A CONFRATERNIDADE

O processo criativo, em Poética, é tão recorrente e invasivo em mim que a temática vai e volta e nunca me parece estar irremediavelmente esgotada. Sempre há um viés de novidade a ser examinado, especialmente quando os assuntos e/ou temas nascem das interlocuções com os irmãos em Poesia, e, por vezes, com narradores. Na rede social, em especial no Facebook, é muito comum que isto ocorra, porque neste espaço, diversamente dos sites em geral, a interlocução se dá com muito mais informalidade e o interlocutor avança mais descontraidamente em sua ótica, de si e sobre o entorno. Dão azo à curiosidade e expõem mais fundamente suas dúvidas e inquietações. No Recanto das Letras, site pra escritores, em regra, o eventual e inesperado leitor fala minimamente, e interage, normalmente, para fazer a louvação descompromissada e sempre na expectativa de retribuição da visita que fizera ao confrade escritor... Bem, ressalte-se: no RL são mais de 130.000 cadastrados como ‘escritores’. No Face temos, comparativamente, um universo bem menor de relacionamentos, se bem que muito mais interativo, ágil e agradável. Atuando no Recanto, quando me apercebo que o texto (de terceiro) que estou lendo mereceria uma análise crítica, fico com algum receio, porque antevejo que estou adentrando a um território de domínio, de possessão – os jardins do Ego. Bem diferente do que entendo ser da natureza da Poética, onde o sentido maior é o de espargir o verso ao vento, em excelsa e frutífera Confraternidade, para redivivo gozo de todos os atingidos pela proposta. Aliás, bem como concebo o exercício da Poesia: que cada um possa dar a sua mordidinha na fruta e faça bom proveito. E assim deveria ser a relação cotidiana entre todos os homens neste mundão de Deus. Por certo a humanidade seria mais feliz e o coração humano menos assolado pela inquietação. Todavia, a expressão da criatura, em Poética, seria sensivelmente rarefeita. Quando tudo está em ordem na cuca do poeta, a doidinha da Poesia dorme em berço esplêndido, como se o mundo tivesse vencido todas as enfermidades...

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/4473329