POSTERIDADE TEM PREÇO

De tanto ver meu grande amigo JM falar em prosa e verso, já aprendi a distinguir entre um e outro formato, mas olha, sabe, tudo é poesia, a mesma coisa... O que muda é ordem da fatura, que não altera o produto...

– Orides Siqueira, poeta; pelo Facebook, em 29/12/2013.

Sim, estás correto, no caso específico da fatura da conta a pagar. O preço (que tu quitarás) é para adquirir o produto manufaturado, comum, e reiterado a várias cópias, em formato e destinação: paga-se o preço do utilitarismo. Todavia, nas Letras, cada poema ou proposta textual possui continente e conteúdo... “Meu coração é um balde despejado”, diz Fernando Pessoa. De modo que cada um forja a sua proposição reflexiva segundo uma dada especificidade formal. Pode-se comparar ao anel de ouro e ao de prata de um anônimo cinzelador: cada um tem preço diferenciado e são peças autônomas de per si... Enfim, estamos falando de produto intelectual e estético, avaliáveis segundo conceitos de beleza, estilo e conteúdo. Cada um é diferenciado do outro. Temos a aprender que lidamos com o mistério em prosa e/ou verso, que é linguagem diferenciada da que usamos no dia a dia. Que continues a fazer a tua concepção segundo o que entendes por arte, dentro do universo pessoal de tua criação... Afinal, pagarás a preço incerto e futuro, segundo o metal (raro ou não) e o produto artístico que a individua. A lapidação estética e as eventuais verdades contidas na peça é que definirão o valor desta, no memorial futurístico... A comunicação, a beleza inconteste e seus conformes demarcarão o estilo literário, apresentando ao mundo a originalidade da peça. A posteridade dirá de sua validade enquanto prosa ou verso. E o eventual artesão sairá ou não do anonimato, graças ao poder imantador da palavra artística, em seu brilho imanente: do ouro, prata ou ferro...

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/4631142