O PROCESSO DE CRIAÇÃO

Amada amiga e poetisa! Agradeço o comentário enviado via Facebook, no qual comentas a possível “inspiração” existente na peça... A rigor, neste texto publicado em http://www.recantodasletras.com.br/pensamentos/4245140 , cujo título é "A REALIDADE ABSURDA", há muito pouca ‘espontaneidad’ (segundo os espanhóis) ou ‘inspiração’ (segundo os portugueses), apenas desencadeou-se nele, originalmente, a centelha que atiçou o fogo sob o cadinho fervente... A meu ver, tentado a uma equação metodológica e didática, o processo do criar literário compõe-se de dois momentos inventivos: o da ESPONTANEIDADE ou INSPIRAÇÃO, que é o primeiro instante, e no qual é proeminente a intuição criativa, enfim, o jorro da emoção traduzida em palavras; e o segundo, que é o da pouco conhecida (e reconhecida) TRANSPIRAÇÃO, no qual prevalece o processo assentado na intelecção. É neste também criativo momento racional que o artista da palavra vai burilar o texto, brigar com ele e fixar-lhe forma e formato, objetivando frutificação textual definitiva, para dá-lo como pronto e levá-lo à publicação na net ou passar ao processo gráfico de impressão em livro, revista, jornal, etc. Isto pode ocorrer quase concomitantemente à centelha criativa (inspiração) ou num outro momento, próximo ou distante, dependendo das circunstâncias pessoais e dos métodos adotados pelo seu criador. Dificilmente as duas fases são concomitantes, justapostas quanto ao escoar do tempo. Achei importante informar esta concepção para te instigar a pensar sobre o processo criativo pessoal, em especial, o teu. Todavia, é importante ressaltar um dado lamentável: a esmagadora maioria dos poetas, especialmente os aprendizes – novos ou novatos – ficam no primeiro momento criacional, não fazendo o segundo momento de criação, mesmo que venha a realizar o ato intelectual (comum) a que se chamamos de ‘revisão’: correção vernácula e gramatical do conteúdo da obra, que pode ser feita por terceiro ou pelo próprio autor da mesma. A TRANSPIRAÇÃO é ação bem mais intimista do que a revisão do texto e compete ao autor, podendo ou não este obter ajuda de terceiro neste processo de finalização da peça artística. No caso de não realização, perde o seu criador a oportunidade de fazer uma peça formosa, bem cinzelada, enfim, que saia do lugar comum... E a Grande Rede, especialmente pela facilidade de obter leitores, imediatidade da veiculação e baixo custo, tem servido para divulgar muitos textos esteticamente mal acabados, precários, os quais só alimentam o ego do criador... . Feliz daquele que persevera, descobrindo que o senhor Tempo funciona sempre a favor do autor...

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/4248249