O POEMA ÉPICO-HISTÓRICO

Em 20 de agosto de 2010, 15h38min, Genesio Seixas, seixas.gm@terra.com.br escreveu:

Prezado Joaquim Moncks. Boa tarde.

Como o senhor teve oportunidade de ver, Jales tenta resgatar parte da memória materializada por fotos, mimos e peças expostas em nosso museu improvisado. Existem alguns subsídios para se chegar à história oficial da cidade estando alguns deles em meus três livros produto de pesquisas que vêem do tempo de infância. Como pioneiro, com 75 anos e escritor bissexto, tenho fornecido alguns textos para os jornalistas que correm atrás de matérias por ocasião do aniversário da cidade. Só nessa ocasião.

Para fugir da mesmice, no último evento mudei o estilo e fiz esse metapoema(?) do qual recebi uma só crítica, meio duvidosa: diz um poeta com seus exageros que se trata de um poema épico. Será? Fiquei me perguntando. Em se falando de metapoema, o senhor já percebeu que li e enquadrei-me em sua interrogação “Inquietude e turbulência?”, texto que aparece na página 262 de seu livro, com o qual me obsequiou há alguns dias.

Por não ter como me auto-avaliar, gostaria de conhecer a sua opinião e orientação sobre a apresentação do conteúdo histórico “Jales em versos”. Seria esse o título apropriado? Fiquei deveras tentado ao ver como o senhor abordou o assunto com concisão, franqueza e ensinamento. É disso que precisamos: conhecer a qualidade do que fazemos, seja ela qual for.

Desde já agradeço sua atenção com um fraterno abraço.

Genésio Seixas: (l7-36321421).

De Joaquim Moncks: joaquimmoncks@gmail.com

Para Genesio Seixas: seixas.gm@terra.com.br

“JALES EM VERSOS

(ontem e hoje)

Genésio M Seixas

Terra medonha – vida arriscada,

febre-amarela, maleita e paludismo

Eis sertão que até parece,

se não me falta o respeito,

que Deus o fez e abandonou.

Poucos braços, muito trabalho.

Tanta garra de pioneiros valentes.

Cadê a estrada, jovem Athaydes?

Lá vem chegando o caminhão

trazendo gente nova dos confins.

O engenheiro com teodolito traça planos

Seu tio Duquinha na coordenação

Vai desmatando minha gente,

com nossa missão povoadora.

Uma cidade há de nascer.

Arriba aos céus a madeira santa.

Disparos de carabina assustam feras.

– Viva Jales, hoje é abril!

– Viva! Mas não vejo casas “seo dotô”.

Muito falta prá festejar.

Clareira se abre no matagal,

ligada à boiadeira civilizadora

e, no alinhamento topográfico,

novos ranchos se alevantam.

Barracos, capela e coreto.

Com sacrifício e coragem surgiu

o desacreditado patrimônio caçula.

Vamos já buscar o “seo” vigário,

agora pode-se comemorar

dessa princesa o primeiro ano.

Jales desafia e cresce

com destaque araraquarense.

Torna-se centro de região.

Com quatro anos vira distrito.

Chega a vez da emancipação.

Com a Escola funcionando.

Olhos voltados à educação.

Lidas agrícolas e pastoris

muitos nós a serem desatados

nessa etapa progressista.

Homens do campo e citadinos

Melancólicos destemidos a batalhar

em busca de novas conquistas:

estradas rodoviárias em cruzamento;

a maria-fumaça vem apitando

Talentos democráticos em evidência.

O governo do Estado é Garcez

Aqui, Euphly é o prefeito.

– O que falta fazer agora, dotô?

– Virá a Comarca por desfecho.

Nossa terra não é mais aquela.

A água brotou cristalina do solo,

nas nascentes do Maribondo

Virou nossa amiga a Natureza

e o jalesense corresponderá.

Cidade pacífica e ordeira

Nada de elementos fora da lei.

Os jagunços já se foram

A Justiça é quem domina.

Trabalho, liberdade e cidadania.

Cá´stamos triunfantes

nessa aldeia sem fidalgo

dos taciturnos de outrora

aos homens e livros de Lobato

sob o manto da cultura

Assim é Jales hodierna,

braços abertos à sua espera.

Juntem-se à nós os companheiros

que unidos construiremos

em prol da Pátria e de São Paulo".

Data: 22 de agosto de 2010, 13h32min.

Assunto: Literatura

Enviado por: gmail.com

Genésio, querido confrade!

Agradeço a tua presença e a de tua esposa, na palestra a meu cargo, ocorrida no dia 17 passado, na Casa do Poeta e do Escritor de Jales/SP, tendo como público-alvo os acadêmicos de Letras da UNIJALES.

Reitero o que te disse, há pouco, por telefone, o que me causou alegria e reforça o apreço pelo novo amigo.

Publica o teu belo poema que tem como tema o memorialismo histórico sobre Jales. Está bem construído. Trata-se de um poema em prosa, com rarefeitas metáforas, característica formal deste tipo de expressão.

O épico-histórico sobre um episódio recente e curto quanto à sua temporalidade, como é o caso, é naturalmente prosaico. Porém se o pode contar em forma e fundo poéticos. Conta-se uma história curta, sintética, aproveitando-se a sugestionalidade do receptor, que, se cair no gosto popular, o intérprete vai popularizar o escrito pela oralidade, diferentemente do que ocorre com a narrativa, que normalmente acaba por ser referida nos livros como referencial histórico localista, mormente no caso de uma jovem cidade como Jales e seus apenas 69 anos de construção historiográfica.

Em teu poema não se encontra, a rigor, um exemplar de metapoesia, porque exatamente lhe falta a utilização de figuras de linguagem, notadamente a metáfora profunda, polivalente, no dizer de Massaud Moisés, Professor da USP, em seu "A CRIAÇÃO LITERÁRIA".

Obrigado por referires o meu livro "CONFESSIONÁRIO - Diálogos entre Prosa e Poesia", como fonte para tipificar a tua inquietação e turbulência. Percebo que, tal como o que ocorre comigo, és um condenado a pensar e a dizer o que pensas.

Fico feliz porque encontrei um de meus iguais e fico orando para que os teus 75 anos te façam cada vez mais sábio, num país de poucos leitores e de minimíssimos escribas com obras publicadas.

Atrevo-me a dizer que sempre seremos poucos enquanto não mudar o atual (e histórico) estado de coisas: país que não possui leitores não estimula a sua plêiade de intelectuais a escrever, principalmente devido aos altos custos de qualquer edição e a precariedade de distribuição das obras nas poucas livrarias de um país de mais de duzentos milhões habitantes e que, curiosamente, tem similar número de telefones celulares.

Na América Latina, como um todo – e o Brasil a isso não escapa – a regra é o golpe e a democracia é uma exceção. Consequentemente, os que pensam, tanto nos períodos de ditadura, como na excepcionalidade democrática (como a que estamos vivendo) são uma pedra no sapato dos eventuais governantes. Os dirigentes não sabem conviver com a crítica e acabamos por ser tachados como "inimigos pessoais".

Deus te guarde e te conserve para o bem de todos nós. Jales e a região têm em teu espírito um bom contador de histórias. As gerações futuras saberão te reverenciar.

Abraços muito fraternos do Joaquim Moncks, Coordenador Executivo da Casa do Poeta Brasileiro - POEBRAS Nacional.

http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/2453649