CHAVE DOS SEGREDOS

Fico feliz com a receptividade para com o meu trabalho analítico-literário. Realmente, ando "afiado" na matéria, nos últimos dois ou três anos. A experimentação é o segredo, tanto na crítica quanto na Poesia. Porém, na atualidade, gosto mais das oficinações individuais em Prosa. E é de se ressaltar que a crítica literária é uma das espécies do gênero prosaico. Sinto o mesmo gozo emocional e intelectual e a empatia que exsurgia, sofregamente, há cerca de quinze anos, ao lidar com a criação poética. A intelecção prevalece, na linearidade, no contido derramamento verbal, no monocórdico criativo da exemplificação analítica, que não tem os surtos nem a estranheza e o alumbramento ínsitos ao poema. Todavia me sinto útil exercitando a confraternidade, o que dificilmente ocorre no vezo da poeticidade, porque a emoção "puxa" para o individualismo, para a possessão do texto, como quem quer comer a barra de chocolate com rapidez, antes que a tomem das mãos. O criador poético sempre quer sentir o gosto sozinho, ou, no mínimo, por primeiro, em absoluta privacidade. Depois, muito depois, é a vez do outro, do receptor. Tenho praticado muito na especificidade crítica, além de muita e variada leitura, o que me tem permitido "abrir" a caixinha de surpresas que é, usualmente, o exemplar nem sempre pejado de Poesia, e, sim, esquálido de matéria poética, ralo do fascínio da metáfora. Enfim, a análise literária dá prazer, e isso é o que importa para quem exerce a pluralidade de ser um e se permitir o abrir a porta da casa dos outros, sem medo dos cães de guarda que sitiam a casa dos segredos vistos, tidos e inventados. É bom quando se oferece a chave para aquele que chega para trabalhar e, com permissão, vir a fruir os frutos nos pomares, exportando-os para o mundo, a serem consumidos por aqueles que têm fome de Beleza e Humanidade. Porque a crítica é um sutil gesto de oferenda, de compartilhamento.

– Do livro NO VENTRE DA PALAVRA, 2011.

http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/3057185