O MUNDO SEGUNDO QUEM O CONCEBE

Para mim, à primeira vista, tudo é muito singelo em sua concepção, porém esta se torna complexa em decorrência de alguns desafiantes mergulhos na alma humana, em todos os tempos. Sempre admirei quem consegue sobreviver a este mergulhar profundo. Enfim, é necessário que eu tenha com quem conversar, exercitar o pensar, que é a condenação do humano ser. Quando se estabelece a interlocução com o receptor, sinto que o texto sobreviveu à profundidade, e volta à tona, pronto para o momento seguinte. Pobre de mim (e de meu espiritual) tão precário como homem, tão enormemente possuído de defeitos e precariedades. E observa que não se trata de minimizar ou procurar a empatia daquele que se esforça antropofagicamente para comer os meus escritos. Talvez seja por isto que o alter ego produza, de quando em vez, alguma obra em que o leitor encontre algo que se encaixe com o que pensa. Aquilo que nem sempre é encontrável no lugar comum da vida. Por vezes, me sinto um arauto do insólito: aquilo que se diz somente para que tudo não seja sempre igual. A falta da liberdade de dizer e a injustiça social são queijos fétidos. E a maioria os trata como se fossem exemplares dignos de convivência. Nestes temas, sim, sou complicado... Nunca desejei o sucesso, escrevo para que a minha alma não fique muda. E mais uma vez, quem sobrevive é a Palavra, a seta letal daquele patamar posto como reino da verdade – a antítese ao que se concebe ou ao que nunca se conseguiu conceber...

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014.

http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/4944262