O AGORA: SUPERFÍCIE E MERGULHO

Gosto de trabalhar a palavra e de me render ao Mistério, o único capaz de proporcionar elementos para a concretização da Poesia no poema, a fim de que a vida se torne mais fácil de ser vivida, mesmo que os dias atuais não reconheçam utilidade para a Poética. Teria este bem imaterial adquirido algum critério de utilidade para o humano ser em algum lapso de tempo? Em verdade, Poesia é tão inútil, no plano dos fatos, quanto o olor de um perfume francês... Aberto o frasco, em nada – aparentemente – fica alterado o mundo da realidade, apenas nós (no fundo de nossas delicadas narinas) é que nos envolvemos na sensação agradável, que nos enleva e nos transporta. Passado o momento, tudo se perde no desenrolar do novelo dos dias. Em verdade, naquele exato momento, somente o sensitivo descobre-se alumbrado... Todavia, o instante se torna inesquecível dentro nós – uma tatuagem indelével para todo o sempre. Palpável, tangível, a realidade do mundo dos fatos e o humilde escrito... Teremos como dizer que este documental tem vida autônoma? Afinal, este é fato ou sonho – fantasia idealizada? Sentes como o poema sobrenada no aquário de viver mesmo sem ter preexistido?

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014.

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