O ENIGMA EM POESIA
De novo se aprochega o meu amigo Igor com um multifacetado poema. Chegam – ele e o seu escrito – com o jeito descontraído daqueles que esgaravatam o mundo e ainda pouco o entendem. Escaravelhos carregando o alimento pra dentro de casa, no inverno... Talvez, no verão, vivêssemos um céu de libélulas a esmo...
Vejamos o quadro plástico proposto pelo autor:
“CARRO ROSA
Igor Stefano
Alguém viu a cinta preferida na verga de uma via
chorando por um colar forte com uma estrela guia
O Rei é Rosa Cruz um menino gosta de cantar
em sua bicicleta flutuante copulando com o ar...
A chamar os astros, as estrelas e as formigas
para uma congregação sensorial infinita.
Cadê a fita azul e o carro rosa sabem as crianças
Herança compartilhada pelas andanças e sagas
Pela eterna busca do valor mais legítimo
Dentro dos olhos que levam carinhos precisos.”
– pelo Orkut, em 22Set2010.
"CARRO ROSA" é um poema imbricado, muito hermético e de difícil decodificação. Induz a um quebra-cabeça ou enigma. Mais parece um racha-cuca... E olha que eu aprecio codificações e hermetismos. O autor não dá nenhuma "deixa" para o receptor da mensagem poética! A codificação subliminar atende somente ao subjetivismo do seu criador. É uma cantilena poética de si pra si mesmo. E Poesia, por destinação, é seta para os domínios da confraternidade e universalidade. Como se entender um poema que fica na garagem e não chega à sala-de-estar ou ao gabinete de leitura da casa? E ainda se ele dissesse alguma coisa compreensível... Há uma historieta por baixo dos signos que o poeta não pode, não conseguiu, pretendeu e não deu certo ou não quis revelar. Esqueceu que toda a palavra tem uma destinação certa, o outro pólo da relação literária: o receptor ávido de fazer o carro andar, de saber pra onde vai. Talvez o criador do texto tenha insistido em pegar o carro do Sol, o carro de Apolo, e esteja a esperar o dia seguinte...
– Do livro DICAS SOBRE POESIA, 2009/10.
http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/2534848