O HERMÉTICO EM POESIA

É gostoso constatar o entendimento e a interpretação de um poema, porque a gente sempre aprende com o receptor atilado, possuidor de razoável e criativo raciocínio espacial. Dá gosto encontrar o leitor preparado e que sabe colocar suas ideias sobre a proposta poética. Ganham autor e leitores que eventualmente participam do diálogo. Aliás, dizem que o bom receptor é aquele que vai além do que o autor quis dizer. E concordo em gênero, número e grau. É ele o poeta-leitor... A amplitude de (meu) poema nunca depende de mim, e, sim, daquele que dá vida a ele e o interpreta, trazendo-o para o emaranhado do mundo dos fatos como se fora verdade plena. A farsa tornada, num ímpeto, verdadeira. Graças à carga, à força da palavra e da inusitada e original codificação que dela promana. A Poesia é como o bumerangue dos nativos australianos: vai, e retorna ao lugar de onde partiu o artefato. O poema – sua materialização – nasce do Mistério, e a Poética, ao ganhar vida e profundidade na cabeça do leitor, cria, dialeticamente, a proposição de um Novo mistério. A alta codificação nos deixa estatelados e produz o estranhamento. Sendo audacioso, sou capaz de afirmar que, sem um pouco de carga hermética, não há como sentir-se a Poesia dentro do poema...

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014.

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