É MAIS FÁCIL NARRAR E DESCREVER
Corria o ano de 1987, eu no meu carro nas segundas, quartas e sextas-feiras ia até a Escola de Formação de Cabos e Soldados, ministrar aulas de comunicações para várias turmas de soldados, dos 9, 11, 15 e 17 Batalhões, duas delas de soldados femininos.
Não havia remuneração, pois diziam que estava no rol das atribuições dos oficiais, assim eu escapava, pelo menos durante estes dias, das caminhadas e acompanhamento das intermináveis passeatas que aconteciam no Centro de Porto Alegre.
A matéria - Comunicações tinha uma carga horária de 20 horas-aula, muito pouco para o aprendizado do dialogar pela rede rádio, onde muitas vezes passando de cem usuários compartilhando o mesmo canal e assim exigindo disciplina e padronização rígidas.
O mais interessante era o aprendizado da produção sintética da história de cada ocorrência e assim transmiti-la pela rede rádio, respondendo as consagrados questionamentos:
- Quem são os participantes (vítima(s), autor(es) e testemunha(s)) ?
- O quê (roubo, furto, acidente, homicídio, objetos)?
- Quando (data e horário mais provável)?
-Onde (local do fato)?
- Como (maneira como o ato foi realizado)?
- Quanto (alguns autores orientavam a estimativa e informação de algum valor, se houvesse)?
O questionamento - por quê? ficava reservado à conclusão da investigação, portanto irrelevante na transmissão da ocorrência pela rede.
Montar o relato era facilitado pelo documento (boletim) que apresentava os questionamentos a serem respondidos em espaços padronizados para escrever, ficando em aberto o histórico redigido no calor dos fatos, mas sempre sob a vigilância para manter no condicional as atitudes dos participantes, para não deixar transparecer que o agente estava no local do acontecido ou tomara parte dele.
Quanto mais ocorrências atendidas, mais aguçada a capacidade de síntese do patrulheiro.
Se narrar e descrever vai ficando mais fácil a cada conta acrescentada ao rosário de ocorrências atendidas, interpretar as informações e transformá-las em conteúdo dissertativo exigirá perícias e análises de depoimentos, portanto sendo temerário concluir tendo somente os elementos básicos do acontecido.