Pra sempre menina
Era uma menina ainda. Um coração inocente, um sorriso encantador. Seu rosto transmitia exatamente como estava o seu coração. Uma criança como qualquer outra; cheia de sonhos e muito amor para dar.
Certo dia, numa tarde de verão, perdida nos seus pensamentos, viu-se sozinha. Percebeu que dia-a-dia sua vida transformara-se sem que ela percebesse. Antes, sua amiga fiel e presente, não estava mais ao seu lado. Fazia tantas perguntas e não encontrava respostas. Se culpava por algo que nem sabia o que era, mas gritava sozinha, no silêncio das madrugadas a sua dor. Dor que abriu uma enorme ferida, que insiste em não cicatrizar. Como que num passe de mágica, àquela de todas as horas, não existia mais. Não existia nos telefonemas, nos recados, nos emails, mas não deixara de existir no seu coração de menina.
Aprendera a confiar nela e de repente não havia mais ninguém. Sentiu-se um nada, um lixo, um ninguém. Sentiu vontade de morrer e não mais estar ali. Sentiu-se culpada pela sua própria solidão. Culpou-se por derramar tantas lágrimas junto a ela. Culpou-se por procurá-la sempre. Culpou-se, culpou-se. Nunca aprendera a viver sozinha. Não sabia. Era muito amorosa para isso. Não conseguia não encontrar mais traços que antes via. Percebia que a cada dia a distância aumentava e a grande amiga, tão mais velha, tão sincera não era mais a mesma. Seus pensamentos eram outros e ela não fazia mais parte dele. Suas amizades, conversas, brincadeiras esvaíram-se na imensidão dos sentimentos que ela, puramente carregava. Conversava com seu Eu, e dizia que nada no mundo poderia apagar o amor que sentia e que tinha que aprender que as pessoas mudam. Procurou respostas nas coisas, e foi achando suas respostas nas pessoas em comum. Viu uma necessidade de esconder algo, de provar para alguém alguma coisa que ela não sabia o que era. Viu uma mudança radical de comportamento, que a surpreendia. mas, não desistia. Diariamente sua amiga, apesar de tantos anos de diferença não saía do seu pensamento e oração. Orava por ela sim. E pedia a Deus que a protegesse, porque o seu coração não tinha espaço para rancor. Ouviu palavras que feriram sua alma inocente; mas..perdoou. Respeitou o tempo...e o tempo que não passou. E hoje, após tantos anos, a menina de olhos castanhos se foi. Esperou durante anos as respostas para a distância, mas, quando se lembrava da linda amizade, voltava a ser criança; pois via nos olhos da sua amiga velha, um amor tão grande e um compromisso com algo ou alguém, que a impedia de voltarem ao início de tudo. Sentia que aquela não era ela, mas que foi vencida pelas imposições, talvez vergonha ou medo de parar para ouvir uma menina.
Nada importava mais. A linda menina era estrela...lutou com todas as forças pela vida, mas disse adeus muito cedo.
E essa estrela levou as lembranças dos momentos bons e felizes, porque seu coração é repleto de amor.