A COLHEITA DA ROSA

Percebo que desperto em ti a criticidade como argumento de defesa, estimado poeta, mas, ao mesmo tempo vais te aperceber que, à medida que a experiência criativa e analítica te dá corpo, ganhas em reflexão e passas a fazer não só a defesa do teu texto, atacando o crítico... Depois, à medida que adquires convivência, mais seguro de tua criação, passarás a exercitar a análise crítica sobre o texto de terceiro com outros olhos e percebendo, pela reflexão, que a posição antagônica (antítese) sobre a tese posta, permitirá que cresças, chegando à síntese, como queria Hans Hegel, com a construção do (seu) sistema, no qual o filósofo acreditava o homem num ápice pleno de racionalidade. Então, com isto tiro da toca o leão, que pretende comer o inocente coelho, mas que, lépido se põe em fuga, ao ponto de conseguir só deixar o pelo e salvar o resto... Escoriado, mas vivo... Grato... É assim que vou aprendendo. E percebo, sob esta ótica, os teus textos com melhor tessitura, mais descolados, mais rítmicos... As reações, na caserna (somos os dois oriundos de suas influências), são de punhos e armas... Amigo, a “ação e reação” veio a lume com muita anterioridade ao nosso tempo, pois é a chamada “terceira lei” de Isaac Newton, físico inglês que viveu no séc. XVII. Dest’arte, nos territórios do intelecto, especialmente em Poesia, são apenas escoriações decorrentes dos espinhos da eventual, mas possível colheita da rosa inominada, que não se confunde com o significado de vitória alguma, e, sim o aplauso à coragem de entregar-se ao Mistério, o único que realmente faz da palavra a sua clava... Por mais que se digladiem os eventuais contendores – em suas antíteses – quem ganha é o coração lírico.

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014.

http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/4635637