O CONFESSIONALISMO NA NET

Parece-me que tens um lado – em teu psicológico – que exige que tenhas amigos mais veteranos, com boa dose de vida, paternais, e que te possam dar atenção. No entanto, eu não tenho prática e nem inclinação para estes assuntos, os quais requerem algum tempo disponível para o exercício deste tratamento especialíssimo, inda mais que necessitas pessoalidade, muita atenção em torno do que tu gostas... Procura atuar como interlocutor ao pé dos textos publicados no Recanto das Letras, e não por aqui, no Facebook, no bate-papo, “in box”, pois não percebo que tenhas interesse em usufruir dos assuntos contidos nos textos postados, e, sim – repito – atuas como alguém que requer muito afeto, algo que comumente ocorre com espécimes humanos de profunda carência pessoal, tais como menores que foram espancados, seviciados, estuprados, carentes de alimentos e de afeto, e, eventualmente, casos em que prevalece a opção pela orientação homossexual... Entendes que estes são temas para vir a ser objeto de conversa em nível presencial e não por aqui? A não ser que, no caso da homossexualidade, haja interesse de ambas as partes. O consenso a tudo se permite... Os atos amorosos se deliciam de várias formas e distintas maneiras. E que bom quando conseguimos abrir o coração para o mistério do Outro. Para o usufruto do Belo parece-me necessário um pouco de paz. E está possivelmente nos territórios do Mistério a resposta a algumas necessidades de afeto, de atenção e de gozo inespecífico, frente ao novo que o ambiente internético representa. Em regra, estamos materialmente à distância, porém, a virtualidade nos dá essa sensação boa de aproximação. Talvez fique mais fácil compreender a Providência e sua intangibilidade. Amai-vos! Aqui o homem parece começar a deambular em direção aos seus afetos desgarrados...

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/4404521