A droga do câncer.

O câncer, de acordo com estudos científicos, é uma doença que se manifesta a partir do crescimento desordenado de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo, desta maneira, espalhar-se por outras regiões do corpo. Em contrapartida, segundo o meu coração, o câncer é outra coisa. Tem definição diferente, sabe? E a base desta diferença é que a análise científica não está sob controle das emoções e, o meu coração se sustenta de sentimentos.

Sentir, reagir, sorrir, calar, gritar, sofrer, são características do ser “humano”. E eu sou humana. Eu tenho coração. Compreendo os estudos da ciência e, sei que muitos destes têm sido imprescindíveis ao progresso mundial, à melhoria da qualidade de vida das pessoas, etc. Sim, estou falando de vida. E como eu devo me comportar frente ao câncer de alguém tão próximo, de alguém tão querido, de alguém tão dentro de minha história, de alguém que ultrapassa os simples registros de fotografias pessoais, de alguém que tanto me marca? Não sei. Só sei que não posso aceitar esta situação de maneira cômoda, abraçar a ciência e agradecer a medicina pelo sucesso de outrora. Eu queria a cura. Eu quero a cura. A cura do câncer da minha tia. Mas não. Os médicos afirmaram que já não podem fazer nada, mais nada, pois tudo que podiam fazer já foi feito. Não, tudo não. Eu me recuso a concordar com isso. Porque a droga do câncer da minha tia ainda está viva nela e, em nós. Isso vai matando-a aos poucos e, decerto, mata quem a ama também. E eu? O que posso fazer para adiar um velório que teima em se antecipar? Pedir a Deus? Nunca parei de pedir a Ele para cuidar da minha tia, nunca, nunca.

Sentir-me impotente diante dessa realidade me torna um lixo, um trapo, um nada. Não tenho mais forças. As algemas me prendem e, já não tento me soltar. A minha fortaleza se esvaiu, o câncer me roubou e não sei quando esta me será devolvida. Sei que não posso demonstrar fraqueza à minha tia, porém é fraca que estou. Quem se preocupa com a maquiagem que tenho usado para mascarar o que tenho sentido? Ninguém. E, enquanto isso a máscara me pesa o rosto e me rasga a alma. Meu coração sofre, grita, silencia, chora, soluça, sangra, pede socorro. Entretanto, parece que todos taparam os ouvidos, partiram de mim sem despedida. Preciso acolher minha tia. E quem me acolherá? (Silêncio.) A solidão. Sim, a solidão. Ela continuará me acompanhando e castigando lentamente cada passo meu.

No fim, vejo que não sou tão racional quanto pareço. Pois, em minha frieza há um coração que palpita sozinho.

16:46hs do dia 13/02/2013.

Lee Lopes
Enviado por Lee Lopes em 14/02/2013
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