ela a fazer nada e besta eram quem ia passar o fim de semana trabalhando, que ela mesmo que não tinha medo de ti.

Diretora - Pois bem, o dela eu entrego na segunda-feira... obrigado por avisar Vaninha.

Vaninha - Por nada, precisando eu estarei as ordens... agora vou catalogar livro... eu amo fazer isso sabia?

Diretora - Que bom, até mais. (Vaninha desliga o telefone)

Vaninha - Até mais, abestada, kkkkk, agora o golpe final. (Vaninha pega a gravação do celular que havia deixado no almoxarifado e edita o ensaio que Franklin fez com ela para pedir Lois em namoro, depois vai a casa de Lois para mostrá-la. Ao chegar bate no portão e Lois não consegue disfarçar a raiva ao atendê-la).

Lois - O que você quer ainda Vaninha, vai embora ante que eu te arrebente? (Lois não deixa Vaninha entrar, mas no portão ela liga o celular para mostrar a Lois)

Vaninha - Veja que declaração linda o Franklin me fez!!

Lois - Enfia esta gravação no c...

Vaninha - Vixi, mas é rancorosa....aprende a perder menina, você nunca teve chance com ele...

Lois - Tô me linchando pra vocês...

Vaninha - Pois espero que você não fique conversando com o meu namorado, pois eu sou ciumenta viu!

Lois - Pode fazer bom proveito dele, e diga para não me procurar...

Vaninha - Procurar você... coitada... toma aqui um recadinho dele...(Vaninha estende a mão com o bilhete adulterado, Lois pega-o e amassa, jogando na cara dela, mas Vaninha ri e sai rebolando rua a fora, assim que Vaninha vira a esquina, Lois pega o bilhete e lê, quase não acredita, mas percebe que a letra e o papel são mesmo de Franklin, então senta no chão e chora amargamente sua má sorte)

" Ai Deus! Quanto mais tenho que suportar?! Eu já não estava conformada com meu destino?... já não tinha me trancado de tudo e de todos?... já estava bebendo o cálix amargo de uma vida sem amor, sem carinho, sem atenção, só com sofrimentos e lembranças amargas?... porque o destino tinha que jogar a semente da esperança no meu coração para logo depois arrancar os primeiros brotos que despontassem?... porque eu tinha que conhecer o amor só para depois ser por ele desprezada?... quem há de suportar este martírio sem enlouquecer?... tenho vontade de por fim a minha vida para que essa dor seja arrancada de mim, mas para minha sina maldita se cumpra até ao fim, tenho meu pai que precisa de mim viva e sã para cuidar dele... ai, Deus, que essa dor está rasgando a minha alma!" (Lois se deita chorando ao lado do portão até que depois de algumas horas vai deitar-se e dorme... o sono é o único alento que tem agora da vida)

ATO 11

(Ao acordar, Lois não tem mais no rosto a expressão de sofrimento, apenas uma determinação inabalável em não deixar nenhum tipo de sentimento dominá-la novamente, jamais sofreria outra vez daquela maneira, jamais creria em ninguém novamente, o amor e a compaixão humana eram apenas palavras inúteis que não encontravam mais seus objetos no mundo, ela agora estava indiferente a qualquer tipo de sentimento e foi para escola na segunda-feira segura de que esta indiferença a protegeria de todos os seus inimigos e falsos amigos, principalmente de Franklin, aliás o primeiro que a recepcionou na chegada)

Franklin - Lois, eu te procurei ontem...

Lois - Te devo alguma coisa?

Franklin - Não, não me deve nada... é que pensei em...

Lois - Quando pensar então faça o favor de me deixar fora de seus planos e me dê licença para eu ir pra minha sala... (Franklin fica perdido, não sabe o que fazer neste momento, apenas observa Lois se afastando. Na sala a diretora já está apresentando o novo professor de literatura, William, que inicia explicando sua proposta de trabalho)

William - Bom pessoal, eu fiquei sabendo que o outro professor propôs que vocês apresentassem romances em sala, mas alguns ainda não o fizeram, portanto eu vou ampliar esta proposta para textos poéticos também, se tivermos apresentações hoje nós poderemos ouvi-las.

Lois - Eu quero apresentar um poema! (a classe fica em suspense, já não sabem mais o que pode acontecer)

William - Que bom!... qual é o poema?

Lois - "Versos íntimos" de Augusto dos Anjos.

William - Bem forte este poema, você vai escrevê-lo na lousa?

Lois - Não, eu o tenho memorizado e vou declamá-lo.

William - Pois pode vir a frente e iniciar.

"Vês! Ninguém assistiu ao formidável

Enterro de tua última quimera.

Somente a Ingratidão - esta pantera -

Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!

O Homem, que, nesta terra miserável,

Mora, entre feras, sente inevitável

Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!

O beijo, amigo, é a véspera do escarro,

A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,

Apedreja essa mão vil que te afaga,

Escarra nessa boca que te beija!"

(O aplauso do professor foi seguido pelos alunos)

William - Muito bem senhorita... (fica esperando resposta para a pergunta que não fez)

Lois - Lois Lane...

William - Pois bem Lois Lane, o que você tem a dizer sobre este poema que acaba de declamar?

Lois - O Eu lírico deste poema está lançando em rosto dos seus leitores e ouvintes o quanto a humanidade é hipócrita, mesquinha, egoísta e cruel... dizendo que na hora do maior sofrimento as pessoas passam sozinhas, abandonada por seus falsos amigos, a única companheira que não faltará ao seu martírio é a ingratidão, ela estará presente com seu perfume barato e seu hálito podre para assistir o enterro de todas as esperanças da pessoa... o Eu lírico também aconselha as pessoas a não confiarem na falsa compaixão, no carinho fingido, no falso amor... (pigarreia) na falsa amizade, que devemos tratar todos com a indiferença e a frieza que merecem tais pessoas hipócritas.

William - Caramba, nem eu tinha visto tanta coisa implícita neste poema. Você está certa sobre a mensagem do texto, mas vocês acreditam que a vida é assim como o Eu lírico a descreve?

Franklin - eu discordo completamente...

William - Qual é a sua opinião, então, sobre o tema?

Franklin - O desejo de todo ser humano é apenas ser feliz... na busca pela sua felicidade, entretanto ele vai machucar uma ou outra pessoa e também será ferido, mas isso não justifica que alguém abandone sua esperança em ser feliz e descreia totalmente da bondade humana.

Lois - Até que se prove o contrário, podemos confirmar pelas atitudes que as pessoas fingem ter carinho e preocupação pelos outros apenas quando quer ferir ou tirar proveito deste alguém.

Franklin - Sei que é difícil defender o homem porque em muitos momentos ele acaba sendo como a colega descreveu, mas por mais cruel que seja, toda pessoa já foi uma criança carinhosa e inocente um dia, que recebia e dava amor a todos em sua volta, as pessoas mudam, aprendem a ferir, a fingir, a magoar, e tantas outras maldades, apenas porque recebeu em algum momento estas coisas de alguém, como diz no poema "sente inevitável necessidade de também ser fera" veja que quando falamos do nosso mal, explicamos que ele é fruto de um mal que já sofremos, então temos que aceitar que o mal do outro também é fruto do que eles sofreram.

Lois - Enfim, somos maus, não importa qual é a origem desse mal, nós o sofreremos e faremos os outros sofrerem também.

Franklin - Não necessariamente, você pode pagar o mal com o mal ou pode pagar o mal com o bem, cortando a corrente do mesmo, é decisão tua.

Lois - Se nós nos fecharmos e impedirmos que outras pessoas nos machuquem, encontraremos um meio de vivermos entre estas feras.

Franklin - Concordo que isso nos daria meios para viver entre as pessoas, mas isto não nos dá razões para viver entre elas...

Lois - A única coisa que pode nos redimir dessa vida miserável é a morte...

Franklin - Professor, quero apresentar um poema também...

William - Claro, este debate já se esgotou?

Lois - Para mim fez foi demorar...

William - Pois venha senhor...

Franklin - Franklin, professor!

William - Venha Franklin, dê o seu recado... qual é o poema?

Franklin - "Adora-dor" de minha autoria.

William - Que legal ter um poeta em sala...Pode começar...

"Meu coração é um Zéfiro sacana,

Amou a ninfa mais linda da escola,

Tal Vênus – trágico! –, me ignora,

Fazendo de minha comédia um drama.

Qual um viandante a pedir esmolas,

Vago a seu redor... meu culto a profana,

Mas como me afastar de ti, Diana,

Se cada parte de meu ser te adora?

Afrodite de minhas vãs quimeras,

Circe a banhar-me em vasos de cicuta

Cibele que me nega a primavera.

Mas por vê-la assim minha vista exulta,

Por ouvir sua voz meu ouvido espera,

Contra seu amor é perdida a luta."

Franklin - Este poema fala que o amor é irresistível, mesmo quando não é correspondido ou tem impedimentos. A natureza humana não pode domá-lo, fica a sua mercê mesmo que nos traga o bem ou o mal, pois com ele esta o segredo de sermos felizes.

Lois - A felicidade é uma utopia, as pessoas são ruins agora e continuarão sendo amanhã, a prova disso pode ser vista todos os dias nos atos de cada um. (surge a diretora a porta)

Diretora - Com licença, professor, preciso falar com uma aluna.

William - Pois não. Qual aluna?

Diretora - Lois Lane está?

Lois - Aqui.

Diretora - Disseram que você não ficou catalogando os livros da biblioteca este fim de semana, e o combinado havia sido de que quem não o fizesse teria 15 dias de suspensão, certo, pois pegue a sua bolsa e me acompanhe.

Lois - Parece que Augusto dos Anjos tinha razão, não é? Professor, o debate se encerra com a apresentação das provas, agora vou tirar minhas férias forçadas. (Franklin sai logo após Lois)

William - Gente, alguém sabe o que aconteceu aqui hoje?

Judith - Professor, é tão complicado que ninguém vai conseguir explicar, mas o certo é que tem uma cobra envenenando esta turma.

William - Parodiando Lima Barreto " ou a turma acaba com esta cobra ou esta cobra acaba com a turma". Fim da aula garotos, vamos ao intervalo.

ATO 12

(As aulas voltaram a certa normalidade com a saída de Lois e Franklin, mas os bastidores continuavam tensos. No pátio um interessante diálogo se estabelecia entre Glauber e Izana)

Glauber - Não Izana, veja se me entende, eu vou ver meu avô que está doente, não tem como te levar, só vai a família.

Izana - Mas assim a gente nunca fica junto.

Glauber - NUNCA!!!!!? Nós estudamos juntos pela manhã, fazemos cursinhos juntos à tarde, nos encontramos todas às noites.... só falta ir morar na mesma casa.

Izana - Tá reclamando é?... quando eu te der um gelo, tu vai me valorizar.

Glauber - Não é isso, só vou um dia ver meu avô e volto.

Izana - Pode ir, Glauber, depois conversamos. (Izana se afasta e Vaninha se aproxima)

Vaninha - Afff! Um grude desse, não sei como você aguenta.

Glauber - Às vezes ela exagera mesmo...

Vaninha - Não sei porque você foi se amarrar...era melhor ficar solteiro, paquerando, livre sem grude no teu pé...só ficar.

Glauber - Engraçado, quando o cara ta na pista pegando as meninas ficam dizendo que é galinha e não tem compromisso, quando tem compromisso ficam criticando porque se amarrou.

Vaninha - Os inteligentes mesmo tem os dois lados...(Vaninha passa o braço no pescoço de Glauber que não recebe um beijo porque se desvia fingindo que esta pegando a mochila no banco)

Glauber - Isso dá é muita confusão, Vaninha.

Vaninha - Só se a namorada souber...

Glauber - Bom, de mim não vão saber porque não vou fazer...deixa eu ir ir ao banheiro. (Vaninha fica bem insatisfeita com a recusa de Glauber e decide ligar para a irmã do rapaz)

Vaninha - Oi Glenda, como está? soube que seu avô está doente, vocês vão viajar para vê-lo, não é?

Glenda - Só meus pais.

Vaninha - É mesmo? Nem seu irmão?

Glendo - Não, ele vai ao cinema com os amigos amanhã.

Vaninha - É mesmo, ele me disse, mas eu tinha esquecido. Melhoras pro vozinho. Beijos querida.

Glenda - Obrigada, beijos. (Vaninha fica pensativa batendo o celular na mão)

Vaninha - Glauber, Glauber! Agora você não escapa. (no dia seguinte Vaninha está em frente a porta do cinema, fingindo que está teclando no celular, mas filmando Glauber e seus amigos até que ele a vê)

Glauber - Vaninha, você por aqui!

Vaninha - Ora Glauber, eu adoro cinema.

Glauber - Sei... que filme está passando, então?

Vaninha - Ah! bebê, não acredita em mim... que vergonha... eu não ando mentindo para as pessoas que gosto... o nome do filme eu não sei, mas sei que conta a história de um avô doente e uma namorada abandonados por um rapaz que só quer saber de se divertir com os amigos. (Glauber esfriou na hora, previu uma chantagem)

Glauber - Você sabe que a galera da sala não acredita nas coisas que você diz, não sabe?

Vaninha - Sei disso, docinho, é por esse motivo que sempre filmo para ter prova do que vou dizer, kkkkkkk

Glauber - Diz logo o que você quer...

Vaninha - Ora o que eu quero... quero o que todo mundo quer... ser feliz é claro...

Glauber - Então vai ser feliz noutro lugar.

Vaninha - Não, meu coração diz que só vou ser feliz hoje se entrar nesse cinema e beijar muito na boca, sabia? (Glauber avalia o preço de seu erro).

Glauber - Depois você me esquece?

Vaninha - Nem vou lembrar seu nome, prometo.

Glauber - Pois então compre teu ingresso ai.

Vaninha - Com que dinheiro? Nem trouxe bolsa...

Glauber - Eu pago.

Vaninha - Claro que paga, inclusive a pipoca e o refri, porque cinema sem pipoca e refri não é cinema. (Assim Glauber teve sua tarde de humilhação com Vaninha que na aula do dia seguinte estava sorridente e muito amiga de Izana)

Izana - Qual é a tua, Vaninha? ta toda cheia de dedos ai, faltou ontem e nem justificou-se aos professores.

Vaninha - Como é que a gente se justifica de ter assistido um filme romântico maravilhoso ao lado de um gato, beijando muiiiito?

Izana - A tá... chupa aqui e vê se dá leite. (mostra-lhe o indicador)

Vaninha - Não crê? Eu te provo. Filmei desde a fila do cinema. (Vaninha mostra pra Izana, Glauber e seus amigos na entrada do cinema)

Izana - Olha o Glauber aqui, ele tava lá?!

Vaninha - Acho que sim... Nem reparei direito...

Izana - Me passa este vídeo.

Vaninha - Eu não, não quero me meter em briga de casal.

Izana - Mas este vídeo é de ontem?

Vaninha - Claro amor... mas vou apagá-lo e se você disser pro Glauber que o tenho eu digo que é mentira tua, não me meta em problemas de vocês, se ele mentiu pra ti, deve ter tido seus motivos.

Izana - Agora sou eu quem não quer que você se meta, deixa que dos nossos problemas nos cuidamos.

Vaninha - Então aproveita que ele está ali de papo com os meninos e pergunta como foi o filme.... kkkkkkk (Izana sai enfurecida e vai falar com Glauber)

Izana - Então, meu bem, como está o seu avô.

Glauber - Melhorando...

Izana - Mas quem te informou foi o lanterninha do cinema?

Glauber - Aquela peste da Vaninha já foi te falar?

Izana - Quem falou não interessa, só interessa que tu mentiu pra mim...Por quê?

Glauber - Porque eu já não saia com meus colegas há um ano... eu gosto de ti, mas você quer ficar grudada 24 horas por dia...

Izana - Quem ama sempre quer ficar perto....

Glauber - Quem ama não prende...

Izana - É assim que você se sente?... preso?

Glauber - É... às vezes... (Glauber abaixa a cabeça, Izana enche os olhos e lágrimas, mas enxuga com as mãos e diz com uma voz firme)

Izana - Pois tua cadeia se encerra agora, pode aproveitar sua liberdade...

Glauber - Não precisamos terminar...

Izana - Não é porque preciso, é porque quero.... (Izana sai antes que Glauber diga palavra, e Vaninha que observava de longe, se aproxima)

Vaninha - Bom... ao menos você pode assistir as estreias do cinema este mês... quando quiser é só marcar a sessão.... (Glauber não esboçou reação, apenas saiu com uma mistura de arrependimento e raiva da maneira como terminou com Izana, era o vilão da história, mas ao mesmo tempo sentia que precisava mostrar pra Izana que ela o sufocava, era uma vontade de chorar e uma sensação de alívio ao mesmo tempo... enfim, resolveu deixar o tempo decidir o que ocorreria entre eles)

ATO 13

(No centro da cidade, Teves encontra-se com Lois)

Teves - Ei, Lois, quanto tempo falta pra você voltar?

Lois - Uma semana...perdi muita coisa?

Teves - Nada demais...o Franklin também não foi mais...

Lois - Por que você acha que eu quero ter notícias dele? (demonstrando certa irritação)

Teves - Nada não...desculpa...achei que vocês...ele te ajudou, não foi?...

Lois - Não pedi ajuda dele... não preciso de ninguém...

Teves - Sério! Vocês não.... ele não é seu namorado?

Lois - Você está me perguntando muita coisa... o que você quer mesmo... desenrola meu filho que eu não tenho muito tempo....

Teves - Bom... é que... você nunca percebeu? Digo, nunca reparou em mim?

Lois - Reparar o que exatamente?

Teves - Eu... eu gosto de você! (Teves abaixa a cabeça sem muita perspectiva de uma resposta positiva, portanto não vê a expressão de surpresa e satisfação no rosto de Lois. Naquele momento era difícil saber qual sentimento predominava em seu coração, a vaidade de ver alguém tão frágil se arrastando para si ou o prazer de receber um sentimento de candura e inocência em meio ao inferno astral em que vivia)

Lois - E eu com isso?... só lamento... eu poderia muito bem viver sem ter que ouvir esse blá, blá, blá! (apesar de tudo, o que se passava no coração de Lois ela jamais expressaria para além de seu rosto ou de suas atitudes o seu afeto, a sua boca se isentava destas manifestações , por isso o apelido de zangadinha, apesar de nunca ter feito mal a alguém, sua fala era sempre dura, independente do contexto em que a pronunciava, não por maldade, mas ela desmontava uma alma com poucas palavras de tal maneira que dificilmente se podia reconstituir, esta característica a fazia sofrer tanto quanto as pessoas que a ouviam, porém Lois defendia seu jeito de ser, dizendo a si mesma que não suportava a hipocrisia das relações humanas, suas convenções e fingimentos de afeto para conviverem harmoniosamente, tinha asco à doçura interesseira dos elegantes, duvidava da bondade de quem quer que fosse, principalmente após os últimos acontecimentos. Teves saiu tão atônito que nem ouviu Lois perguntar sobre o novo professor de literatura)

Lois - Menino doido! (Em outro ponto da cidade, Maike discute com seu pai)

Pai - Você é um inútil... só come e dorme... por que não vira homem e procura seu rumo, vadio?!

Maike - Eu cuido da minha mãe...

Pai - A mãe que você mesmo adoeceu... olha pra ela animal... isto é vida... passa o dia inteiro deitada... não pode mais viver como as outras pessoas por tua culpa... se não fosse eu ela já estaria morta.

Maike - Ela que decidiu...

Pai - Ela quis um menino pensando que estava se sacrificando por alguém que prestasse, mas você não vale a comida que estraga, se ela soubesse tinha te abortado... você é um merdinha, se faz de coitado, mas é um pivete, um desqualificado, porque você não faz um favor pra todos nós e desaparece?! (Maike sai batendo a porta para que seu pai não o veja chorando, então perambula pelo centro da cidade, ele pensa no serviço que Franklin prometeu arrumar na escola, mas lembra que depois da confusão na escola Franklin sumiu. Onde estaria ele agora? Porque largou a escola? Como ele, sendo novato, poderia arrumar um emprego para alguém? Maike, então, compreende que tudo era mentira, o emprego, a atenção demonstrada por Franklin, e esta percepção é muito amarga para Maike, já que Franklin foi a única pessoa que lhe demonstrou algum afeto na vida além de sua mãe. Subitamente uma voz familiar retira Maike de seus pensamentos, era Clara, uma colega de sala desde a quinta série, mas que no ano anterior havia se separado dele porque abandonara a escola)

Clara - Maike!

Maike - Oi...

Clara - Tá indo pra onde? Tá longe de casa...

Maike - Sei lá.... to meio perdido.

Clara - Hummm, pois vem cá que eu te ajudo a se encontrar (Clara enlaça a mão de Maike e ambos riem e, após caminharem até uma praça, sentam-se em um banco para conversarem, mas infelizmente este banco fica em frente a casa de Vaninha que da sua janela vê o casal. Incomodada com aquela cena idílica, Vaninha liga para Diogo e inicia uma conversa bem estranha)

Diogo - Fala, Vaninha, o que você quer?!

Vaninha - Oi, gato, liguei para saber se você melhorou da febre...

Diogo - Que febre?... eu não estava com febre!

Vaninha - Não... mas ontem quando você passou aqui na praça deixou uma catinga de chifre queimado...kkkkkkk

Diogo - Olha, sua vaca, se você pensa que não te bato porque você é mulher.....

Vaninha - Me bater?! Eu sou tua melhor amiga!... a única que tem coragem de te avisar que você está sendo corno.

Diogo - Que p... de conversa é essa, Vaninha?! Eu não sou corno!

Vaninha - Se você não é corno, porque eu estou vendo a tua gata se pegando aqui na praça com um moreno? (não houve resposta de Diogo, mas Vaninha continuou na linha apenas para ouvir os xingamentos e a uma moto acelerando, depois foi para a praça sentar-se bem em frente ao casal de amigos, até que Diogo chegou cego de ciúmes que nem reparou que Vaninha estivesse ali)

Diogo - CLARA! Quem é esse idiota ai?

Clara - Não ofende meu amigo... ele não te fez nada...

Maike - Deixa, Clara, eu vou embora...

Diogo - Vai mesmo, seu bosta. (Diogo chuta o peito de Maike que cai na grama da praça. Já uma multidão se aglomera para ver a briga. Maike se levanta e parte pra cima de Diogo enquanto Clara tenta entrar no meio deles para separá-los. Maike prepara um soco, mas Diogo se esquiva e o punho de Maike acerta o rosto de Clara que cai desmaiada, então a luta se encerra)

Diogo - CLara!, Clara! (Maike começa a se afastar de costas e escuta algumas pessoas gritarem)

Vários - Covarde! (da multidão uma lata de refrigerante é arremessada em sua direção, então Maike sai correndo para longe dali)

ATO 14

(a diretora reúne os alunos do terceiro ano na sala de vídeo para esclarecimentos, iniciando sua fala em um tom de desculpas)

Diretora – Por causa dos acontecimentos das últimas semanas eu preciso informar a vocês sobre a situação do novato colega de vocês, o Franklin...

Kleiman – Por que ele desistiu de estudar, diretora, parecia tão inteligente e interessado?

Diretora – Na verdade ele não desistiu de estudar, ele desistiu da turma...

Verlaine – Ei!.. ninguém fez nada de mal pra ele...ao contrário, ele foi muito bem recebido e integrado a turma....

Diretora – Eu sei... acho até que o problema foi ele ter se integrado demais...

Vick – Aposto que teve alguma fofoca...

Diretora – Não é isso gente...é que....como posso dizer...o Franklin não é um aluno!

Glauber – Agora lascou... então ele é o quê?

Diretora – Vocês conhecem ele apenas pelo apelido, Carcará!

Thalia – Ele é o professor! Meu Deus! (um grande escarcéu de falas se sobrepõem, a maioria delas tentando lembrar ao colega próximo o comportamento do novato que denunciava o fato dele ser professor, já outros queriam se porta-vozes das memórias menos convenientes em que a turma mostrava seu lado adolescente e imaturo na frente de Franklin, às vezes, até mesmo denegrindo a imagem do professor que “viria” ensinar literatura)

Izana – Ai foi covardia, diretora, por que vocês mentiram?

Diretora – Vejam, meninos, vocês lembram que tiveram uma grande rejeição pelo professor?

Teves – Mas por que ele foi para a sala como aluno? Se ele não tivesse ido, nada daquilo teria acontecido... ( a turma suspende-se em um hiato... mas Teves se recolhe ao silêncio com a tez vermelha murmurando o quanto é idiota e descontrolado)

Judith – Agora muita coisa se explica...

Diretora – Bom, Judith, então me explique porque até agora eu não entendi quase nada do porquê o Franklin deixou a turma...(Judith engasga-se, mas logo produz uma fala que desvie o assunto da curiosidade da diretora)

Judith – É que quando Lois foi suspensa, Franklin foi atrás dela, mas nenhum deles voltou pra sala desde então.

Diretora – Isto é que está misterioso... primeiro o professor aceitou o convite para lecionar em nossa escola, depois nós decidimos que ele se apresentaria como aluno para conquistar vocês e tirar a impressão ruim que tinham dele e da literatura, impressão que vocês deixaram bem clara, não foi, (o olhar acusador da diretora para a turma foi semelhante ao do dia da chegada de Franklin, assim como a reação)

Vick – E o que deu errado? Por que ele desistiu da turma?

Diretora – Ai é que está... na sexta-feira, antes de vocês trabalharem na biblioteca ele veio dizer que entregaria a turma após o fim do bimestre, mas estava muito alegre, falou maravilhas dos alunos, mas no domingo ele foi à noite me procurar dizendo que não poderia permanecer na turma nem mais um dia e que o William o substituiria até as provas, então ele acabou vindo segunda ainda como aluno...não entendi nada.

(Judith aproxima a boca ao ouvido de Izana e segreda)

Judith - Izana, agora a conversa do Franklin na biblioteca faz sentido...mas porque ele chamou a diaba da Vaninha no dia do trabalho na biblioteca?

Izana - Aposto que ela tinha prometido ajudar no pedido de namoro que ele faria a Lois, você viu que eles saíram do almoxarifado procurando por ela?

Judith - É mesmo...mas porque ela ajudaria a Lois?

Izana - Mas você é inocente miguxa... ela fez de tudo pra zangar a Lois, e cá entre nós, isto não é tarefa muito difícil, dai fingiu que o Franklin a pediria em namoro, sabendo que Lois não ia aguentar ficar na escola.

Judith - Caraca, véi, foi mesmo! Mas era só eles conversarem na segunda...não sei porque eles não se acertaram quando saíram da sala.

Izana - Bom, nós podemos perguntar a Lois e ao Franklin...

Judith - Eu posso falar com a Lois amanhã quando ela retornar da suspensão, mas você é que vai procurar o Franklin.

Izana - Vixi...eu nem sei onde ele mora. (No exato momento em que falou, a diretora chama a atenção de todos para noticiar)

Diretora - Ei, galera! Vocês não vão acreditar! O carcará mandou um zap agora dizendo pra avisá-los que a aula de literatura a partir de amanhã será com ele... (muitos gritos, não dava para entender quem estava reclamando e quem estava comemorando).

Judith - Aff!...é tanto vai e volta que deixa todo mundo tonto.

Vick - Qual vai ser afinal o assunto das provas?

Verlaine - Só pode ser sobre os livros e poemas apresentados...

Diretora - Isto o Franklin vai esclarecer quando chegar. Agora podem voltar pra sala e estudar.

(Mais tarde Judith chega a casa de Lois para conversar.)

Judith - Oi, Lois, como você está?

Lois - Sobrevivendo....eu pensei que você tinha perdido meu endereço...

Judith - Desculpa não ter vindo antes...este mês foi muito apertado de trabalho...mas eu queria saber se você vai voltar pra escola.

Lois - Estou juntando forças pra voltar...já paguei tanto mico e levei tanta porrada lá este ano...não sei se tenho cabeça pra continuar...

Judith - Eu sei, amiga...mas eu estou desconfiada que parte do que você sofreu foi planejado...

Lois - Como assim? Quem planejou? Como?

Judith - O caso da brincadeira da faca...da biblioteca...você nem desconfia quem está te sabotando?

Lois - Eu sei que a Vaninha me odeia, mas ela não tem culpa de tudo...aliás foi até bom que ela fizesse o que fez, pois evitou que eu me iludisse mais e sofresse dobrado.

Judith - Sei que você está falando do Franklin...mas você precisa saber que quando ele te tirou de tempo dizendo que o trabalho dele o impedia de ficar contigo não estava mentindo.

Lois - É mesmo? Qual é o trabalho dele? Espião da CIA? Monge Budista? Eu não sou besta Judy, ele me deu um fora...

Judith - Ele é o professor de literatura!

Lois - Hã!...o nosso professor?!O carcará!...

Judith - Isso mesmo...e ele até pediu a diretora pra deixar a turma quando percebeu que gostava de você...

Lois - Não Judy...não me dê esperanças novamente...não quero sofrer...ele fez o pedido de namoro a Vaninha...

Judith - Nada disso, garota...ela se passou por amiga dele e sua prometendo ajudar vocês a ficarem juntos, dai ela armou aquele teatro no dia que ele iria fazer o pedido.

Lois - Como você sabe isso? ele saiu com ela para o almoxarifado...

Judith - Mas quando ele voltou te procurando com flores na mão você tinha ido embora. Amiga, não deixa aquela venenosa atrapalhar a tua felicidade...

Lois - Eu quero acreditar...mas tenho provas de que ele não me ama...

Judith - Que provas...ele te disse isso?

Lois - É como se dissesse...ele escreveu.

Judith - Eu não acredito...me mostra.

Lois - Prefiro que você não veja...tenho vergonha...a letra é dele mesmo...a folha do caderno...ele escreveu sem dúvida...

Judith - Amiga, eu acho que isto é um mal entendido...mas você é que deve decidir...o coração é teu, deixa ele te guiar...só não quero que você além de perder um amor ainda perca o ano letivo...seria uma derrota dupla.

Lois - É verdade...eu preciso estudar para cuidar bem do meu pai...não posso deixar meus sentimentos fazê-lo sofre mais do que já sofre. Pode me esperar que amanhã retorno a escola.

Judith - É isso ai...lá nos vamos conversar mais...beijos!

ATO 15

O retorno de Franklin como professor deixou todos apreensivos, os acontecimentos durante o bimestre tiveram efeito contrário ao desejado pela direção da escola quando montou a farsa, por parte dos alunos havia o desconforto de terem mostrado suas fraquezas ao professor Carcará, por parte de Franklin o vexame de ter se envolvido em questões amorosas ainda não totalmente esclarecidas com uma aluna. Apenas Vaninha mostrava-se descontraída com a densidade da situação.

Vaninha – Franklin, meu amor, posso responder a prova a lápis?

Franklin – Não, Vânia, só aceito à caneta. (A resposta seca para a inimiga do casal fez os olhos de Lois e Franklin se encontrarem por uma fração de segundos, tempo suficiente para dois amantes fazerem download dos sentimentos um do outro, mas as dores de Lois e a ética de Franklin bloquearam o vírus do amor antes que ele conectasse novamente seus corações).

Lois – Não sei pra que estudar Literatura, é só mentira, um blá, blá, blá sem sentido, um mi, mi, mi, fingido sem sentimento, só perda de tempo. (Falava alto, mas sem levantar a cabeça).

Franklin – O valor da Literatura é virtual e relativo como qualquer outro elemento produzido pelo homem...

Lois – É conversa fiada, em qualquer lugar do Brasil Matemática, Língua Portuguesa, Química, Física, história, geografia e Biologia são mais importantes que Literatura... sinceramente, pra que serve a Literatura mesmo? (Lois, agora de cabeça erguida e olhar fixo em Franklin, deixou a caneta sobre a prova e cruzou os braços a espera da resposta).

Teves – Eu também acho que não serve para nada, é só para encher linguiça.

Izana – Eu acho que serve sim, serve pra malandro encontrar jeito mais fácil de enganar os bestas.

Glauber – Aula de Literatura é a aula da besteira... essa parada de ler romance e poema é para quem não acha o que fazer.

Mike – Literatura é coisa de gente fresca, uma hipocrisia que inventaram para o homem fingir que tem bons sentimentos...

Mary Jane – A porcaria da Literatura pode destruir a vida de uma pessoa...

Franklin – Como ela poderia fazer isso, Mary Jane? Você conhece alguém que a literatura tenha destruído a vida?

Mary Jane – Tá falando com a própria, professor.

Franklin – Pois eu estou muito curioso para saber como isso se deu... se você puder dizer é claro.

Mary Jane – Então apenas o senhor não sabe o que me aconteceu?

Franklin – O que eu soube foi que você se afastou da escola durante um mês por problemas de saúde...

Mary Jane – Fiz um aborto... entrei em coma... depois tentei me matar... o psiquiatra mandou que eu viesse para escola e distraísse minha mente...

Franklin – Eu sinto muito... ninguém me avisou do teu caso... mas em que a Literatura influenciou estes acontecimentos contigo? (Mary Jane abaixa a cabeça... suspira fundo... toma fôlego e começa a falar antes que Franklin pudesse dizer que estava arrependido de ter perguntado).

Mary Jane – Foi meu ex-padrasto... assim que se separou de minha mãe ele me enviou uma mensagem no zap dizendo que havia se separado porque me amava... eu mudava a conversa, mas ele insistia, mandava lindas mensagens, fazia eu me sentir uma princesa, dizia que minha mãe me tratava mal por ciúmes... lembrava como ele sempre foi atencioso e minha mãe foi distante e agressiva comigo... (Mary Jane segura a fala para não chorar até recuperar-se) então nós começamos a namorar escondido... ele me prometeu o mundo... então eu engravidei... quando disse a ele que teríamos que morar juntos por causa da criança, ele riu na minha cara, disse pra mim que aquilo era só uma vingança porque minha mãe o havia deixado quando ela percebeu seu interesse em mim... fiquei desesperada e tomei remédio para abortar... o resto o Sr. Já sabe. Se a maldita Literatura não tivesse dado àquele imundo palavras bonitas eu não teria destruído minha vida com ele... (Franklin fica pensativo até o fim da prova e faz uma proposta a turma).

Franklin – Pois bem, fiquei aqui refletindo o que ouvi sobre a Literatura e decidi que a pergunta da Lois "pra que serve a Literatura?" será tema da recuperação... o processo ocorrerá em duas etapas, primeiro em um debate com o grupo Lois, Teves, Mike, Glauber e Mary Jane acusando a Literatura de ser inútil ou até mesmo destrutiva e o restante da sala a defendendo a função da Literatura na sociedade... o grupo vencedor receberá a nota máxima, o grupo perdedor irá fazer um artigo de opinião respondendo a pergunta inicial.

Mary Jane – Mas eu já disse minhas razões, não preciso mais debater então!?

Franklin – Você deu apenas um exemplo, Jane, foi um acontecimento particular, mas por ele você julgou toda Literatura, agora vai ter que examiná-la mais profundamente para conhecer sua razão de ser no mundo.

Mary Jane – Desse modo eu já posso me considerar derrotada, pois a Literatura só mostra o lado positivo da vida, a beleza, o amor, a felicidade...

Franklin – Agora você se enganou totalmente... a Literatura não é apenas panfletária dos aspectos positivos dos homens, muitos autores e muitas escolas literárias perscrutaram vileza humana e a corrupção social, produzindo obras maravilhosas sobre o assunto.

Verlaine – Ei, profe, desse jeito o Sr. Já está favorecendo o outro grupo.

Franklin – Acho que este grupo não vai precisar de ajuda para acusar a Literatura. (Franklin olha nos olhos dos insurretos e percebe a firme determinação em confirmarem suas acusações a qualquer custo, como se fazendo assim pudessem amenizar a dor que lhes angustiavam, mas desconfiava que se mergulhasse fundo em seus corações, seria possível ver que eles desejavam estar errados sobre a Literatura, sobre a humanidade, sobre a vida e sobre a felicidade).

ATO 16

Desconfiados de uma nota baixa na prova de Literatura, os alunos se empenharam para o debate, era preciso vencer o outro grupo para ter chances de aprovação, afinal o professor era o famigerado Carcará, reza a lenda que um aluno tendo reprovado por meio ponto em Literatura ficou dois meses tentando suborná-lo, oferecia carona, dinheiro, equipamentos de mídia, passagens aéreas, bebidas, ingressos para shows, livros e por fim um cargo administrativo na Secretaria de Educação do município, tudo em vão, e esta história desencorajava todos da turma a tentar aprovação por outro meio, senão pelo estudo.

Mary jane – Professor, eu tenho uma reclamação... como o senhor é professor de Literatura, claro que vai escolher o grupo que a defende como vencedor (o grupo de acusação havia se reunido e considerado esta situação).

Franklin – Você está absolutamente certa, Jane, e é por isso que a diretora será a juíza do debate. (o grupo contava com esta falha do professor para criticar o processo avaliativo e, talvez, impedi-lo de acontecer, mas a resposta de Franklin tirou-os "de tempo" e fez-se um silêncio constrangedor)

Vaninha – A galera já está arregando, kkkkkk! (o professor, que já havia percebido a malícia de Vaninha, observou o deboche e falou...).

Franklin – Para que a quantidade de componentes dos grupos fique igual, a Vaninha passará ao grupo de acusação. (a troca fez metade da turma sorrir e a outra metade reclamar, mas o professor sustentou sua decisão indiferente a todos)

Thalia – Agora já podemos nomear o grupo de acusação: “Flores do mal”...kkkkkkkk!!!

Vaninha – o seu grupo pode se chamar “Rosa de Hiroshima” então, suas mutantes! (Vaninha cruza os braços e faz um bico enorme, emburrada por ter entrado no grupo da Lois que mostrava a mesma satisfação de sua inimiga com a troca. Mais tarde, no pátio se desenrola uma interessante conversa entre Thalia e Verlaine que está sentada em sua perna).

Thalia – Então, você vai lá pra casa hoje pra gente preparar o debate? (Enquanto fala Thalia penteia com os dedos os cabelos loiros e ondulados de Verlaine, mas antes que a menina responda, Diogo passa em frente e provoca-as).

Diogo – Tá pegando a loirinha, eim Thalia?! (A fala de Diogo fez Verlaine pensar sobre o modo tão íntimo com que é tratada por Thalia, até aquele momento todos os abraços, todos os beijos e afagos eram sinônimos de uma amizade profunda e carinhosa, mas de repente tudo pareceu-lhe sexual e depravado após aquele comentário).

Verlaine – Acho que não vou poder, Thalia... tenho que fazer o trabalho de Biologia... a Taís não vai aceitar atraso... (responde a colega quase por meio de murmúrios para não denunciar o efeito do comentário, e já não está tão encostada em Thalia...)

Thalia – Eu sei, mas nossa nota está boa em Biologia, é em Literatura que temos que nos concentrar. (enquanto fala Thalia corre a mão do ombro de Verlaine para a sua nuca, introduzindo os dedos pela raiz de seus cabelos)

Verlaine – Eu sei, mas acho que não vai ser difícil defender a Literatura... (Verlaine afasta a cabeça da mão de Thalia e levanta de seu colo, arrumando o cabelo que a amiga embaraçou).

Thalia – Sim, minha amiga, está com medo de mim agora! (fuzilando Verlaine com um olhar acusador).

Verlaine – Não... quer dizer... se você for lesbi não tem nada..., mas os meninos vão ficar falando de nós e... (Thalia a interrompe levantando-se e inclinando a cabeça para poder olhar nos olhos de Verlaine).

Thalia – Mas você acha que eu te abraço e beijo com segundas intenções!? (Thalia agora em pé, segura os braços de Verlaine como se a encostasse em um muro e aproxima seu rosto do rosto da colega de forma intimidadora).

Verlaine – Bem... não...só uma vez... mas já esqueci... (Verlaine não consegue olhar nos olhos de Thalia, ela lembra o dia que foi dormir na casa de Thalia... estava tomando banho quando a amiga entrou no banheiro e quis ensaboá-la, mas Verlaine se recusou e disse que não dormiria lá se Thalia insistisse).

Thalia – Que vez foi essa? Quando você dormiu lá em casa? Quando banhamos juntas? Se você já tivesse esquecido não teria falado agora... eu já te pedi desculpas... te expliquei tudo... mas já que não confia em mim é melhor você se afastar pra não correr o risco de ser atacada por uma sapatão. (Thalia ficou por segundos esperando um pedido de desculpas, e à medida que o tempo passava seus olhos se enchiam de lágrimas, e logo que seus lábios começaram a tremer denunciando a tormenta em que se encontrava seu coração, ela largou Verlaine e saiu lentamente, ainda esperando ouvir a amiga chamá-la, mas sua espera foi vã. Do outro lado do pátio, Lois conversa com Judith e Vick).

Judith – Amiga, você tem que se preparar bem para o debate amanhã... acho que o Franklin não vai amaciar...

Lois – Eu sei, mas se eu vencer vocês perdem...

Vick – É a vida... uns choram para outros sorrirem... e neste caso você já chorou demais, deixa o choro pra nós desta vez (Lois olha com ternura para suas amigas e tem vontade de abraçá-las, mas se limita a pegar em suas mãos e ficar pensando sobre a situação)

Lois – JÁ SEI!!!! Todos nós podemos vencer amanhã)

Judith – Todas?! Como pode ser isso?

Lois – Aguardem e confiem... tenho que ir agora... beijos. (Lois sai e deixa as amigas curiosas).

ATO 17

Na hora do debate, o grupo “Rosa de Hiroshima” inicia o debate por estes termos:

Judith – A Literatura tem o seu lugar no mundo... desde os tempos em que o homem inventou a fala e fez as primeiras pinturas rupestres nas paredes das cavernas, a utilidade prática de ambas era informar, assim como cada animal do planeta faz uso de sinais, gestos, emitem sons e deixam marcas em seus territórios para informar os seus iguais, todavia está capacidade de transmitir informação foi se aprimorando e evoluindo tecnologicamente ao ponto do homem ser capaz de representar seu mundo por meio da palavra.

Vick – A palavra expressa pelo homem constrói sua realidade, os objetos no mundo são aquilo que dizemos que eles são, e porque dizemos coisas diferentes sobre um mesmo objeto, consequentemente um mesmo objeto assume a forma na mente humana daquilo que se disse sobre ele, sendo um objeto diferente para cada nova explicação.

Thalia – A literatura chega neste momento a vida humana, já que ela parte da capacidade do homem de inventar o que não existe por meio da imaginação, por meio do processo criativo, a Literatura é a capacidade de construir a realidade por uma forma mais evoluída, mais elegante, com o poder de convencer mais profundamente que qualquer outra linguagem que exista.

Verlaine – Esta capacidade pode ser utilizada de muitas maneiras, tanto para o bem, quanto para o mal, como no exemplo dado por Mary Jane.

Vaninha – Então a Literatura, da forma como vocês a descrevem, é uma arma perigosa que pode destruir as pessoas.

Kleiman – Evidentemente, como qualquer arma, ela pode ser utilizada para o mal...

Vaninha – Além do exemplo da Jane, temos casos em que a arte, da qual a literatura faz parte, foi utilizada para justificar a guerra, por exemplo, como no caso do manifesto futurista de Fillippo Martinetti, e se considerarmos “O Príncipe” de Maquiavel uma Literatura, neste livro as atrocidades dos reis também eram justificadadas.

Kleiman – Pontuas-te de forma magnífica o uso da Literatura, Vaninha, ela é uma arma poderosa com certeza, mas diferente de uma bomba, um revolver ou um canhão, a Literatura não foi feita para este fim. Observe como podemos utilizar uma caneta tanto para prescrever um remédio e salvar uma vida, como para assinar um decreto condenando alguém à morte. A Literatura não pode ser acusada daquilo que o homem faz com ela.

Vaninha – mas veja como acontece... quase ninguém entre os oprimidos consegue manejar o poder da Literatura, apenas uma elite que esta mais compromissada em manter o status quo que lhe convém... é uma arma que pouco se usa para libertar, para conscientizar e muito se usa para prender e para alienar.

Judith – Engano seu, Vaninha, assim como toda a arte, para falar profundamente ao ser humano é preciso ser artista, ter talento, habilidade, dom, e a elite com sua ideologia capitalista pouco é beneficiada com estas características, mas o povo a manifesta de forma muito intensa e profunda...

Vaninha – Se é assim, porque existe o predomínio da Literatura supérflua no mercado e da Literatura erudita na crítica?

Vick – Porque a Literatura popular é discriminada, porque o povo não tem acesso a uma Literatura mais variada, porque o homem lutando todo dia pela sobrevivência não tem tempo nem estímulo para crescer por meio da Literatura.

Vaninha – Professor, eu queria que fosse considerado o fato de apenas eu estar acusando a Literatura no grupo. (Vaninha olha os colegas com sarcasmo, mas eles permanecem serenos como se não estivessem sendo avaliados).

Franklin – Realmente seus colegas não estão contribuindo para o debate, Vaninha, mas independente disso a diretora terá que avaliar o grupo vencedor.

Vaninha – Pois então eu declaro que não tenho mais argumentos para acusar a Literatura, portanto nosso grupo está derrotado.

Diretora – Eu posso considerar a fala da Vaninha e decidir a questão

Kleiman – Pode não, deve diretora, faz parte do direito processual o réu declarar-se culpado. (todos riem, inclusive os do grupo da Vaninha)

Franklin – Porque você decidiu assim, Vaninha?

Vaninha – Eu mesmo que não me matei estudando para passar estes morcegos aqui de ano...eu declaro que estou separada deste grupo e quero a minha nota individualmente. (Franklin que já esperava como resposta algo parecido se dirige ao restante do grupo “Flores do mal”.

Franklin – E vocês não têm nada a dizer?

Lois – Temos sim Fran...(pigarreia) professor. Em conjunto nós concordamos que a Literatura é necessária ao homem.

Franklin – Tudo bem, mas o combinado é que o grupo perdedor, no caso vocês que não conseguiram condenar a Literatura, agora terão que produzir um artigo de opinião com o tema “Literatura para que?”.

Lois – Exatamente, e foi isso que nosso grupo, menos a Vaninha, fez... está aqui. (Lois entrega o artigo a Franklin que percebe um leve sorriso de satisfação em seu rosto... a vingança dos elegantes... o artigo segue com esta defesa da literatura).

Pra que serve a Literatura?

By: Glauber, Izana, Lois, Mary Jane e Teves.

“Ao ser questionado sobre a utilidade da arte para a existência humana, o poeta maranhense, agora membro da Academia Brasileira de Letras, Ferreira Gullar respondeu: ‘precisamos da arte porque a vida só não basta.’ Podemos inferir desta resposta que a arte, da qual a Literatura é parte nada insignificante, é um complemento tão necessário a vida que já não se pode diferenciar facilmente esta daquela. Mas afinal, qual é o valor da Literatura para a humanidade?

Em seu livro ‘Introdução a Filosofia’ Marilene Chauí expõe o materialismo das sociedades tecnocratas leva o homem a questionar o valor da existência de qualquer coisa que não possua uma utilidade social palpável e imediata, como se algo só legitimasse seu direito de existir mediante o desempenho de uma função, logo ninguém pergunta ‘pra que matemática?’ ou ‘pra que física?’, mas parece bem razoável aos homens que se pergunte ‘pra que literatura?’.

Uma defesa da existência da Literatura que justifica sua presença na grade curricular das escolas brasileiras foi dada por Rubem Alves em uma palestra realizada na UFMG ao dizer que: ‘A ciência nos dá meios para viver, mas além disso nós precisamos de razões para viver’ Eis então um dos grandes valores da Literatura; ela dá ao homem significado a sua existência, sem o qual ficaríamos à deriva neste mundo, sem um Norte e sem objetivos, como a protagonista do livro ‘Alice no país das maravilhas’ que ao perguntar ao gato que caminho tomar não sabendo ela para onde queria ir, recebeu como resposta: ‘para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve’.

A oposição a Literatura aparentemente parte da ideologia materialista da classe burguesa como denunciava o cantor Cazuza em suas músicas alegando que: ’a burguesia fede/a burguesia quer ficar rica/enquanto houver burguesia/não vai haver poesia’. Entretanto, visto como a classe dominante consome e frui intensamente a Literatura, podemos depreender que a arte da palavra só é dispensável, segundo esta ideologia, para as classes menos abastadas, o proletariado, concebendo assim a elitização do fazer literário.

A Literatura, porém, jamais poderá ser exclusividade de um grupo social, ela parte da própria existência e não pode ser suprimida da alma humana pela vontade de um segmento, sobre ela se pode vaticinar metaforicamente parafraseando o revolucionário Che Guevara: ‘as muitas flores que matem, jamais impedirão a primavera’, isto é, a Literatura resiste a qualquer tipo de contenção e é uma necessidade vital ao homem independentemente de sua classe social, pois já explicava a banda Titãs na letra de sua música: ’a gente não que só comida/ a gente quer comida, diversão, balé/a gente não quer só comida/ a gente quer a vida como ela é’, e viver sempre será maior que sobreviver.”

Franklin fica notadamente emocionado com a leitura, e sua emoção contagia os alunos.

Franklin – Eu não tenho como avaliar este trabalho menos que excelente, parabéns, vocês explicaram de forma brilhante o valor da Literatura. (todos batem palmas e Franklin lembra após alguns minutos que Vaninha é a única que ainda não está com a nota definida). Ok Vaninha, farás a prova...Vaninha?! onde ela está? (ninguém havia visto Vaninha sair enquanto era lido o artigo).

Lois – Ei, minha mochila está rasgada de estilete!!!! (Kleiman sai para ver se Vaninha está por perto).

Kleiman – Gente, corre aqui! (toda a turma sai para ver o que aconteceu e Kleiman está apontando para parede) Olhem o que ela escreveu! (na parede do corredor esta escrito com tinta de corretivo: Você vai morrer, maldita!)

Lois – Meu Deus! (Lois fica trêmula e instintivamente agarra o braço de Franklin que a acolhe).

Franklin – Fica calma Lois, ela não te fará nada, eu prometo...

ATO 18

Ao chegar a sua casa, Lois percebe que seu pai, como de costume, não estava. Havia passado à tarde na casa da Judith. Franklin a acompanhou o tempo inteiro, era impossível não perceber que ele queria estar sempre próximo a Lois, não só por conta da ameaça de Vaninha. Uma vez instalado, o “guarda-costas” improvisado da moça resolve preparar a janta.

Lois – Não precisa fazer a janta, professor, o Sr. vai se sujar. (Franklin fica triste com a formalidade e tenta tornar a conversa mais afetiva).

Franklin – Acho que você está com medo é de meu tempero, Lois, mas pode deixar que eu o experimento primeiro, caso eu caia no chão babando e estrebuchando você não come. (risos).

Lois – Então, qual vai ser o menu, chef? (como o coração apaixonado é frágil em suas determinações de se defender do amor, bastou uma pequena palavra mais suave para Lois se desarmar em relação a Franklin).

Franklin – Fettuccine ao alho e óleo, com porpetas cobertas de molho verde.

Lois – Minha nossa! Mas eu não tenho isso em casa... só macarrão e carne moída! (risos de Franklin)

Franklin – Mas é exatamente isto o ingrediente, meu bem. (Franklin sorri com muita ternura, Lois fica entre constrangida por demonstrar a falta de habilidade na cozinha, e emotiva com aquela cena idílica de Franklin preparando o jantar, mas logo a lembrança do bilhete de Franklin a confunde: como Franklin pode ser tão terno e atencioso com ela e ao mesmo tempo ter-lhe escrito um bilhete tão idiota? Lois quis perguntar, mas o medo da resposta a fez recuar...).

Lois – Pelo cheiro parece que está ficando bom. (Lois ficou ali em pé o tempo todo olhando Franklin cozinhar, suas angústias, seus temores, sua tristeza, tudo parecia pequeno ou mesmo não existir na presença de Franklin que de cinco em cinco minutos parava seu serviço, sorria e piscava para Lois. Ao terminar Franklin levou a mesa para o gramado do quintal porque estava muito quente aquela noite).

Franklin – Está uma noite especialmente agradável, não acha? (Franklin apoia os cotovelos na mesa e deita seu rosto sobre suas mãos, fixando o olhar em Lois que está a sua frente enrolando o macarrão no garfo bem devagar, Lois levanta os olhos e vai respondê-lo, mas ao fitar os olhos de Franklin abaixa rapidamente a cabeça e volta a mirar o macarrão do prato).

Lois – acho que sim. (a voz sai trêmula e abafada, como a voz de alguém que carrega um grande peso nas costas).

Franklin – Se você olhar pro céu não precisará mais acha, poderá ter certeza. (Franklin segura amavelmente o queixo de Lois e levanta sua cabeça, ela reluta um pouco, mas o calor daquele carinho lhe esgota as forças, então ela vê as estrelas).

Lois – Está realmente lindo o céu... há muito tempo não reparava-o...quantas estrelas... (O sorriso de Lois finalmente se abre por completo, seus olhos brilham, Franklin segura sua mão e Lois treme emocionada).

Franklin – as estrelas sempre estiveram ai, Lois, é preciso apenas que decidamos enxergá-las.... Eu sei um lindo poema sobre estrelas, quer ouvi-lo? (Lois responde com um aceno de cabeça e Franklin aproxima sua cadeira para falar-lhe ao ouvido)

Ouvir Estrelas

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo,

Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,

Que, para ouvi-las, muitas vezes desperto

E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite,

enquanto a Via-Láctea, como um pálio aberto,

Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,

Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!

Que conversas com elas? Que sentido

Tem o que dizem, quando estão contigo? "

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!

Pois só quem ama pode ter ouvido

Capaz de ouvir e e de entender estrelas".

Olavo Bilac

Franklin – Gostou do poema?

Lois – É uma linda poesia...ou poema...sei lá...de qualquer forma achei-o lindo!

Franklin – É com certeza muito linda! (Lois sorri, sabe que Franklin não se refere ao poema ou poesia de Bilac, eles sentem a respiração um do outro, num ato involuntário Franklin entranha seus dedos pelo cabelo de Lois até repousar sua mão sobre a nuca da moça, seus lábios ficam a três angustiantes centímetros, Lois não avança, mas fica sob total controle de Franklin, ambos sabiam que jamais poderiam frear seus impulsos estando a sós e tão apaixonados, então um esperou que o outro o convidasse ao paraíso da felicidade, mas o convite não veio...).

Lois – O que foi?

Franklin – Desculpe Lois, eu sou o teu professor... não posso estar nestas intimidades contigo. (Franklin levanta-se e se afasta de Lois, que imediatamente lembra-se do bilhete que Vaninha lhe entregou).

Lois – Eu acho que as desculpas que você arruma pra me descartar estão cada vez mais difíceis de serem criadas, mesmo para alguém profissional em iludir pessoas.

Franklin – Você sabe que não é ético ... eu não posso ... queria muito, mas sou teu professor... se não fosse isso eu estaria beijando você agora.

Lois – Então eu saio da escola!

Franklin – Não, isso não! Você precisa terminar o ano, fazer o vestibular, cuidar de seu pai... não quero ser o culpado de você parar os estudos. Não serei um atrapalho na sua vida! Essa é a verdade. Satisfeita!

Lois – Não, não estou satisfeita!

Franklin – E o que mais você quer?

Lois – Você! (Ao ouvir estas palavras de Lois, Franklin se abala de suas convicções por alguns instantes, porém a maldita ética, que doutrinou suas ações ao longo de seus quinze anos de carreira, paralisam suas pernas e emudecem seus lábios. Lois, entretanto, não entende outra linguagem senão a do amor que, para ela justifica, todas as coisas, e entende, pela inércia de Franklin, que se existe algum amor dele por ela, este é fraco demais para fazê-la feliz).

Franklin – Não posso... sinto muito, meu bem....

Lois – Pois então desapareça da minha frente, não se preocupe porque sei me defender da Vaninha, aliás ela só está fazendo isso comigo por sua causa, assim que ela perceber que você na verdade não gosta de mim, ela me deixa em paz! A única certeza que tenho de ti é que você não presta e gosta de iludir as pessoas (Franklin não teve tempo de balbuciar qualquer palavra para convencer Lois do contrário, pois de repente um objeto cai bruscamente sobre a mesa ... é blackout, o gato de Lois... morto com o pescoço quebrado, Franklin olha assustado ao redor, uma risada satânica corta o ar e Lois grita assustada....Franklin a abraça e leva para dentro da casa, Lois chora compulsivamente e Franklin lhe dá um calmante para dormir, depois ele retira o corpo do gato da mesa e o enterra no quintal...naquela noite Franklin preferiu dormir ali no sofá da sala por segurança e um pouco mais tarde o pai de Lois chegou).

ATO 19

Antes de sair Franklin deixa uma carta sobre a mesa, Lois acorda às 8:15, chama em vão pelo amado para desculpar-se porque ele já havia ido pra escola, senta-se à mesa e inicia a leitura da carta:

"Hello, sweethoney,

Fernando Pessoa disse uma vez que todas as pessoas que escrevem as cartas de amor devem ser ridículas, pois não precisarei de muito para sê-lo então... Se estou amando?... a não ser que falta de sono e apetite, uma dor incessante no peito, falta de ânimo para fazer qualquer coisa e pensamento fixo em uma só pessoa seja sintoma de uma mutação do Zica vírus, creio que sim. Não há, contudo novidade nisso, já conheci este sentimento antes, o novo é o fato de eu não poder externar sequer uma partícula dele – pense em uma sensação ruim que lateja por dentro – não tenho esperança de realizá-lo, mas não poder sequer demonstrar esse amor é uma tortura, ainda mais tendo que ouvir da pessoa amada: “ele só gosta de iludir”, ou “ele não presta”. Esta noite dormi depois das 3hrs, pensando no futuro... na vida... em nós. É estranho gastar tanto tempo com algo já sentenciado a não acontecer, mas esta é uma das faculdades do amor, ter esperança quando não se pode ter esperança. Não creio que perdi meu tempo, de alguma maneira (agora sei) imaginar-se amado por você é realizar o amor. Como já disse Camões:

Transforma-se o amador na cousa amada,

por virtude do muito imaginar;

não tenho logo mais que desejar,

pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,

que mais deseja o corpo de alcançar?

Em si somente pode descansar,

pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,

que, como o acidente em seu sujeito,

assim co’a alma minha se conforma,

está no pensamento como ideia;

[e] o vivo e puro amor de que sou feito,

como matéria simples busca a forma.

Tantas coisas descobri depois que te conheci, já entendo que a nossa passagem pela terra terá ou não sentido dependendo do que escolhemos viver ou não viver aqui, o resto é apenas canseira para nos distrair e a vida passar. Tenho raiva de amar, queria poder controlar, diminuir, submeter o que sinto a minha razão, mas não posso.

Como foi possível para alguém demorar 33 anos pra ser dominado por um sentimento tão comum às pessoas? Quantas vezes ri das coisas ridículas que os apaixonados faziam, diziam e escreviam...e agora estou aqui como rei dos ridículos... considero o amor um alucinógeno viciante, pois quando estou perto de ti (e sempre quero estar) eu perco a noção do tempo e do espaço, mas na tua ausência me dá um aperto no peito, um vazio na alma, uma vertigem no pensamento e pior, a tristeza. Agora entendo muita coisa que me era oculta (não há muita vantagem em sabê-las, já que não posso mudá-las), a única vantagem é que elas podem me ajudar a interpretar poemas. Se eu soubesse que um dia faria alguém passar por isso que agora passo , trataria de evitar encontrar esta pessoa no futuro ou tornaria a situação menos dolorosa possível. Sabiamente o Bardo, William Shakespeare, ensinava: “Não importa em quantos pedaços seu coração tenha sido despedaçado, o tempo não para você consertá-lo”. Fiz uma lista de constatações sobre tudo que nos aconteceu e posso dizer-te que:

1- Você não tem ideia do quanto foi amada nos últimos três meses;

2- O amor não realizado, o platônico, é dez vezes mais poderoso que qualquer outra forma de amor;

3- Não te cobro nada, nem sua compreensão sobre a situação, pois não estou em posição de esperar nada de ti;

4- Não sei como você conseguiu passar por todas as barreiras que levantei para evitar me envolver afetivamente com uma aluna, mas você passou por elas sem que eu desse conta disso, quando percebi você já estava dentro do meu coração;

5- Não sei se consigo ser teu amigo apenas, eu sofro e o pior, faço sofrer a pessoa que amo, melhor é me afastar então;

6- Não me acho vítima do destino nessa história, me acho vítima de minhas limitações apenas;

7- Tem coisas que estão destinadas a acontecer, independentes da força e da vontade de quem quer que seja...aconteceu...paciência...se não der fruto, vira lembrança, e acredite, até agora, é a lembrança mais doce que já tive de alguém;

8- Sofrer me faz sentir vivo... não e assim pra ti? A posse da pessoa amada não devia ser a base principal de um relacionamento;

9- Sei que sou ridículo, assim como esta carta também é, mesmo que bem escrita;

10- Se cinquenta vidas eu tivesse elas não poderiam apagar o que sinto por ti, tão grande é este sentimento, a única coisa que poderia me demover dele seria eu saber que te faço o mal, isto seria para mim uma dor sem alívio ou consolo;

11- No meu pensamento, vivo este amor inteiramente, sonho, imagino, sinto... sou quase completamente feliz por tê-lo assim, etéreo, tão puro, tão meu...

12- A única vingança que podemos fazer dessa situação a que fomos atirados sem pedirmos por ela é tentarmos ser feliz, é isso que te desejo.... seja feliz, querida. <3 :)

Sobre o futuro: é inevitável que nossas vidas prossigam em suas rotinas e destinos; ver-te-ei casada, ver-me-ás com filhos, ver-me-ás mais velho, ver-te-ei com filhos, ver-te-ei formada, ver-me-ás aposentado, ver-te-ei com saudade, ver-me-às com afeto, ver-nos-emos aqui e acolá (ou apenas saberemos notícias um do outro), e por ser assim a vida, só espero que eu não olhe para traz um dia e perceba que você foi a mulher da minha vida e eu deixei você ir embora, que não me arrependa de não ter movido céus e terra para ficar contigo, de hoje apenas sei que te amo com todas as forças que tenho e com tudo que meu coração pode amar".

ATO 20

Naquela manhã, a aula de literatura na escola Eduardo Lins acontecia numa calmaria incomum, o professor com um claro abatimento contagiava a sala que já havia se acostumado com a sua alegria.

Franklin - Então vocês respondam as questões e me entreguem, quem for terminando pode sair para o intervalo. (falou olhando para os papéis em cima de sua mesa, mas seu pensamento estava longe)

Judith - Franklin...quer dizer... professor, você poderia me contar porque a Lois faltou hoje? (Franklin levanta o rosto para responder Judith, mas é interrompido por uma voz que lhe chama da porta da sala. Era Escarlate, psiquiatra e tia de Vaninha.)

Franklin - Pois não, deseja falar com algum aluno?

Escarlate - Na verdade queria falar com todos os alunos e com o senhor também.

Franklin - Não entendi...

Escarlate - Eu sou a Doutora Escarlate Rosenvelt, tia de Vania Rosenvelt...(todos ficam em silêncio ao ouvirem o nome da Vaninha)

Franklin - Ela não está...(sem jeito para dizer que Vaninha não veio mais para a escola após a ameaça)

Escarlate - Eu sei, Franklin, e também sei o que ela andou aprontando nesta escola, é por isso que quero falar com vocês todos. (Franklin ficam alguns segundos pasmado, mas convida Escarlate a sentar e conversar com a turma)

Escarlate - Eu vou direto ao assunto, sou psiquiatra e responsável pelo tratamento da minha sobrinha Vania Rosenvelt...

Vick - Sabia que a Vaninha tinha um parafuso a menos, kkkk (risos)

Escarlate - O diagnóstico, senhorita Victória, chama-se síndrome da multipolaridade obsessiva. (Vick se arrepia ao ouvir seu nome pronunciado pela psiquiatra) e sim, conheço todos vocês, durante o tratamento converso por horas com minha cliente sobre o efeito do comportamento dessa turma sobre seu problema. (um grande temor se apodera dos alunos que fazem um silêncio sepulcral).

Franklin - Continue Doutora Escarlate, ninguém mais irá interrompê-la. (olha para a turma que entende imediatamente que devem ouvir atentamente a mulher).

Escarlate - Obrigada. Continuando, o problema de minha cliente a faz ficar possessa diante da impossibilidade de obter algo que deseja, e essa obsessão a faz planejar e executar ações nocivas contra as pessoas. (Verlaine sussurra no ouvido de Mary Jane)

Verlaine - Pra mim isso se chama frescura no rabo (risos)

Kleiman - Ameaçar alguém de morte e cortar seu caderno com estilete não é apenas "nocivo" doutora, é crime! Sua cliente precisa ser internada por um período bem longo (a sala murmura concordando).

Escarlate - Exatamente por isso eu estou aqui...sei do perigo que ela representa agora que está a cinco dias sem tomar seus remédios.

Franklin - Ela tem este problema desde que nasceu?

Escarlate - Foi bom ter perguntado, Franklin (a intimidade da psiquiatra incomodava o professor) Não, ela era uma menina normal e feliz, filha única, morava com seus pais até que Cassandra Lane, uma mulher casada seduziu seu pai e tornou-se sua amante. (a turma fica pasmada ao ouvir o nome da mãe de Lois, e todos concordam que foi uma providência Lois ter faltado aquela manhã, pois com a amargura que já tinha da vida não suportaria aquela declaração) Como a minha irmã, mãe da Vania, não se conformou de ter perdido o marido, chamou-o em sua casa com a desculpa de conversar sobre o divórcio e matou-o a tiros na frente de Vaninha e depois se suicidou. Vania era muito pequena, não entendeu o porque daquela tragédia, e nunca contamos para não traumatizá-la, mas sua mente desenvolveu essa sociopatia que a acomete desde então. Agora sem tomar seus remédios e desaparecida sinto que ela representa um perigo para si mesma.

Teves - E para nós também...principalmente para Lois...

Escarlate - Não, ela não sabe de nada do que lhes falei, o fato de ter focalizado sua raiva na filha de Cassandra foi uma infeliz coincidência, se soubesse que ela estudava nessa escola não teria matriculado minha sobrinha aqui.

Franklin - Entendemos tudo, doutora, mas o que espera que façamos?

Escarlate - Quero que vocês me informem se a encontrarem por ai, que não chamem a polícia porque ela pode surtar, e que me notifiquem sobre as ações de minha cliente.

Thalia - Só o último pedido é que não garantimos, mas acho que ela não virá a esta escola mais, se quiser achá-la, pode vigiar a casa da Lois, não demora ela aparece por lá.

Franklin - Já apareceu...(a doutora sorri para Franklin e pergunta)

Escarlate - Quando?

Franklin - Ontem à noite...eu acho...alguém quebrou o pescoço do gato da Lois e jogou-o no quintal...só pode ter sido a Vaninha.

Escarlate - É provável...ela esta ficando descontrolada...por estes dias tomem cuidado...todos. (o aviso dá calafrio em todos. Escarlate se despede e, após ela deixar a sala, não há mais ânimo na turma para estudar literatura).

Franklin - Vamos, gente, vocês entregam a tarefa na próxima aula. (tão logo se levantam para sair, todos param e olham assustados para a porta. Era Maike, sujo e desarrumado, com olhos em brasa e cara de poucos amigos, realmente aquela não seria uma manhã comum)

Maike - Professor, quero falar contigo urgente!

ATO 21

Maike espantou toda turma, mas ninguém quis perguntar o que havia ocorrido, era drama demais para uma manhã só, então Franklin o levou até a sala dos professores para conversar.

Franklin - Então, Maike, você parece que foi atropelado...

Maike - Professor, eu fui atropelado pela vida...(faz-se dez segundo de silêncio e ambos se olham entumercidos pela dor que nos olhos de Maike começaram a se acumular em lágrimas represada por pálpebras trêmulas, até que deságua em um choro capaz de constranger as almas menos sensíveis).

Franklin - Escuta, eu não vou fazer você relatar o que ocorreu contigo nesse período e porque não veio para escola, pois sei que o passado não pode ser alterado, mas vamos falar do hoje e do amanhã, quero você pronto para amanhã cedo assumir a xerox da escola, acredito que você não está morando com seus pais, portanto vou ajeitar o almoxarifado para você dormir até ter um lugar melhor para ficar.

Maike - Professor, eu agradeço a ajuda, mas... (Franklin faz sinal para Maike silenciar e retoma a palavra).

Franklin - Sei que você tem seus motivos para achar que não serve para assumir esta função, mas se veio me procurar é porque de alguma forma me dá autoridade para decidir por ti, então você fará o que estou te mandando em nome da nossa amizade, e por falar nisso não quero nem saber de você ficar me agradecendo como se não merecesse, vá lá e faça o seu melhor, se você tiver seriedade e persistência, trabalhar duro e honestamente, pode deixar o restante na mão de Deus que ele te ajudará. (as palavras de Franklin desarmaram Maike e impediram qualquer tentativa de resposta. As coisas pareciam estar se ajeitando mesmo de forma desajeitada e todos voltaram pra suas casas naquela manhã torcendo para que nenhuma novidade ocorresse, havia mesmo um sentimento de que se o ano acabasse como estava já seria um grande lucro).

Judith – Professor! (Franklin interrompe sua saída já no portão da escola, espera pela Judith que chega com Vick, Kleiman e Verlain).

Franklin – Digam, senhoras!

Kleiman – Credo professor, precisa ficar lembrando que sou a mais velha da turma? (Franklin fica surpreso consigo mesmo pela formalidade com que tratou as meninas, sua estrutura emocional esteve tão abalada nos últimos dias que ele estava mais recluso, se defendendo de afetos quaisquer que fossem).

Franklin – Nem sabia disso Kleiman, você na verdade parece ter a mesma idade de suas amigas (Franklin fala olhando com ternura para Kleiman, que fica com a tez vermelha).

Vick – Certo, mas deixem de chamego e vamos ao que interessa: a turma conversou e quer fazer uma visita a Lois esta noite pra que a vaninha veja que nossa amiga não está sozinha e se mexer com ela estará mexendo com todos nós).

Franklin – Que bom, acho muito importante vocês darem este apoio moral para Lois em uma situação dessas....(Judith interrompe Franklin bruscamente).

Judith – Como assim “vocês”? O senhor vai junto conosco sim, e nem adianta falar de trabalho ou inventar qualquer outra desculpa!

Franklin – Mas, Ju, eu....(novamente interrompido)

Judith – E sim, vocês não estão se entendendo, mas e dai?! Isto não impede que o senhor lhe dê um apoio nesse momento difícil.

Franklin – O que eu quero dizer é que... (terceira vez).

Judith – Esse papo de “ela pode não querer que eu vá” também não cola espertinho, quando se gosta de alguém, mesmo brigados, a pessoa deseja sempre a companhia do outro.

Franklin – Se você deixar eu falar, eu quero dizer que... (afff!!!!!)

Judith – Claro que com tanta gente lá ela vai estar segura esta noite, mas nada se compara a ter a proteção de quem a gente ama, saber que de seu lado está alguém que morreria por ti e tals.

Franklin – Sim, você só precisa saber que eu...(&#61516;)

Judith – Tá certo, ela é teimosa, eu sei, ela é marrenta, todo mundo sabe, ela é zangada, até em marte se tem notícia disso, mas todo mundo tem defeitos, e quando amamos uma pessoa a amamos com estes defeitos, não que eles sejam bons, mas estão na pessoa, fazer o quê? O importante é...(agora é Franklin que tapa a boca de Judith com a mão).

Franklin – Só quero dizer que eu vou estar lá, não a deixaria nessa hora nem que ela tentasse me matar, eu a amo, se nós vamos ficar juntos ou não está fora de meu poder decidir, mas nem o tempo nem a distância me impedirão de amá-la. (Judith olha envergonhada por uns instantes, mas volta rapidamente ao normal).

Judith – então tá! Bora meninas! (Franklin fica rindo enquanto em outro canto da escola outra cena se desenrola).

ATO 22

(À tarde na escola, um caso peculiar estava para ocorrer).

Maike - É verdade sim! eu estou trabalhando na xerox da escola...comecei hoje! (Maike estava de costas e tão distraído respondendo Clara pelo celular, que não notou Diogo entrar na sala da xerox e escutar sua conversa. O celular estava no módulo "viva voz" porque Maike arrumava os papeis na máquina).

Claro - Que bom, meu querido!! (Diogo fica possesso ao reconhecer a voz de Clara, e decide ficar em silêncio e escutar o restante da conversa).

Maike - Você não quer vir meio dia na escola pra gente comemorar? Estarei livre nesse horário, e como não posso mais voltar para casa vou ficar aqui mesmo pela escola).

Clara - Vou sim, você vai esperar na xerox?

Maike - Não, eu tenho que trancar a sala durante o intervalo porque tem muito dinheiro aqui, vamos para biblioteca.

Clara - Certo, estarei ai mais ou menos 12:30. (Diogo sai sorrateiramente e dois minutos após a energia elétrica da sala de xerox é interrompida. Maike vai até a caixa de distribuição do outro lado do pátio e vê que alguém desligou a chave da sala).

Maike - Poxa, que sacanagem dessa galera, mas nem posso reclamar, já fiz muito isso na escola, rsrsrs (Maike pensa em ligar para Clara, mas não encontra o celular no bolso, então vai procurar se deixou-o cair pelo pátio).

Clara - Maike! (Clara chegou 20 minutos depois e encontrou Maike ainda procurando pelo celular então passou a ajudá-lo).

Maike - Clara, eu estou encabulado, depois que você desligou, eu vim aqui para o pátio religar a energia da sala que algum engraçadinho desligou, perdi meu celular nesse trajeto e ele desapareceu.

Clara - Maike, seu tonto, você deve ter guardado em alguma gaveta dentro da sala.

Maike - Será! Não custa olhar. (Os dois se encaminham para a sala de xerox, e no local se deparam com o local arrombado e a proprietária das máquinas conversando com diogo).

Diogo - Veja ai o ladrão! Eu vi quando ele arrombou a porta e pegou o dinheiro para fingir que era assalto! (Maike ficou pasmado e começou a defender-se de forma desesperada, mas Clara apenas observava pensativa).

Maike - Por favor, senhora, eu não fiz o que ele diz, eu tranquei a porta e fui para o pátio procurar o meu celular que perdi).

Diogo - Cala a boca ladrãozinho, eu vi tudo, você não presta, até teu pai te expulsou de casa porque você começou a roubar na rua. (Maike tem vontade de esganar Diogo, mas se controla).

Maike - Pergunta para Clara, ela estava comigo nesse intervalo. (A proprietária nada responde, pois está com muita dúvida de quem está dizendo a verdade, fazem silêncio por alguns segundos até que Clara se manifesta).

Clara - Não posso provar que Maike esteve comigo este tempo, mas me pergunto o que Diogo faz aqui na escola após a aula e quem ligou para a senhora minutos após o arrombamento, pois a escola toda é testemunha de que não havia arrombamento até o fim dessa manhã.

Proprietária - Quem me ligou não se identificou, só disse o que ocorreu, e quando cheguei aqui esse rapaz disse que havia testemunhado o arrombamento feito pelo Maike.

Claro - Pois agora está fácil resolver, eu ligarei para o celular do Maike e ele tocará em algum lugar dessa sala, provando o que ele te disse, e a senhora ligará para o número que denunciou, pois ele precisaria ter visto o arrombamento e poderá dizer quem o fez. (A ideia é aceita e ambas fazem a ligação, e para o espanto da proprietária e de Maike, os dois celulares tocam na mochila de Diogo que é desmascarado).

Maike - Seu covarde! Arrombou a sala pra me incriminar!!!

Clara - Foi ele que desligou a energia para fazê-lo sair daqui também. (Maike retoma seu celular e Diogo é levado pela proprietária a diretoria para receber as devidas punições, então ele é expulso da escola).

ATO 23

(Mais tarde, um conflito cotidiano se repete na casa de Mary Jane).

Mary Jane – Então, mãe, a senhora vai continuar ignorando minha presença nessa casa?

Mãe – Depois do que você fez ainda quer conversar o quê?

Mary Jane – Não sei... mas acho que você continua sendo minha mãe, mesmo que eu faça qualquer coisa ruim.

Mãe – Pegue aquele papel ali na mesa! (Mary Jane, pega o papel mais curiosa do que animada, era seu registro de nascimento).

Mary Jane – Está aqui... o que que tem?

Mãe – Está escrito ai que eu sou tua mãe?

Mary Jane – Está sim... por quê?

Mãe – Então você continuara sendo minha filha independente de qualquer coisa, tens todos os direitos de uma filha nesta casa, pode morar, comer, vestir, enfim, pode fazer o que bem lhe agradar, inclusive me insultar, me envergonhar, me magoar ou qualquer outra perversidade, nunca deixará de ter os seus direitos de filha enquanto eu for viva, e quando eu morrer será dona de tudo que um dia foi meu.

Mary Jane – Eu já tenho tudo isso, mas eu quero o carinho de uma mãe, quero seu abraço, quero conversar, quero que ela me aconselhe, quero que seja mãe de verdade!

Mãe – Este papel garante para você ter isso de mim?!

Mary Jane – Não, mas é comum que uma mãe dê isso a sua filha...

Mãe – Também deveria ser comum uma filha respeitar e obedecer sua mãe... deveria ser comum que uma filha conversasse com sua mão as coisas que estão ocorrendo em sua vida, que aceitasse seus conselhos...

Mary Jane – Eu errei, já disse, mas até quando vou pagar por este erro?

Mãe – Até se arrepender de tê-lo feito!

Mary Jane – Eu já estou arrependida, será que você não vê?

Mãe – Ou eu não sei enxergar isso, ou você não sabe demonstrar... (Mary Jane se cala, chora silenciosamente pensando que mesmo tendo o coração inundado de sentimento, de amor por sua mãe, não conhecia palavras suficientes para fazê-la saber disso, era bruta, sua fala facilmente feria, mas dificilmente curava qualquer ferida no outro, então jamais conseguiria reaver o amor de sua mãe conversando com ela, sentia-se esmagada por isso e foi deitar-se. No quarto lembra-se que precisa ir a casa de Lois esta noite, então começa a pensar numa conversa que tiveram há três meses, quando Lois estava apaixonada e cheia de esperanças de ser feliz, ela lhe disse na ocasião que havia se reconciliado com seu pai após muitas brigas, que havia entendido o quanto ele sofria depois que ouviu Franklin explicar um poema sobre perdão, nessa hora houve um estalo na cabeça de Mary Jane e ela começou a folhear o caderno do primeiro bimestre).

Mary Jane – Cadê você!? (seus olhos corriam as folhas de forma obsessiva) Achei! (era o dito poema. Mary Jane arranca-o de seu caderno e vai até o quarto de sua mãe, quando entra a vê chorando agarrada a uma manta que sua filha usava quando criança e que até seis meses antes esfregava-a no rosto para consegui dormir).

Mary Jane – Mãe, posso falar com a senhora?

Mãe – já está falando, desembucha!

Mary Jane – Eu tento conversar com a senhora todos os dias para a gente se acertar, mas cada tentativa gera mais brigas e mais nós vamos nos afastando.

Mãe – Você sempre me ofende....

Mary Jane – Eu sei, também me sinto ofendida, mas é que não sei dizer o que quero dizer e sempre sou mal entendida pela senhora...

Mãe – E o que você quer me dizer!

Mary Jane – Ainda não sei falar... se tentar dizer vou ofender a senhora novamente...

Mãe – Então porque veio ao meu quarto?

Mary Jane – E que talvez se eu lesse pra senhora um poema que fala o que eu estou sentido a senhora possa me entender.

Mãe – Você agora sabe fazer poemas... teu padrasto te ensinou. (A palavra da mãe saiu com tanta amargura que Mary Jane teve vontade de sair correndo dali, mas por algum motivo ela conseguiu enxergar na voz da mãe uma dor sufocada que estava dilacerando seu coração, então resolveu continuar o que começara).

Mary Jane – Não, mãe, não foi ele que me ensinou... foi meu professor de Literatura.

Mãe – Então agora vai me dar aula de Literatura?

Mary Jane – Também não, quero apenas que a senhora escute o poema.

Mãe – E o que acha que vai acontecer depois? Acha que um poema vai fazer tudo de ruim desaparecer da nossa vida?

Mary Jane – Não, mãe, não vai fazer nada desaparecer de nossa vida, mas talvez arranque o que de ruim está dentro de nós.

Mãe – humm...se quiser pode falar. (a mãe vira-se na cama para não encarar a filha enquanto ela fala).

Mary Jane – É assim que me sinto...( a menina inicia com voz trêmula, quase rouca, lembrando muito a voz que tinha quando era criança, a maciez e o cheiro da manta que a mãe segura faz com que ela imagine Mary Jane com quatro anos em seu colo, frágil, tão pequenininha...).

Peço-te perdão por eu não saber te perdoar,

Quando você me magoou preferi não entender,

Que a mágoa que me davas magoava mais você,

E o amor que me negavas não o tinhas para dar.

Peço perdão pelos abraços que de ti não recebi,

Pelos beijos e carícias que eu não experimentei,

Por não esperar de ti nada do que eu precisei,

Por não fingir qu’inda tinha os afetos que perdi.

É que ao te perdoar estarei me perdoando,

Pelo amor que eu não soube em teu peito animar,

Pois quem deixa magoar, vai a mágoa alimentando.

E se a mágoa que sentimos é sintoma de amar,

A verdade que a vida acabou me ensinando,

Que a mágoa com amor é igual a perdoar.

(a mãe pouco ouvira do poema, apenas as palavras perdão e perdoar ressoavam inteligíveis na voz chorosa da filha, mas o que importava era o ato, era Mary Jane estar ali rendida, desarmada de alma, com o mesmo olhar da menininha de quatro anos que a mãe tanto afagara...).

Mãe – Oh minha filha! Vem cá por favor, eu te amo, ouviu, eu te amo! Vem Janinha pra tua mamãe, eu tava morrendo sem ti minha menina! (Mary Jane caminha em sua direção, mas o peso de alma a faz cair de joelhos antes de chegar a cama, então a mãe levanta-se rapidamente e abraça a filha, puxando-a para seu colo e beijando muito sua face).

Mãe – perdão meu bebê! Perdão!

Mary Jane – Perdão mamãe, eu nunca mais vou te machucar viu! Te amo.... sempre te amearei!

ATO 24

Após se reconciliar com a mãe, Mary Jane tentou esquecer o ocorrido, mas todo dia ao ir para à escola precisava passar em frente ao serviço do ex-padrasto, o Jair, que possuía uma oficina de bicicletas, e a visão daquele homem reabria-lhe as feridas constantemente, até que um dia, Klívia, a irmã de Mary Jane que já completava 14 anos passou em frente da oficina e foi assediada por Jair. Jane observou de longe a ação e imediatamente um plano arriscado brilhou em sua mente vingativa, então, ela pegou o celular e ligou para seu pai.

Mary Jane – Alô, pai!

Pai – Oi Jane, tudo bem filhinha? Quanto tempo você não liga...tá tudo ok em casa?

Mary Jane – Tudo bem...é que tô precisando fazer um trabalho da escola...entrevistar as pessoas na rua sem elas saberem que estão sendo gravadas....o senhor ainda mexe com equipamento de filmagem desse tipo. (Luís era técnico de sistemas de segurança em uma cidade vizinha, mas ficou desconfiado das intenções da filha).

Pai – Mexer eu mexo, mas você sabe que não pode usar a imagem das pessoas sem autorização filha, é crime, já te disse uma vez...

Mary Jane – Sei sim, pai, mas não vou usar as imagens, vou apenas analisar por escrito o comportamento das pessoas para um trabalho de sociologia, depois apago as imagens. Me empresta a câmera espiã, por favor, pai! (o pai fica em silêncio, mas ao fim cede).

Pai – Tá bom! Mas passa aqui pra pegar que eu estou de plantão hoje e não posso sair. (Mary Jane pega a câmera, conversa com Klívia que concorda em participar da trama, então, se veste de forma bem cândida, pois era por vestes assim que Jair se sentia atraído, bem como pela ingenuidade das meninas que abordava, instalam a câmera espiã e saem e Mary Jane liga para Vick).

Mary Jane – Então Vick, tudo pronto? A casa tá vazia?

Vick – Sim...até as 5h....(Klívia passa, então, bem devagar em frente a oficina e Jair a aborda como sempre, mas desta vez Mary Jane vê tudo pelo celular, quase sem conseguir se controlar com o que ouvia)

Jair – Então, delícia do papai, vai pra onde?

Klívia – Vou arrumar a casa dos pais de uma amiga, eles viajaram e chegam amanhã, então, preciso arrumar tudo hoje.

Jair – Ô pobrezinha, como vai fazer pra arrastar os móveis e limpar? É tão magrinha....

Klívia – Não sei....vou me virar!

Jair – Posso ir te ajudar se quiser....faz assim, me diz onde é que assim que meu funcionário chegar vou ajudar ok! (Klívia concorda e uma hora depois Jair surge na casa com duas latinhas de refrigerante, e Jane lembra-se na hora que no dia que se entregou a Jair ele havia chegado com duas latinhas de refrigerante também, concluindo portanto que os refrigerantes eram “batizados”. Jane então fala no fone com Klívia).

Mary Jane – Mana, finge que toma o refri, mas não engole nada porque tem droga! (Klívia segue a orientação e como não demonstra sinais de tontura, Jair perde a paciência e ataca.)

Jair – Quer saber de uma coisa, quem chama um homem pra uma casa em que está sozinha é porque quer ficar com ele...vem pra cá. (Jair puxa Klívia e tenta beijá-la, mas Jane entra na casa gritando.)

Mary Jane – Larga minha irmã, safado! Agora te peguei, tudo que você fez tá gravado aqui e vou entregar a polícia!

Jair – se você conseguir chegar lá, maldita! (Jair avança sobre Mary Jane que corre, mas no meio do caminho Jair leva um soco de Luís, e cai desacordado)

Mary Jane – Pai!!! Graças a Deus! Como o senhor soube?

Pai – Liguei pra tua professora pra saber do trabalho e falar da proibição do usos das imagens e ela disse que não sabia de trabalho, então, imaginei que era algo do tipo investigativo e perigoso e segui de perto, só não achei que era tanto!

Mary Jane – desculpa, pai, eu sinto muito.

Luís – Não se preocupe, há seis anos que queria dar um murro na cara desse idiota! (todos riem e chamam a polícia para prenderem aquele pedófilo).

ATO 25

(Enquanto acontece a reconciliação entre mãe e filha, no bairro vizinho outro conflito chega a seu clímax)

Verlaine – Oi Thalia, eu vim pegar minha mochila que ficou aqui na sua casa...

Thalia – Eu não entreguei antes por que estava com vergonha de ti...

Verlaine – Eu também estava... eu não devia ter pensado aquilo de você...

Thalia – Por que não? Se eu fosse lésbica você não seria mais minha amiga?

Verlaine – Não sei... quer dizer... Ia ser esquisito...

Thalia – Verna, você lembra quando raspou o lado do cabelo e pintou o outro lado de verde? Lembra que toda a escola ficou te zuando?

Verlaine – Lembro... passei o resto do ano sem falar com ninguém... só contigo.

Thalia – Sabia que eu levei bronca aqui em casa por ser tua amiga... sabia que fiquei de castigo por que insisti em andar contigo.

Verlaine – Eu sei... mas eu disse que você podia parar de andar comigo se quisesse...

Thalia – Eu poderia mesmo... ia ficar bem em casa e na escola... mas você não tinha ninguém que nem para fazer os trabalhos da escola contigo... você precisava de mim e eu estava disposta a ficar de castigo o resto da vida para te ajudar.

Verlaine – Eu sei... mas vou ser sincera contigo... se você fosse lésbica eu não seria tua amiga íntima... é nojento isso...

Thalia – Nem se eu só tivesse você de amiga...

Verlaine – Nem assim... eu respeito a escolha de todo mundo, mas o máximo que eu posso ser de uma lésbica é conhecida, posso até conversar, mas ser amiga não.

Thalia – Pois então leve a tua mochila, e estas outras coisas que você esqueceu aqui em casa... não podemos mais ser amigas, pois eu sou lésbica!

Verlaine – Cê ta brincando, né! Fala sério!

Thalia – Não só estou falando sério sobre ser lésbica como falo sério sobre você não voltar nunca mais nesta casa...

Verlaine – Oxi menina! Mas nós não precisamos ficar inimigas... só não podemos ter intimidades!

Thalia – Se você não notou, sua idiota, é que eu não posso conversar mais contigo porque te amo! Ouviu? Te amo e sou lésbica! (Thalia bate a porta com força, mas ambas não saem do lugar tentando digerir a situação, cada uma fica parada olhando para a porta por minutos, até se afastarem chorando por dentro e em silêncio por fora.).

Thalia – Alô, Vick! Deu tudo errado! (assim que Verlaine saiu Thalia ligou para amiga com quem havia combinado antecipadamente aquela discussão).

Vick - Creia, amiga, o tempo vai mostrar o valor do sentimento da Verlaine. (Thalia se apegou a esta palavra angustiada, pois o teste que fizera com a sua melhor amiga, apesar de necessário, era arriscado: fingir-se lésbica para saber se o preconceito poderia separar uma amizade tão sólida. No outro dia na escola, Thalia estava sentada de um lado do pátio de frente para Verlaine do outro lado do pátio e se observavam quando Vick e Judith encostaram-se respectivamente a elas).

Vick - Lembra Thá, quando você menstruou pela primeira vez no oitavo ano? Se dependesse da tua timidez ia passar o dia todo sentada nesse banco de vergonha.

Thalia - Estaria aqui até hoje...só a Verla que reparou e me deu sua blusa para eu amarrar na cintura e ir embora...tive que jogar fora meu short branco de educação física. (do outro lado a conversa se desenrolava)

Judith - Ei Verla, olha a Thá conversando com a Vick.

Verlaine - E dai? (desvia rapidamente a vista das amigas)

Judith - Tá lembrada da promessa?

Verlaine - Que promessa, louca?

Judith - No primeiro ano...o Teves tentou pegar teu lanche e a Thalia o empurrou...lembra.

Verlaine - Sei não! (mostra certa irritação)

Judith - Mas eu sei, porque tava perto. Você prometeu que se um dia alguém tentasse fazer o mesmo com a Thalia, nada no mundo a impediria de defendê-la.

Verlaine - Pode ser, mas ninguém está tentando tomar o lanche dela, está? (minutos antes a conversa do outro lado do pátio foi assim)

Vick - Olha o que você deixou em casa no dia em que foi fazer o trabalho de história no oitavo ano (Vick retira da bolsa a blusa de Verlaine e Thalia se vê inundada de recordações a tal ponto de não conter o sorriso).

Thalia - Meu Deus! Penseiu que havia devolvido! (Nesse momento, Teves que havia combinado com Vick, pega o lanche de Thalia e sai devorando-o pelo pátio com Vick em seu encalço. No mesmo instante, Judith segura o rosto de Verlaine com as duas mãos mostra a cena).

Judith - Olha lá tua chance de pagar a promessa. (Verlaine vai meio sem pensar e manda um chute na canela de Teves, tomando o lanche das mãos dele. Ambas ficam se olhando, caladas por segundo, mas não demoram a se entregarem a antiga amizade).

Thalia - Pega tua blusa, safada!

Verlaine - Pega teu lanche, morta de fome! E nem espere que te peça perdão, porque ficar sem teus abraços já foi castigo suficiente. Mas preciso te falar que não posso ficar contigo...sou tua amiga, não tua namorada.

Vick - Ainda bem, porque essa aqui já tem dono! (Vick abraça Thalia por trás com intimidade e Verlaine fica embasbacada).

Thalia - Antes de assumir a Vick amiga, eu precisava saber se a nossa amizade suportava essa minha escolha...se você iria separar bem as coisas.

Verlaine - Então foi tudo armação...ah suas pestes! agora vou esfregar este bolo na cara de vocês. (correria)

ATO 26

(Izana e Glauber precisaram se reunir para fazer o trabalho de literatura e ficaram, cada um, de um lado da mesa na casa dela, evitando contato físico, mas era evidente que um esperava do outro alguma palavra sobre relacionamento para iniciar a conversa, entretanto, muito envergonhados pela presença dos amigos e tímidos nada diziam).

Teves – Dá mole não parceiro, se ela quiser que peça desculpas por ter te largado e ter sido muito grudenta no namoro. (Glauber acenava concordando, mas com o semblante triste).

Judith – Olha amiga, você precisa ter amor próprio, e não vacilar. O Glauber, se quiser, venha se desculpar pelas palhaçadas que fez (Izana concordava sem entusiasmo de que isto acontecesse, até que Glauber teve uma ideia: por o fone de ouvido e fingir que estava acompanhando a música para mandar sua resenha a Izana).

Glauber – Tire suas mãos de mim, eu não pertenço a você, não é me dominando assim que você vai me entender... (Izana percebeu rapidamente o esquema e também pôs o fone para respondê-lo).

Izana – Você pode ficar com quem você quiser não tem nada a ver, eu não mando em você, mas ainda choro quando alguém me conta não quero saber...(os amigos acharam esquisito os dois cantando alto e pararam de ler para assistir a cena)

Glauber – Se era pra ser assim, porque cuido tão bem de mim? Me seduziu, me enfeitiçou, diz que me quer, mas comigo não ficou...

Izana – Chora, me liga, implora meu beijo de novo, me pede socorro, quem sabe eu vou te salvar... Chora, me liga, implora pelo meu amor, pede por favor, quem sabe um dia eu volte a te procurar...

Glauber – Se você pensa que meu coração é de papel, não vá pensando, pois não é, ele é igualzinho ao seu e sofre como eu...

Izana – Ontem te encontrei, você estava tão bonito, parecia até que nada aconteceu, um jeito de quem está feliz, que quem está de bem com a vida, mas alguma coisa não me convenceu...

Glauber – De copo sempre cheio coração vazio, vou me tornando um cara solitário e frio, vai ser difícil eu me apaixonar de novo e a culpa é sua....

Izana – Eu vou acabar com essa tua vidinha de balada, e da outro gosto pra essa tua boca de ressaca, vai namorar comigo sim, vai por mim igual nós dois não tem, se reclamar cê vai casar também com comunhão de bens, meu coração é seu e o teu é meu também.

Glauber – Se você me pedir pra ficar pra sempre com você não vou pensar duas vezes pra te responder, ce sabe que eu vou, vou vou, pego minhas coisas e vou, ficar pra sempre sempre com você... (Os amigos se põem entre o casal).

Teves – E aquele papo de sou mais eu e tenho meu orgulho, parceiro?

Judith - Amiga, vai cair nesse papo mole de novo? (Glauber e Izana se olham inundados de alegria, se abraçam e saem cantando juntos).

Izana e Glauber – O jeito é dá uma fugidinha com você, o jeito é dá uma fugidinha com você se você quer saber o que vai acontecer Primeiro a gente foge, depois a gente vê...

ATO 27

(No início da noite, uma notícia estarrecedora começa a se propagar na cidade e em minutos chega uma mensagem ao telefone de Franklin).

Teves [Profe pela amor de Deus vem depressa que a casa da Lois ta pegando fogo]

Franklin - [o quê!!!!?]

Teves - [corre profe ninguém sabe quem tá dentro da casa] (Franklin sai do jeito que está e toda turma fica a sua espera em frente da casa de Lois que está em chamas).

Franklin - Cadê a Lois!? Onde ela está?! (Franklin chegou desesperado, mas antes que alguém lhe respondesse, Lois surge em meio a multidão e lhe abraça mais desesperada ainda.)

Lois - Meu pai está lá dentro!!! Você precisa salvá-lo!!! (Franklin observa que as chamas já dominavam inteiramente a parte externa da casa e era quase impossível entrar sem se queimar, mas não haviam na parte interna parecia ter poucos focos de incêndio, era bem possível ter alguém vivo lá dentro).

Franklin pega um lençol no varal, enfia dentro de um tambor de água que estava, encharcando-o, cobre-se e entra na casa.

Franklin – Sr. Júlio! Sr. Júlio! (gritava em varias direções)

Júlio – Aqui... (bem fraquinho, mas o suficiente para Franklin ouvir e vir em sua direção. Ele estava debaixo de uma penteadeira)

Franklin – Venha, vou te tirar daqui. (Franklin o cobriu com um pano molhado, mas não conseguiu levantá-lo de primeira pois era muito pesado, e quando finalmente o pôs nos ombros percebeu que a entrada do quarto já havia sido tomada pelas chamas. Num ímpeto de desespero, pôs Júlio já desmaiado na penteadeira e também subiu nela, alcançando o telhado e quebrando duas ripas para fazer uma saída.)

Julios – Saia rapaz, você não merece morrer por causa de um bêbado. (Franklin olhou nos olhos,)

Franklin – Ninguém merece morrer queimado, se você não ajudar não tenho forças para passar-te pela abertura. (Júlio colabora com as forças que lhe restam e se lança para fora da casa, sendo socorrido pelos bombeiros que já haviam chegado ao local, mas quando foi se apoiar para sair também, a penteadeira cai e derruba Franklin causando-lhe um fratura no pé. Os que estavam de fora perceberam que Franklin caíra se desesperaram.

Lois – FRANKLIN! NÃÃÃÃOOOO! (Lois tenta entrar na casa, mas é impedida pelos bombeiros que esguicham água no cômodo em que Franklin está)

Bombeiro – Atenção, tem alguém nesse cômodo, assim que as chamas cederem vamos entrar. (No chão do quarto Franklin percebe seu fim e retira do bolso um poema que há dias preparava para Lois, introduz em um frasco de perfume que estava próximo a si e arremessa-o pela abertura do telhado, e o frasco cai no quintal diante da multidão.)

Izana – É só um frasco de perfume vazio! (Izana levanta-o em direção a Lois, que percebe o bilhete.)

Lois – Não, tem um papel dentro, o Franklin deve ter jogado. (ao ouvir isso todos põem atenção no bilhete e o bombeiro pega-o pensando ser alguma orientação de Franklin para facilitar o seu resgate, então passa a ler em voz alta para sua equipe.)

Triste é saber onde a felicidade mora

Saber os seus segredos, conhecer suas virtudes

Ter na mão a chave, mas não ter atitude

Para transpor triunfante a sua porta.

Isto é morrer de fome bem junto a um manjar

É secar por dentro ao lado de uma fonte

É querer nadar o mar mesmo tendo ponte

É andar com espinho ao pé sem poder tirar

Mas pensando bem é muito coerente

Que por amor padeçamos estas provas

Se o amor nos alimenta e nos renova

Por que devemos recusar suas correntes?

Então, pequena, pegue minha mão e vamos

Porque viver é um sofrer para todo o vivente

E quem sofre por amor é sempre mais contente

Do que aquele que no desprezo passa os anos

Tens um amor? (sei que tens) sinta-se abençoada

Ser amada por alguém hoje é para poucos

É que para amar há de ser idiota ou louco

E sou ambos, idiota e louco, minha amada.

(A multidão se entreolha embasbacada, eram testemunha de um amor tão sublime, mas que emergia em meio a uma tragédia, que enredo shakeasperiano não daria, tivessem em um teatro e não ali diante de tão terrível realidade. Após alguns minutos, todos olhavam mudos para a abertura no telhado esperando uma intervenção divina, mas apenas testemunharam o telhado desabar sobre o quarto...imediatamente viraram-se para Lois que desmaiava segurando o bilhete contra o peito.)

ATO 28

(No hospital, Lois está cuidando do pai quando o celular toca.)

Lois - Oi Teves.

Teves - Oi Lois, como está?

Lois - Como sempre...papai ta melhorando devagar e.....

Teves - Diga Lois....tá precisando de algo?

Lois - Deixa pra lá!

Teves - Não, não deixo, aliás, não deixamos. A turma vai fazer uma festa e um bingo sábado para arrecadar dinheiro e reconstruir tua casa. (Lois fica muda comovida com a notícia.)

Teves - Oi Lois, você ainda tá escutando?

Lois - Sim ,sim Teves...Obrigada.

Teves - Não há de que...foi ideia da Thalia...ela doou sua famosa moto para o bingo...lembra da bactéria? (risos dos dois lados).

Lois - Lembro sim, mas quem vai querer comprar bingo daquela moto Teves, a Thalia tem bom coração, mas acho que não funciona.

Teves - Também pensei, por isso que não falei antes contigo, achei que não ia dar em nada, mas você não vai acreditar, tá todo mundo comprando, pois sabe que é para te ajudar. Não sabia que as pessoas te amavam tanto!

Lois - Nem eu amigo! (fala em um tom de sincera surpresa.)

Teves - Mas tem uma notícia ruim minha querida!

Lois - Ah! não Teves, o que aconteceu? Eu não aguento mais nenhuma desgraça!

Teves - Não é nada novo....é sobre o incêndio.

Lois - Não precisa dizer que queimou turdo....já sei disso!

Teves - Não é isso...

Lois - Então diz logo!

Teves - O incêndio foi criminosos...alguém pôs fogo em sua casa...a gente ta desconfiado.

Lois - E eu tenho certeza! maldita! Por que me odeia tanto!?

Teves - Fica tranquila minha amiga, ela vai pagar por tudo...na hora certa o castigo virá.

Lois - Ai, nem sei mais se creio nisso, Teves.

Teves - Pois passe a crer e use o seu coração apenas para amar e cuidar de seu pai, ele precisa.

Lois - Sim, farei isso agora. Obrigada por tudo. Fica com Deus. (Lois encosta-se mais à cadeira e fica imóvel lembrando que após o incêndio quase nada de Franklin fora recuperado, alguns ossos extremamente carbonizados, todos sabiam que era seu desejo ser cremado e suas cinzas lançadas no canteiro do jardim em frente a biblioteca da cidade, pois não tinha família e compartilhava com os alunos estas vontades, mas a forma dolorosa como morreu tirava toda poesia deste desejo, e as lembranças remoem o coração de Lois que chora em silencio para não acordar seu pai, mas ele já estava acordado.)

Pai – Lois, minha filha, está chorando por causa do professor, não é?

Lois – Pai, o senhor acordou! Está sentindo dor? Vou chamar a enfermeira...

Pai – Não se preocupe comigo, sua dor é maior e eu tenho o remédio. (Ele segura a mão da filha e continua). Naquele dia eu estava bebendo com o Ponga, meu amigo da praça dos pés-inchados, ele morreu, coitado, mas o professor me salvou. Antes de me tirar eu disse a ele que havia um porão na casa que estava lacrado desde o dia da morte de sua mãe, lembra? Mas ele me tirou pelo telhado... é provável que tenha ido para lá se como eu ouvi enquanto estava entubado, acharam os ossos de uma só pessoa, com certeza era do Ponga.

Lois – Mas já faz três dias, pai, ele nunca apareceu.

Pai – Isso eu não sei lhe dizer, filha. (enquanto isso, na sala ao lado, uma conversa se desenrolava).

Escarlate- Não se preocupe, doutor, de agora em diante eu cuido da Lois e de seu pai, pode deixar este plantão comigo.

Doutor – Obrigado , doutora, eu não estou mesmo me sentindo bem hoje. (Minutos após a saída do doutor, Escarlate põe uma máscara de cirurgia e entre no quarto de Lois com revólver. Ao vê-la, o pai de Lois se assusta).

Pai – Você aqui! Maldita! (Lois sem entender nada, levanta-se da cadeira apenas para receber uma coronhada e cair desmaiada).

Escarlate – Pensei que tu ia morrer, velho bêbado, mas parece que o fogo que ateei na tua casa não foi o suficiente.

Pai – Por que fez aquilo! Já não bastava ter acusado minha mulher de ser amante de seu cunhado...você a matou, sabia? Ela ficou depressiva depois que a tua irmã fez aquela tragédia fomentada por tuas mentiras.

Escarlate – Todas umas fracas...só lamento a morte do Arthur...você acha que é o único que perdeu alguém querido? Eu amava meu cunhado, ele já estava quase separado quando minha irmã idiota o matou...íamos morar juntos fora do país...mas quando a polícia começou a investigar eu tive que inventar o caso entre ele e minha secretária, sua mulher...digamos que aquela pomba morta estava no local errado na hora errada...na verdade ele ia todos os dias ao meu consultório para fazermos terapia de amor. KKKKKKK (Enquanto falava como uma alucinada, Lois começava a acordar a tempo de ver a cena Dantesca).

Escarlate – Agora quero que leve nosso segredinho para dizer no ouvidinho do capeta. KKKKKK (Escarlate engata o revolver e aponta para o pai de Lois, mas recebe uma pancada na cabeça e cai. Lois tenta reconhecer, mas o sangue da cabeça esta em seus olhos. O salvador a pega nos braços).

Lois – Quem é? (Franklin, então, declama um poema)

Meu coração é um Zéfiro sacana,

Amou a ninfa mais linda da escola,

Tal Vênus – trágico! –, me ignora,

Fazendo de minha comédia um drama.

Qual um viandante a pedir esmolas,

Vago a seu redor... meu culto a profana,

Mas como me afastar de ti, Diana,

Se cada parte de meu ser te adora?

Afrodite de minhas vãs quimeras,

Circe a banhar-me em vasos de cicuta

Cibele que me nega a primavera.

Mas por vê-la assim minha vista exulta,

Por ouvir sua voz meu ouvido espera,

Contra seu amor é perdida a luta.

Lois – Franklin, meu amor. Você está vivo.

Franklin – Sim...Por ti e pra ti é que vivo agora e para sempre!

Lois – Mas como? E a Vaninha? O incêndio? Quem é essa mulher que quis matar meu pai?

Franklin – Muita pergunta, menina boba, por agora vamos cuidar dessa ferida e chamar a polícia, mas posso adiantar que Vaninha é apenas uma pessoa doente com um trauma de infância manipulada por uma tia louca, descobri isso quando vi Escarlate na madrugada do porão da casa onde estive abrigado do fogo, ela ligou para Vaninha e contou boa o que havia feito, achou que eu havia morrido. Ela marcou um encontro e eu a segui e descobri onde escondia Vaninha. Hoje, quando Escarlate saiu forcei Vaninha a contar o que pretendia e vim para o hospital imediatamente, e ainda bem que cheguei a tempo.

Lois – Nossa, amor, três dias escondido de todo mundo...se passando por morto. Quase morri junto de tristeza.

Franklin – Foi preciso ser assim...esta perseguição tinha que acabar para vivermos em paz. (Enquanto falavam ninguém percebeu que Vaninha entrou no quarto até que ela pegou a arma de Escarlate no chão).

Franklin – Vaninha, larga esta arma!

Vaninha – Só depois que eliminar a maldita que tirou minha chance de ser feliz (Vaninha atira três vezes até que Franklin consegue derrubá-la, mas já era tarde, os tiros haviam acertado a cabeça e o peito da jovem e o sangue fresco já se misturava ao sangue coagulado da ferida anterior causada pela pancada. Escarlate estava morta. FIM