O POEMA NASCE

Viste por que o poema à tona? Porque palavras são o meu universo de fascínio, a clava forte que me faz sentir vivaz e humanamente entregue à dimensão espiritual. Por vezes, é de imediato, tal um papel que alça voo e se escafede... Por outras, minha voz fica engasgada pela emoção que escorre por artérias e veias tentando buscar a raiz do instante. E nada é aparente no mundo dos fatos, somente liberam-se de dentro, como numa lufada de vento brotado do nada. É esta inquietação que produz a intuição traduzida no embrião do poema. E está feita a garatuja... Comovo-me com a fala amorosa que soa aos ouvidos, e logo vem à lembrança a delicada função que os poetas desempenham no mundo: comover através da palavra viva. Porque o poema é assim: só adquire vida se houver sobre ele o humano olhar do semelhante. E, nesta hora confusa do nascimento, assoma uma vontade de chorar, talvez porque neste momento a garganta não é apenas minha, mas a voz de meus mais intensos alter egos, os "diabinhos" que me fazem humano e mais temporal ainda...

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2013/14.

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