Boa noite !
Quero saudar a todos com a maravilhosa graça e paz do Senhor Jesus. Agradecer a Deus pela vida e pela família de cada um dos presentes. Agradecer por esse dia tão especial que marca o inicio das atividades da Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro, neste espaço cultural de belíssima arquitetura que é o Museu do Teatro desta cidade de Salto –SP. Sinto- me duplamente honrado: primeiro pelo privilégio de fazer parte deste grupo tão seleto e maravilhoso, como também ocupar esta tribuna, para proferir algumas palavras em nome dos queridos colegas acadêmicos. É muita honra e ao mesmo tempo muita responsabilidade. Porque esse é um momento de celebração. Celebração de uma conquista por demais relevante da poesia em língua portuguesa, na linguagem mais brasileiramente poética do seu cotidiano. É também um marco de resistência para a preservação e propagação da forma mais bonita da expressão e comunicação humana – a poesia, que segundo Coleridge é a melhor palavra colocada na melhor ordem. Esse momento também reservará entre as paginas da história da literatura poética brasileira, o nome de cada um de nós, objeto que caracteriza a imortalidade acadêmica. Meus queridos, a origem do verbete ‘ACADEMIA’ remonta a escola fundada por Platão, 400 anos AC, criada com o propósito de reunir contribuições nos mais diversos campos do saber. Ou seja, a semente foi plantada  quase 2.500 anos atrás, com a criação dessa escola helênica. Germinou, cresceu, e os frutos foram e se multiplicaram... Muitas academias de poetas e artistas surgiram e se estabeleceram na Europa, principalmente a Academia Francesa no século XVII, que quase 200 anos depois de sua fundação inspirou um grupo de jovens e brilhantes escritores brasileiros, entre eles: Machado de Assis (primeiro presidente), Joaquim Nabuco, Olavo Bilac, Rui Barbosa entre outros ilustres fundadores da Academia Brasileira de Letras. Não tenho o propósito de estender pelos caminhos da história, até porque historiador e o poeta diferem muito entre si. Enquanto um escreve o que de fato aconteceu o outro debruça como o fato poderia ter acontecido. É por essa razão entendo que a poesia é muito mais filosófica e de caráter muito mais elevado do que a história, porque ela flutua no universal enquanto a outra permanece presa a particulares. E se o homem vale por seus sentimentos, com dobradas razões o poeta, dada a sua maior riqueza de sensações. O poeta é como um pássaro e quanto mais livre mais belo é o seu canto... Ele não precisa viver algemado a padrões ou escolas, porque só existe uma única regra de escrita: o poeta apoderar-se de sua pena e manejá-la de acordo com o seu individualíssimo sentir. Se for iluminado, fatalmente será grande, entendendo que essa grandeza não é a fama, mas uma decorrência intima de sua essência e do seu existir. E o que existe por todos os séculos além é a poesia, espiritualidade das coisas, e o poeta intérprete dessa espiritualidade. Assim entendo que o poeta é tão apenas um instrumento, uma ferramenta: impressora da vontade e inspiração do Deus poeta. Isso reverbera na criação poética e a torna uma aventura fulgurante, que se renova e se reinventa sem nenhum esforço e sem premeditação alguma. Os versos surgem sem buscar aplausos, críticas, restrições ou reticências no seu esplendor, porque que eles simplesmente voam acalentados pelo delírio e transbordamento da alma dos poetas. E cada um tem a sua característica, o seu colorido, a sua música, a sua forma, a sua ordem frásica, a sua nitidez, o seu brilho, o seu rigor expressivo, a sua fluidez melódica... As suas explosões emotivas, suas vibrações nervosas, seus alentos, seus desalentos, suas pulsões, suas paixões, seus apelos, seus segredos, suas rimas, suas métricas, suas inspirações e simetrias, suas sombras e alturas... Porém algo extremante sublime nos une, nivelando todos no patamar da absoluta igualdade: o sopro da vida e a apoteose do sentir, tocada pela luz divina no âmago da alma e do espírito. Esse toque é responsável pela extraordinária facilidade que tem o poeta de penetrar nos meandros da dúvida e da perplexidade. De interpretar e reinterpretar a natureza, como um engenhoso arquiteto, capaz de desenhar um tempo diferente do que mede a sucessão dos dias e das horas... Já foi dito que os poetas estão alinhados entre os restauradores do sentido da vida, porque são porta-vozes de um mundo sem voz, abafado pela distorção dos insensíveis e prepotentes que tentam domesticar a vida ao seu bel prazer. Por essa razão é fundamental que esta casa seja cada vez mais fortalecida, prestigiada e, que os senhores produzam cada vez mais as suas preciosidades para que ela assim, seja também, engrandecida. Infelizmente não vivemos mais o tempo da delicadeza... Hoje, até os mais distantes povoados são bombardeados por informação e manipulação da linguagem. Isso faz crescer consideravelmente a nossa responsabilidade, porque só as obras poéticas/literárias, permanecerão, como forma de resistência a esse mundo cada vez mais saturado de miséria, da psique humana adoecida, responsável pela violência e banalização da vida. Precisamos caminhar na direção da juventude e dos jovens poetas, muitas vezes retraídos e temerosos com a crítica. Precisamos incentivá-los a retirar do esconderijo de suas gavetas ou dos seus computadores, os seus textos, seus versos, as suas músicas, os seus poemas... Eles precisam ser apresentados ao mundo, para tornar o nosso mundo um mundo melhor. Depois de quase 20 anos escondendo os meus escritos, minha mãe abriu a minha gaveta e apresentou o meu trabalho ao Mestre de Apipucos - sociólogo e antropólogo Gilberto Freyre, consagrado autor do clássico Casa Grande & Sezala. Atendendo ao seu convite, sentei-me diante de um gênio, um gigante na simplicidade e delicadeza. Naquele encontro ouvi palavras de muito incentivo, orientações valiosas e uma verdade, simples e contundente: ‘ninguém escreve para não ser lido!’ A verdade é que eu me sentia muito inseguro e o resultado de tudo isso se revelava numa autocrítica perversa, que me fazia buscar o que não existe – perfeição, ou aceitação geral. Em 1962, o diretor da Gravadora Decca Company, disse, que grupos de guitarra tendiam a desaparecer rapidamente. ‘O som e as músicas desse grupinho aí não têm a menor chance de emplacar’ – Os Beatles. Imaginem o que seria de nós se eles (Os Beatles) tivessem dado ouvidos a este senhor !!! Existem muitos outros exemplos semelhantes... O poetinha Vinicius um dia sentenciou ‘ depois da chegada tem sempre a partida, porque não há nada sem separação... Assim quero iniciar o nosso procedimento de descida e começar a finalizar essa nossa viagem... Escolhi uma rota por entre fragmentos de pérolas de provável autoria de Jorge Luis Borges, premio Nobel de Literatura, poeta e ensaísta argentino. ‘Se eu pudesse viver novamente a minha vida, teria menos pressa e menos medo... Correria mais riscos, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas... Viveria cada dia como se fosse um prêmio. E como se fosse o último. Contemplaria mais amanheceres. e teria descoberto mais cedo que só o prazer nos livra da loucura. Quero em nome dessa Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro, dizer um muito obrigado a: Carlos Pena Filho, Manuel Bandeira, Mauro Mota, Gilberto Freyre, Carlos Drummond de Andrade, Mário ‘Maravilhoso’ Quintana, Zé Limeira, Patativa do Assaré, Orlando Tejo, Catulo da Paixão Cearense, Jackson do Pandeiro, Adoniran Barbosa, Augusto dos Anjos, Érico Veríssimo, Noel Rosa, Pixinguinha, Vinicius de Moraes, Sidney Müller, Paulo Vanzolini, Sérgio Bittencourt, Ferreira Gullar, Carlos Lyra, Antonio Carlos Jobim, Edu Lobo, Zé Rodrix, Luiz Gonzaga, Chico Buarque de Holanda, e para que não caia no pecado da omissão ficam desde já registrados todos os outros não citados nominalmente, os gigantes e fantásticos, poetas, cancioneiros, letristas, repentistas, violeiros, músicos e multi artistas do Brasil. É absolutamente impossível mensurar o tesouro cultural do nosso país. Não poderia finalizar essas palavras sem antes prestar um sincero agradecimento e uma justa homenagem a nossa presidente-poetisa Aline Romariz e toda a sua equipe pela dedicação e zelo durante todos esses anos e por todos os detalhes desse evento. Somente pessoas movidas por profundo o amor a arte, poderiam doar-se de forma assim tão completamente e tornar tudo isso tão belamente possível. A todos os nossos sinceros agradecimentos. Rogo a Deus que nos proteja de todo mal. Que ELE abençoe e conduza a nossa caminhada até o raiar da manhã do dia perfeito. Que ELE nos ilumine e guarde para nos apresentarmos diante do Trono com as mãos limpas, e com o coração digno possamos repetir um dos mais belos versos das Sagradas Escrituras: ‘Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé !’ Obrigado e parabéns a todos.
George Arribas

Salto-SP, 15.12.2012
ANLPPB
Enviado por ANLPPB em 17/04/2013
Reeditado em 28/04/2013
Código do texto: T4245988
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