ANTÍTESE AO REAL É A POESIA

Não tenho nenhuma certeza se "o poema é o próprio poeta...", como escreveu Otilia Matel, autora portuguesa, já que, para mim, o ego nunca escreve Poesia, somente o alter ego, que é a sua porção emocional, farsante, fantasiosa... Ao ego resta – quanto aos quefazeres e modalidade literária – a prosa ou narrativa, assentada na intelectualidade e seus intrincados esquemas e armações intelectivas. Porque o Ego freudiano é tão individualista, tão ególatra, que não há espaço para a Confraternidade dentro dele – invólucro e pessoalidade condenados à competição e aos enfrentamentos do lugar comum da vida. O alter ego é o hóspede proletário, liberto dentro do hospedeiro, a sua estalagem espiritual. O Outro Eu é o conteúdo, o Ego é apenas o seu continente. Tal como a lâmpada mágica de Aladim: quando em vez a luz brilha também para o mistério do Outro. A Poesia se delineia na receptividade do poeta-leitor. Fora disto, é matéria morta, decomposta de alma, mesmo que a palavra lhe infunda o incesto estético. A Poesia é a imanência hegeliana: a antítese sempre se autogerando no “religare” corpo/espírito...

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014.

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