O LIRISMO ENVERGONHADO

Vejam o que as publicações na Rede propiciam: o prazer imediato, enquanto ainda está “quentinha” a cuca, por conta dos efeitos da leitura do texto. E a análise crítica sai espontânea, nua:

“MÁSCARA

Xirua

(Marilene Fortes Garcia Ribeiro Machado)

“– Acaso alguma vez já te espantaste quando riste? Pois bem/ minha euforia é uma histérica maneira de ser triste.”

“– Acaso alguma vez te perguntaste por que riste? Pois bem/ tua alegria é uma exótica maneira de ser triste”.

Publicado no Recanto das Letras em 19/10/2010.

Código do texto: T2565803.”

Duas peças textuais de interessante concepção: ricas, metafóricas, reflexivas. Porém, peço escusas, porque sou meio burrinho, “cri-cri” talvez: aprecio tirar o sumo dos vocábulos acolheradinhos, assim-assim, esparramados a esmo. Primeiro: são duas peças autônomas? Ou são duas frases encadeadas, formando uma única "frase", tal como classificas a obra, segundo os critérios do Recanto das Letras. Pelo título está sugerida a unicidade do texto: "MÁSCARA", no singular... Se é fundo e forma únicos, porque o texto está entre aspas (“), como se fora de autoria de terceiro? Parece-me ser um diálogo, em peça textual única e rara, em português (caso de peça única, monovalente na forma e polivalente no conteúdo) tal como sugerido, e, por vezes dito (desde o título), no célebre "TOI ET MOI", em Paul Geraldy, 1912. Tem algo de ceciliano e de Clarice... Como sempre, em tua lavratura, há um lirismo envergonhado, aparentemente tímido e profundo; como se nos antagonismos do ser estivesse sempre presente a antinomia ou a ideação antitética... Curioso que a perda do ser se dá no "chercher l'homme" e não no universo personal filosófico, como seria de se esperar. Algo como o tempo que foge, inapelavelmente, porém reafirma-se a alegria de estar vivo, cumulado ao "exotismo/histérico" do 'estar no mundo'. Este é um típico exemplar do vis-à-vis feminino, sua pedra-de-toque. Vês como a síntese pensamental é rica no bom criador de estigmas e fantasias? E me obrigas à condenação ao pensar (?) e a escrever esta chatice debaixo da asa dos grilos que me vão nos neurônios... Risos! Parabéns, poeta!

– Do livro TIDOS & HAVIDOS, 2011.

http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/2857788