O ASSUNTO “MÃE E FILHOS”

Chega o texto, com toda a sua espontaneidade de criação. Maternidade em voga a todo o tempo... Examinemos:

"NÃO DEU TEMPO

Jane Rossi

Alô! Tudo bem mãe? Te amo! A vida anda corrida, trabalho e mais trabalho, é uma ida e vinda. Chego em casa, me agasalho. Te vejo amanhã. – Deus te abençoe, meu filho. Tudo bem mãe? Te amo!

Esta semana não deu, já faz dias que prometo, mas de ti eu não esqueço. De saudade enlouqueço. – Deus te abençoe meu filho. Tudo bem mãe? Te amo!

Tanto tempo sem te ver, sem te dar o meu abraço, estou sem tempo, pode crer, chego em casa um bagaço. Deus te abençoe meu filho. Tudo bem mãe? Te amo!

Não dá tempo, não tem jeito, trabalho e compromissos, me enrolo com tudo isso. – Deus te abençoe meu filho. Alo! Tum...tum... (Chama e não atende). Manheeeeeeeeee! Te amo!"

– remetido por e-mail em 18/04/2012, 03h29min.

Jane, amiga e confreira de Letras! Vê-se, de imediato, que a narrativa trata de um colóquio entre filho e sua mãe. Portanto, nada de Poesia como gênero literário (como escrevera a autora, ao me remeter o texto) e, sim, um registro prosaico que tem por tema a ‘corrida’ dos dias atuais, a falta de tempo para as múltiplas tarefas diárias. Como o elemento ‘tempo’ está sempre presente no texto, que tem a raiz latina em “chronos” ou “khronos” (quer dizer tempo em grego, e, em latim, "crhonus"), parece que temos um bom e certo caminho: trata-se de uma croniqueta (uma crônica de pequeno porte ou tamanho). A palavra “CRÔNICA” – como espécie do gênero Prosa – vem dessas antigas raízes e, normalmente, denuncia e aclara algo acontecido no tempo, na imediatidade. É uma narração que segue uma ordem temporal. A narrativa acima se ajusta bem à cronicidade. Não deve ser escrita em versos, tal como foi remetida originalmente... A crônica é sempre escrita em frases, porque é espécie do gênero Prosa, e esta é sempre escrita de margem a margem, parágrafo a parágrafo. Somente Poesia se escreve em versos... E este é o seu maior diferencial quanto à forma. Deixo de apreciar o texto quanto ao mérito e assunto, porque nesse tipo de diálogos envolvendo mãe e filho(s), nada se deve propor, porque o EMOCIONAL exclui qualquer juízo racional. De nada adiante perder tempo com sugestões sobre o texto, porque a maternalidade exclui a intelecção e o pensar analítico sobre o texto – que é naturalmente intimista, confessional. E o caso presente se ajusta perfeitamente à hipótese teórica...

– Do livro A POESIA SEM SEGREDOS, 2012.

http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/3620812