O CRIAR POÉTICO

Desde que comecei a usar a digitação, como parte do ferramental cibernético, o que percebo é que os meus dedos poetizam sem precisar de lápis ou caneta. Normalmente crio em casa, com o notebook ao dispor.

O escrever a mão sempre criou em mim certa dose de angústia, pois a anotação ocorre com menor velocidade do que a do pensamento que elabora o embrião do poema. Minha mão corre atrás do que voeja na cuca.

Acresça-se que a inquietação do poetar me toma – literal e incondicionalmente – e altera a temperatura do corpo, a ponto de produzir sudorese, especialmente nas mãos e nas axilas.

No entanto, realmente não encontro resposta é se quem fala (ou escreve), em Poesia, é a lucidez mental ou a sensibilidade aflorada ao pulsar da "inspiração", num cochicho da intuição. Num primeiro momento, é ela quem comanda a garatuja que se transforma em palavras passíveis de vir a ser inteligíveis. Depois, é fazer a cirurgia do poema, tudo segundo a racionalidade da "transpiração".

Para mim, a manifestação poética que permite a criação do poema é isto: um único ato composto de dois momentos, que podem ser simultâneos ou não.

Hoje, aos cinquenta anos de exercício da palavra, o processo criativo de um poema se resolve, normalmente, em cerca de 100 (cem) dias. Porém, tenho algumas criações que levaram mais de 30 (trinta) anos para atingir a maturidade estética que efetivamente desejei para aquela peça escritural.

Um bom poema depende de assunto, linguagem e público a quem o autor pretende brindar. O que subjaz ao poema é uma lápide. O que exsurge do poema é a sua capacidade de encantamento e abrangência.

Verdade e beleza são sempre adornos que vestem o espiritual de quem “faz criando” e/ou de quem consome o produto estético.

MONCKS, Joaquim. O CAOS MORDE A PALAVRA. Obra inédita em livro solo, 2023. Revisado.

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