O TEMPO NOS ABSORVE

Recebo esta preciosidade literária e me debruço sobre o mistério que dela dimana. Instigado, é natural que exsurja o intertexto analítico, como ocorre quando temática e riqueza vocabular tomam conta do receptor:

“OS ANJOS E O SONO DO TEMPO

Esperei por séculos

e minha pele tomou o tom de sépia.

Eles chegaram em um rumor de asas,

alguns portavam espadas e escudos.

O menor deles tomou de minha mão

e levou-me junto ao peito.

– Era chegada a hora de prestar contas.

Sussurraram no vento vozes abissais

e imobilizaram-se os ponteiros do relógio

pois em algum lugar...

o tempo dormia.

Lenise Marques.

– Recebido via Orkut, em 07/11/2011.”

Lenise Marques, muito amada poeta! Bom que estejas a republicar esta ótima obra, afim de que milhares de pessoas a admirem nos domínios internéticos. "OS ANJOS E O SONO DO TEMPO" é uma peça poética incomum: tem o subjacente mistério imerso nela, numa sugestionalidade que encanta e transcende. Desde o título, o poema é um achado. Parabéns! Estas construções "abissais" e o mergulho na temática é que caracterizam a alta Poesia. Seguramente, este é um dos teus poemas que mais cativam e conduz à reflexão sobre a minha pobre dimensão humana. O TEMPO é o senhor do Tudo. Nada se pode antepor a Ele. Mais que o deus das coisas e dos seres – a notoriamente quem louvamos – o Tempo nos absorve para dentro, num labirinto. Desta sorte, nós somos o Minotauro (em nós e nos alter egos), há milênios descoberto. O Tempo é o Todo permissivo de palavra e gestos. Vês? Quando o poema é bom ele também nos absorve, e vivemos alguns instantes nele e por ele, e o intertexto percorre além dos neurônios, segue pelo corpo, desce pelos dedos e vira palavra no monitor. São os mistérios reintrojetados. Para que a ideia alce asas e viceje nas frinchas dos labirintos. Todavia, nem sempre o tempo nos absolve...

– Do livro SORTILÉGIOS, 2011.

http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/3328106